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Lei americana reforça patrocínio a "liberdade" no Irã
Iraque ganhou texto parecido em 1998, que em 2003 seria usado como base para a invasão do país pelos EUA
Autor do projeto diz que não apóia intervenção armada, mas espera que apoio à oposição leve a "revolução de veludo" contra aiatolás
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Ao apagar das luzes do atual
Congresso norte-americano,
na manhã de sábado último e
sem alarde, uma das últimas
leis aprovadas pelo Senado foi o
"Iran Freedom and Support
Act", a Lei pela Liberdade do e
de Apoio ao Irã. O texto não recebeu modificações em relação
ao que havia sido mandado pela
Câmara e foi assinado em cerimônia discreta pelo presidente
George W. Bush.
Basicamente, declara que a
política dos EUA em relação
àquele país deve ser de "apoio
aos esforços do povo iraniano
para exercer a autodeterminação sobre a forma de governo
de seu país" e "aos grupos de direitos humanos independentes
e forças pacifistas pró-democracia no Irã". Para tanto, o presidente pode dar "ajuda financeira e política" para "indivíduos, organizações e entidades,
estrangeiros ou locais", que
apóiem a democracia no Irã.
O uso de propaganda como
transmissões de rádio e TV "livres" é encorajado, como acontece hoje em relação a Cuba,
mas o uso da força é vetado, seja
pelo governo norte-americano,
seja pelos grupos que este venha a apoiar. Lei parecida, no
entanto, foi aprovada em 1998
em relação ao Iraque, texto que
cinco anos depois seria usado
pela atual administração como
uma das bases legais para a invasão daquele país.
Rick Santorum, o republicano pelo Estado da Pensilvânia
que foi o proponente da lei no
Senado, disse que não é a favor
de uma nova invasão dos EUA
no Oriente Médio, mas que sonha que as ações da oposição
iraniana, se devidamente
apoiadas pelos EUA, possam
resultar "numa revolução de
veludo semelhante ao colapso
do comunismo na Europa
oriental ou ao triunfo da democracia na Ucrânia".
A lei, originalmente proposta
na Câmara dos Representantes
por Ileana Ros-Lehtinen, a
mesma republicana da Flórida
que aprovou moção antiterror
que mirava a Tríplice Fronteira
(Brasil-Argentina-Paraguai),
também prevê punição de empresas norte-americanas cujos
investimentos no Irã possam
ajudar o desenvolvimento do
programa nuclear do país.
Halliburton
Antes da aprovação, a oposição democrata tentou ampliar
a punição para todas as empresas norte-americanas ou subsidiárias que tivessem investimento no Irã, mas encontrou
resistência republicana. Em
entrevista coletiva, o senador
Frank Lautenberg e a deputada
Allyson Schwartz, ambos democratas, diriam que o motivo
do abrandamento tem nome:
Halliburton.
As subsidiárias da gigante do
petróleo, que já teve o vice-presidente Dick Cheney no comando e é uma das principais
beneficiárias de contratos do
governo norte-americano no
Oriente Médio, têm negócios
com o governo do Irã. Santorum nega que os interesses da
empresa tenham tido qualquer
peso nesse aspecto da lei.
O Departamento de Estado
também nega que a lei seja uma
declaração de apoio dos EUA à
mudança de regime no país.
"Em primeiro lugar, estamos
felizes com a aprovação da lei",
disse Tom Casey, vice-porta-voz do departamento, em encontro com jornalistas estrangeiros anteontem. Para ele, a lei
"deixa claro o interesse dos
EUA em promover uma mudança democrática no Irã".
A lei é mais um capítulo no
xadrez que a administração de
Bush joga com o regime dos
aiatolás e que alguns analistas
políticos temem que possa escalar para um confronto armado. Em abril, Patrick Clawson,
diretor do Instituto para a Estratégia do Oriente Médio, confirmou a existência de um plano na Casa Branca para mudança de regime" no Irã.
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