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Cristina copia programa eleitoral do marido
Plataforma enviada por presidenciável argentina à Justiça é praticamente idêntica à usada por Néstor Kirchner em 2003
Plano omite temas urgentes no país vizinho como alta da inflação e crise energética; ministro diz que exigência torna projetos "ridículos"
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
A primeira-dama e candidata
favorita à Presidência da Argentina, Cristina Fernández de
Kirchner, promete dosar mudança e continuidade caso seja
eleita no dia 28 para suceder o
marido, Néstor Kirchner. Mas,
a julgar pela plataforma eleitoral de sua coligação, a continuidade será absoluta.
A legislação eleitoral argentina obriga partidos que têm candidatos presidenciais a apresentarem uma plataforma eleitoral à Justiça. Conforme revelou ontem o jornal "La Nación",
o documento apresentado pela
governista Frente para a Vitória é uma cópia quase idêntica
do texto apresentado por
Kirchner em 2003 -incluindo
promessas de campanha que
foram cumpridas no governo
do atual presidente.
O documento, de quatro páginas, só teve dois itens suprimidos em relação a seu equivalente de 2003: um deles, a remoção de integrantes da Corte
Suprema de Justiça, foi concretizado por Kirchner; outro, a
defesa da instauração de um
"recall" para os mandatos eleitorais, não foi implementado.
O cuidado para remover o
item da Corte Suprema, porém,
não foi repetido com outros
pontos do texto; a plataforma
de Cristina prega a reforma do
Conselho de Magistratura, a
criação de uma escola judicial e
o pagamento da dívida do país
com o FMI -todas medidas já
levadas a cabo por Kirchner.
Além disso, o texto insiste em
promessas que Kirchner não
cumpriu e que contradizem
frontalmente a prática adotada
por seu governo, como a defesa
de que sejam obrigatórias as
eleições primárias dentro dos
partidos para a escolha dos candidatos -prática que não foi
adotada para a escolha de Cristina como candidata à sucessão- e a transparência do financiamento de campanhas eleitorais -o uso de verbas do
governo para a campanha da
senadora/primeira-dama foi
alvo de uma denúncia na Justiça. Repete também outras propostas que por enquanto ficaram só no papel, como a de reforma do Estado e a defesa do
aumento dos dias letivos.
Sem inflação e energia
O site da Frente para a Vitória ainda exibe como plataforma eleitoral a versão original,
que inclui as propostas sobre a
Corte Suprema e o "recall", e
convida os eleitores a fazerem
propostas complementares.
Apesar disso, o texto apresentado pelo partido à Justiça
não traz nenhuma novidade e
não se manifesta sobre temas
urgentes hoje, como a crescente inflação e a crise energética.
Em 2003, além da plataforma obrigatória por lei, Kirchner apresentou um plano de
governo de 152 páginas. Neste
ano, Cristina ainda não apresentou o seu, ao contrário de
seus principais opositores, Roberto Lavagna e Elisa Carrió.
A repetição da plataforma
desatualizada foi minimizada
pelo ministro do Interior, Aníbal Fernández, um dos maiores
defensores da candidatura de
Cristina. "A plataforma é um
papel ridículo, escrito quem sabe por quem, uma cartilha que
os partidos entregam", disse.
"Temos uma candidata que faz
parte de um grupo político que
governa o país e que vai seguir o
mesmo caminho."
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