São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Cristina copia programa eleitoral do marido

Plataforma enviada por presidenciável argentina à Justiça é praticamente idêntica à usada por Néstor Kirchner em 2003

Plano omite temas urgentes no país vizinho como alta da inflação e crise energética; ministro diz que exigência torna projetos "ridículos"

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

A primeira-dama e candidata favorita à Presidência da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, promete dosar mudança e continuidade caso seja eleita no dia 28 para suceder o marido, Néstor Kirchner. Mas, a julgar pela plataforma eleitoral de sua coligação, a continuidade será absoluta.
A legislação eleitoral argentina obriga partidos que têm candidatos presidenciais a apresentarem uma plataforma eleitoral à Justiça. Conforme revelou ontem o jornal "La Nación", o documento apresentado pela governista Frente para a Vitória é uma cópia quase idêntica do texto apresentado por Kirchner em 2003 -incluindo promessas de campanha que foram cumpridas no governo do atual presidente.
O documento, de quatro páginas, só teve dois itens suprimidos em relação a seu equivalente de 2003: um deles, a remoção de integrantes da Corte Suprema de Justiça, foi concretizado por Kirchner; outro, a defesa da instauração de um "recall" para os mandatos eleitorais, não foi implementado.
O cuidado para remover o item da Corte Suprema, porém, não foi repetido com outros pontos do texto; a plataforma de Cristina prega a reforma do Conselho de Magistratura, a criação de uma escola judicial e o pagamento da dívida do país com o FMI -todas medidas já levadas a cabo por Kirchner.
Além disso, o texto insiste em promessas que Kirchner não cumpriu e que contradizem frontalmente a prática adotada por seu governo, como a defesa de que sejam obrigatórias as eleições primárias dentro dos partidos para a escolha dos candidatos -prática que não foi adotada para a escolha de Cristina como candidata à sucessão- e a transparência do financiamento de campanhas eleitorais -o uso de verbas do governo para a campanha da senadora/primeira-dama foi alvo de uma denúncia na Justiça. Repete também outras propostas que por enquanto ficaram só no papel, como a de reforma do Estado e a defesa do aumento dos dias letivos.

Sem inflação e energia
O site da Frente para a Vitória ainda exibe como plataforma eleitoral a versão original, que inclui as propostas sobre a Corte Suprema e o "recall", e convida os eleitores a fazerem propostas complementares.
Apesar disso, o texto apresentado pelo partido à Justiça não traz nenhuma novidade e não se manifesta sobre temas urgentes hoje, como a crescente inflação e a crise energética.
Em 2003, além da plataforma obrigatória por lei, Kirchner apresentou um plano de governo de 152 páginas. Neste ano, Cristina ainda não apresentou o seu, ao contrário de seus principais opositores, Roberto Lavagna e Elisa Carrió.
A repetição da plataforma desatualizada foi minimizada pelo ministro do Interior, Aníbal Fernández, um dos maiores defensores da candidatura de Cristina. "A plataforma é um papel ridículo, escrito quem sabe por quem, uma cartilha que os partidos entregam", disse. "Temos uma candidata que faz parte de um grupo político que governa o país e que vai seguir o mesmo caminho."


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