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Costa Rica vota livre comércio com EUA
Em 1º referendo da história do país, população dividida decide se ratifica acordo fechado com americanos em 2004
Tratado inclui abrir mercado
de telecomunicações e seguro; EUA disseram que, se for rejeitado, não há perspectiva de renegociação
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Orgulhosa de sua tradição
democrática e polarizada como
há muito não se via, a Costa Rica decidirá amanhã, em referendo, se ratifica ou não o TLC
(Tratado de Livre Comércio)
assinado com os EUA em 2004.
O resultado é incerto, mas as
últimas pesquisas apontam
vantagem para o "não".
Deflagrada em julho, a campanha para o referendo eletrizou o país centro-americano de
4 milhões de habitantes. O governo de centro-direita de Oscar Arias encabeça a campanha
pelo "sim" junto a empresários
e setores acadêmicos, enquanto sindicatos, acadêmicos e até
o colegiado de bispos da Igreja
Católica se opõem ao acordo.
O engajamento do governo
fez com que a votação se transformasse em julgamento da
gestão Árias e embate entre a
direita e a esquerda, no que
analistas dizem que ajudou a
turvar a discussão técnica de
um tema com profundo impacto econômico e que pode mudar a relação do país com seus
vizinhos.
A Costa Rica é o único país do
chamado Cafta-DR, o acordo
de livre comércio dos EUA com
países da região, que ainda não
ratificou o tratado. Nicarágua,
Guatemala, Honduras, El Salvador e República Dominicana
já estão no sistema.
À época, o Cafta foi considerado uma vitória da Casa Branca na região e o primeiro passo
da estratégia dos EUA para implantar, de maneira fatiada, a
Alca (Área de Livre Comércio
das Américas).
O referendo, o primeiro da
história do país de 60 anos de
vida democrática ininterrupta,
foi proposto pelo próprio governo, que enfrentava dificuldades para aprovar o TLC no
Parlamento e assistia à mobilização crescente de grupos de
esquerda que cobravam uma
consulta popular.
A campanha começou com o
"sim" levemente na frente. Mas
nesta semana, após dias de manifestações nas ruas e até debates obrigatórios na TV, o "não"
apareceu com 55% das intenções de voto, ou 12 pontos de
vantagem numa pesquisa publicada pelo maior jornal do
país, o "La Nación".
Argumentos
Os partidários do "sim" defendem que, sem o tratado, a
Costa Rica vai estancar seu
crescimento (foi de 7,9% no
ano passado) e perderá vantagens com os EUA, seu principal
parceiro comercial ( destino de
27,1% das exportações).
Os do "não" argumentam que
as exportações do país já vão
bem sem o tratado, com as vantagens obtidas no programa de
preferências tarifárias para a
região -que expira em 2008.
Defendem, então, renegociar
a parte comercial do TLC e eliminar os seis capitulos mais
polêmicos do acordo, que incluem abertura dos mercados
de telecomunicações -há monopólio estatal com tarifas baixas hoje- e seguros e mudança
na lei de propriedade intelectual, com impacto no mercado
de remédios e restrição futura
para a compra de genéricos.
O problema é que a representante de Comércio da Casa
Branca, Susan Schwab, já afirmou que não há perspectiva de
renegociação. "Os EUA nunca
enfrentaram uma situação na
qual um de nossos parceiros
comerciais rejeite um acordo
recíproco para buscar preferências unilaterais", afirmou.
"É possível renegociar sim.
Isso é pressão política dos EUA.
O acordo com a Colômbia, que
os EUA diziam também que
não iriam renegociar, foi rediscutido no Congresso americano, por pressão da maioria democrata. A Casa Branca deve entender que a correlação de
forças mudou interna e externamente", disse à Folha Jaime
Ordoñez, professor de Teoria
do Estado da faculdade de
Ciências Sociais da Universidade da Costa Rica.
Em cadeia nacional de TV
ontem, Arias afirmou que o
TLC é "a única oportunidade"
do país. "Sem o acordo, estou
de mãos atadas", disse. Ordoñez, porém, duvida que o governo fique paralisado se perder: "É claro que o Arias perde força, mas o Parlamento continua igual, é possível avançar
com outras agendas".
Com agências internacionais
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