São Paulo, terça-feira, 06 de outubro de 2009 |
Próximo Texto | Índice
Micheletti já admite discutir volta de Zelaya
Retorno de presidente deposto hondurenho ao cargo só poderia ocorrer após eleições de 29 de novembro, no entanto
ANA FLOR ENVIADA ESPECIAL A TEGUCIGALPA A dois dias da chegada de chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos) a Honduras para negociar uma saída para a crise política, o governo golpista do presidente Roberto Micheletti recuou e já admite devolver a Presidência a Manuel Zelaya, deposto em 28 de junho. Ontem, Micheletti afirmou que aceita negociar a volta de Zelaya ao poder depois das eleições presidenciais, marcadas para 29 de novembro. Apesar de estar longe do que pede o presidente deposto, a afirmação de Micheletti mostra uma inflexão, fruto da forte pressão interna e externa. Havia poucos dias, ele afirmava que a volta de Zelaya era "inegociável". Em conversas reservadas, integrantes do governo afirmam que o grupo de Micheletti trabalha com duas hipóteses consideradas "moderadas". A primeira seria que uma terceira pessoa assumisse o poder. O nome defendido é o do atual presidente do Congresso, Juan Ángel Saavedra, que assumiu o posto após a posse de Micheletti, de quem é aliado. A segunda possibilidade aceita é a de que Zelaya retorne, mas sem poder. Nas bases desse acordo, o presidente deposto voltaria ao cargo com um gabinete pré-acordado e sem poderes para fazer mudanças nas Forças Armadas, na polícia e na política econômica. Para assessores do atual presidente, não há mais confiança em Zelaya nos meios políticos e empresariais depois de ele ter insistido em promover uma consulta popular sobre a realização de uma Assembleia Constituinte, considerada ilegal por Justiça e Congresso e estopim para a sua deposição. Um auxiliar próximo de Micheletti diz que o governo, apesar de querer uma solução caseira para a crise, aceitou negociar com representantes externos, como OEA, União Europeia e EUA, porque considera essencial que, qualquer que seja a fórmula encontrada, ela tenha reconhecimento internacional, para que medidas tomadas por organismos multilaterais contra Honduras, como a suspensão de financiamentos do Fundo Monetário Internacional, sejam revertidas. Estado de sítio O primeiro sinal de mudança de posição de Micheletti foi a revogação, ontem, do decreto promulgado há uma semana que reduzia liberdades civis no país, proibindo reuniões e permitindo prisões arbitrárias. A revogação era uma exigência da OEA para iniciar as conversas. Sobre a rádio Globo e o Canal 36, veículos pró-Zelaya fechados com base no decreto por "incitarem a insurreição" contra o regime golpista, Micheletti disse que eles deverão ir aos tribunais para resgatar os direitos de transmissão. Micheletti reconheceu que a decisão de retirar Zelaya do país após sua deposição foi "um erro" e prometeu punições, sem no entanto apontar os responsáveis pela decisão. "É uma decisão que foi tomada por alguns setores que serão castigados conforme a lei." Segundo negociadores de Micheletti, o Acordo de San José poderá até ter o nome mantido, mas não será assinado como foi proposto por Óscar Arias, presidente da Costa Rica e mediador do conflito. O texto prevê a volta de Zelaya, anistia para todas as partes e a garantia de que o presidente deposto não tentará promover uma Assembleia Constituinte. Apesar do esforço para resolver a crise com a visita da OEA, fontes do governo Micheletti dizem que as negociações deverão continuar na próxima semana. Qualquer que seja a fórmula encontrada, ela terá de ser ratificada pelo Congresso e pela Suprema Corte. Próximo Texto: Missão do Brasil em Caracas sofre invasão Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |