São Paulo, terça-feira, 06 de outubro de 2009

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Honduras abre crise no Congresso dos EUA

Democratas acusam republicanos de tentar minar política externa de governo Obama com visitas a regime golpista

Ontem, segunda delegação opositora foi a Tegucigalpa; democratas enviam carta a hondurenhos expressando condenação a encontros


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Uma nova visita de um grupo de políticos republicanos ao regime golpista de Honduras aprofundou a crise no Congresso dos EUA em relação à condução da crise hondurenha. A visita, dizem democratas, expõe a tentativa de ingerência do partido de oposição em questões de política externa do governo Barack Obama.
A missão, composta por Ileana Ros-Lehtinen e os irmãos Lincoln e Mario Díaz-Balart, ultraconservadores anticastristas da Flórida, chegou ontem a Tegucigalpa, três dias depois de uma comissão de senadores da oposição liderados por Jim DeMint, da Carolina do Sul, ter ido a Honduras para reunião com o líder do regime golpista, Roberto Micheletti.
Na quinta, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o democrata John Kerry (Massachusetts), tentou sem sucesso bloquear a viagem da comitiva republicana, dizendo que ela visitaria o líder de um regime que o governo Obama condena.
Um grupo de políticos democratas, liderado pelo representante (deputado) Bill Delahunt, mandou carta a seus colegas hondurenhos esclarecendo que tais visitas não representam a visão do Congresso. "Soubemos que vocês receberam visitantes de nosso Congresso que representam o partido minoritário e que expressaram visões que diferem fortemente das do governo do presidente Obama e do Partido Democrata no Congresso", começa o texto.
"Nós acreditamos que o golpe contra o presidente Zelaya foi inconstitucional; a ausência de um presidente legítimo, as violações aos direitos humanos e o cerceamento das liberdades civis são inaceitáveis; e essas condições fazem com que eleições livres e justas em novembro em Honduras sejam impossíveis", continua.
O partido de Obama acusa os republicanos de tentarem minar a posição do presidente também em outras questões de política externa. Os republicanos anunciaram, por exemplo, que mandarão um "esquadrão da verdade" para se contrapor à delegação obamista que irá à conferência de mudança climática de Copenhague.
Será liderado por Jim Inhofe (Oklahoma), que diz que falará aos enviados de outros países que, diferentemente do que possa ser anunciado ali, o Senado americano não tomará nenhuma ação em relação ao tema. Em agosto, o líder da bancada republicana na Câmara, Eric Cantor, foi a Israel dizer que não concordava com a crítica de Obama à expansão dos assentamentos judeus.
Em entrevista ontem em Tegucigalpa, ao lado de Micheletti e segurando a Constituição hondurenha nas mãos, Ileana Ros-Lehtinen dizia: "Este é o governo legítimo; vou dizer a meus colegas que venham a Honduras, [que] não leiam os jornais, a CNN ou qualquer mídia, que venham aqui se encontrar com o governo legítimo e ouvir suas aspirações de uma vida de paz e democracia".

Encontro secreto
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, confirmou que manteve na quarta encontro até então mantido em sigilo com Micheletti, na base militar de Palmerola, em Honduras.
Amanhã, Insulza encabeça nova missão de países-membros da OEA a Honduras. Além do brasileiro Ruy Casaes, comporão a delegação diplomatas de Argentina, Canadá, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Jamaica, México, Panamá e República Dominicana, além de representantes da Espanha e ONU.


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