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DESENVOLVIMENTO
África, América Central e Caribe estão perdendo profissionais qualificados para nações desenvolvidas
"Fuga de cérebros" freia país pequeno e pobre
CELIA DUGGER
DO "NEW YORK TIMES"
Um estudo do Banco Mundial
divulgado na terça-feira revela
que países pobres em toda a África, América Central e Caribe vêm
perdendo para as democracias ricas uma parte às vezes espantosa
de seus profissionais com formação universitária.
De acordo com analistas, o estudo documenta um padrão preocupante de "fuga de cérebros", ou
seja, de evasão de profissionais
qualificados de classe média que
poderiam ajudar a tirar seus países da pobreza. E, embora o efeito
dessa migração ainda não seja
bem compreendido, existe entre
os economistas a impressão de
que ele desempenhe papel crucial
no desenvolvimento dos países.
As descobertas se baseiam num
estudo feito de dados obtidos em
recenseamentos e outros relativos
aos 30 países-membros da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico
(OCDE), que inclui a maioria dos
países mais ricos do mundo.
O estudo constatou que entre
um quarto e quase a metade dos
profissionais de nível universitário de países pobres como Gana,
Moçambique, Quênia, Uganda e
El Salvador vivem no exterior, em
países-membros da OCDE. No
caso do Haiti e da Jamaica, essa
parcela sobe para mais de 80%.
Enquanto isso, menos de 5%
dos profissionais mais qualificados dos países mais avançados do
mundo em desenvolvimento, como Índia, China, Indonésia e Brasil, vivem num país que faz parte
da OCDE.
De acordo com o pesquisador
do Banco Mundial Frederic Docquier, economista da Universidade de Louvain, na Bélgica, esse padrão sugere que a fuga extensa de
pessoas de alto nível de instrução
está prejudicando muitos países
pequenos a médios, enquanto os
maiores países em desenvolvimento se mostram mais capazes
de superar perdas relativamente
menores de talentos -e até mesmo beneficiar-se delas quando
seus profissionais qualificados retornam a seus países de origem ou
investem neles.
"Um país que tem um terço de
seus diplomados no exterior é
motivo de preocupação", disse
Alan Winers, diretor do grupo de
pesquisas em desenvolvimento
do Banco Mundial.
Publicado em livro intitulado
""International Migration, Remittances & the Brain Drain" (migração internacional, remessas e a
fuga de cérebros), o estudo do
Banco Mundial vem suscitando
debates. O economista Mark Rosenzweig, da Universidade de Yale, argumenta que a medição do
fenômeno feita pelo banco é exagerada porque não exclui imigrantes que se mudaram para países ricos quando ainda eram
crianças ou que fizeram seus estudos universitários nesses países.
Círculo vicioso
Alguns especialistas indagam se
a fuga de cérebros não pode mover um círculo vicioso descendente de subdesenvolvimento, afastando dos países pobres as pessoas com vontade e know-how
necessários para resistir à corrupção e à governança incompetente.
Em seu livro "Give Us Your Best
and Brightest" (dê-nos suas melhores cabeças), lançado na semana passada pelo Centro de Desenvolvimento Global, em Washington, Devesh Kapur e John McHale
argumentam que a perda dos
construtores de instituições
-administradores hospitalares,
chefes de departamentos universitários e reformistas políticos,
entre outros- pode ajudar a atolar os países na pobreza. "Não é
apenas a perda dos profissionais,
mas também a perda de uma classe média", explicou Kapur, que é
professor de governo na Universidade do Texas em Austin.
A questão de o que pode ser feito para reduzir os danos é complexa e envolve problemas difíceis
relativos à limitação ou não da
migração de profissionais qualificados. Muitos especialistas dizem
opor-se aos esforços para limitar
a movimentação de migrantes,
mas discutem possíveis maneiras
de ajudar os países pobres a enfrentar o problema. Uma idéia
que Bhagwati propôs pela primeira vez nos anos 70 -que os países
em desenvolvimento cobrem impostos de seus profissionais que
se fixam em outros países- está
voltando a ser aventada.
Os editores do livro do Banco
Mundial dizem que talvez sejam
necessárias políticas que aumentem a renda dos profissionais em
seus países de origem.
Outros, entre eles Kapur e
McHale, que é economista na escola de administração de empresas da Universidade de Queens,
em Kingston (Canadá), sugerem
que os países ricos deveriam estudar a possibilidade de conceder
vistos por prazos limitados, com
os quais os profissionais poderiam trabalhar nos países ricos
por alguns anos antes de levar
seus conhecimentos -e suas economias- de volta a seus países.
Kapur disse que, quando um
imigrante qualificado obtém um
visto para trabalhar num país rico, é como se ganhasse na loteria,
tão grande é o aumento de renda
que ele poderá conseguir com a
transferência. Seja qual for a abordagem adotada, disse ele, é preciso pesar os benefícios obtidos pelos poucos que têm a sorte de partir contra os custos de sua saída
para seus compatriotas que permanecem em seus países.
Tradução de Clara Allain
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