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Invasões de terra foram lideradas por facções armadas pró-governo
DA REDAÇÃO
As invasões de fazendas pertencentes a brancos de origem britânica, que agitaram o Zimbábue
no início desta década, não foram
orquestradas nem realizadas por
pobres camponeses negros, cujo
acesso às terras férteis foi negado
pelos colonizadores britânicos,
mas por facções armadas com objetivos políticos precisos.
À primeira vista, os invasores,
que também contavam em suas
fileiras com uma minoria de negros sem terra, entoavam hinos
anticolonialistas. Algo que seria
normal, pois, em 2000, 30% das
terras produtivas estavam nas
mãos de cerca de 4.500 fazendeiros brancos, num país de menos
de 13 milhões de habitantes.
Desde então, a maioria foi tomada por aliados do governo ou
entrou no programa de reforma
agrária organizado pelo poder
central, cujo principal instrumento são as "expulsões forçadas".
Entretanto, como enfatizou o
professor da Universidade Harvard (EUA) Robert Rotberg, em
entrevista à Folha, "o presidente
Robert Mugabe negava ter ordenado as ocupações de fazendas,
mas os invasores chegavam às
propriedades que seriam tomadas em veículos pertencentes à
Zanu-PF (partido que está no poder desde a independência do
Zimbábue, em 1980), com alimentos, dinheiro e instruções que
recebidos diretamente de funcionários do governo, via celulares".
De acordo com a versão oficial,
veteranos da guerra de independência que dirigiram o movimento de tomada de fazendas de
brancos em seu início. O então líder dos veteranos, Chenjerai "Hitler" Hunzvi, chegou até mesmo a
ser considerado culpado de instigar as ocupações ilegais, em maio
de 2000, pela Alta Corte do país,
mas não foi preso.
Entretanto membros de organizações de defesa dos direitos humanos e correspondentes internacionais que se encontravam no
Zimbábue durante as invasões,
em 2000, e no início das "expulsões forçadas", em 2002, são unânimes em dizer que os invasores
de fazendas eram jovens demais
para ter participado da guerra de
independência, acabada em 1979.
Segundo Rotberg, a questão
agrária foi um dos temas grandes
da conferência de Lancaster House (Reino Unido, 1980), que propiciou a independência do Zimbábue do jugo colonial britânico.
"Houve certa redistribuição da
terra desde então, no entanto só o
alto escalão da Zanu-PF lucrou
com ela. Os pobres não tiveram
acesso à suposta reforma agrária,
promovida desde que Mugabe
chegou ao poder."(MSM)
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