São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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Invasões de terra foram lideradas por facções armadas pró-governo

DA REDAÇÃO

As invasões de fazendas pertencentes a brancos de origem britânica, que agitaram o Zimbábue no início desta década, não foram orquestradas nem realizadas por pobres camponeses negros, cujo acesso às terras férteis foi negado pelos colonizadores britânicos, mas por facções armadas com objetivos políticos precisos.
À primeira vista, os invasores, que também contavam em suas fileiras com uma minoria de negros sem terra, entoavam hinos anticolonialistas. Algo que seria normal, pois, em 2000, 30% das terras produtivas estavam nas mãos de cerca de 4.500 fazendeiros brancos, num país de menos de 13 milhões de habitantes.
Desde então, a maioria foi tomada por aliados do governo ou entrou no programa de reforma agrária organizado pelo poder central, cujo principal instrumento são as "expulsões forçadas".
Entretanto, como enfatizou o professor da Universidade Harvard (EUA) Robert Rotberg, em entrevista à Folha, "o presidente Robert Mugabe negava ter ordenado as ocupações de fazendas, mas os invasores chegavam às propriedades que seriam tomadas em veículos pertencentes à Zanu-PF (partido que está no poder desde a independência do Zimbábue, em 1980), com alimentos, dinheiro e instruções que recebidos diretamente de funcionários do governo, via celulares".
De acordo com a versão oficial, veteranos da guerra de independência que dirigiram o movimento de tomada de fazendas de brancos em seu início. O então líder dos veteranos, Chenjerai "Hitler" Hunzvi, chegou até mesmo a ser considerado culpado de instigar as ocupações ilegais, em maio de 2000, pela Alta Corte do país, mas não foi preso.
Entretanto membros de organizações de defesa dos direitos humanos e correspondentes internacionais que se encontravam no Zimbábue durante as invasões, em 2000, e no início das "expulsões forçadas", em 2002, são unânimes em dizer que os invasores de fazendas eram jovens demais para ter participado da guerra de independência, acabada em 1979.
Segundo Rotberg, a questão agrária foi um dos temas grandes da conferência de Lancaster House (Reino Unido, 1980), que propiciou a independência do Zimbábue do jugo colonial britânico.
"Houve certa redistribuição da terra desde então, no entanto só o alto escalão da Zanu-PF lucrou com ela. Os pobres não tiveram acesso à suposta reforma agrária, promovida desde que Mugabe chegou ao poder."(MSM)

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