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Xadrez de Obama deixou McCain sozinho no ringue
Democrata venceu ao abandonar tática tradicional e focar todos os 50 Estados, enquanto adversário insistia em ataques negativos
Ao fazer isso, candidato
vitorioso obrigou o rival
republicano a gastar para se
defender e chegou à eleição
com 16 Estados em disputa
DO ENVIADO A CHICAGO
Anteontem, no começo da
tarde em Chicago, enquanto o
mundo esperava o resultado
das urnas da eleição presidencial mais longa e surpreendente da história recente dos Estados Unidos, Barack Obama fazia o que sempre faz nos dias de
decisão: jogava basquete com
seu assessor pessoal, Reggie
Love, e um grupo de amigos
num ginásio no oeste da cidade.
Horas depois, ele saberia que
marcou uma cesta de três pontos na corrida eleitoral, ao bater
o republicano John McCain.
Obteve a vitória ao praticar outro esporte. No seu longo, paciente e planejado caminho até
a vitória de ontem, o senador
democrata usou os 50 Estados
do país para jogar xadrez, enquanto seu oponente insistia
em lutar boxe sozinho.
Obama revolucionou a maneira de fazer campanha nos
EUA. Antes mesmo de ser escolhido candidato, em agosto, jogou fora o livro de regras bipartidário segundo o qual, para
vencer a complicada série de
eleições estaduais simultâneas
que é a corrida pela Casa Branca, o competidor parte da base
deixada por seu antecessor e
rouba um ou dois Estados do
outro, em geral Ohio e Flórida.
Em 2004, John Kerry venceu
em 19 Estados e Washington.
Perdeu o eterno pêndulo Ohio
para George W. Bush por uma
diferença inferior a 120 mil votos. O natural seria Obama seguir essa trilha segura. Em vez
disso, atacou inicialmente nos
50 Estados, abrindo 770 escritórios de campanha no país.
Um deles reunia quatro pessoas em Omaha, em Nebraska,
ao lado da sede do quartel-general do conglomerado de empresas do bilionário Warren
Buffett. Com exceção de 1964, o
Estado não vota em um candidato democrata desde 1940.
"Nossa estratégia principal
na eleição geral foi colocar um
número suficiente de Estados
em jogo para ter várias opções
diferentes para vencer a disputa", explicou o gerente da campanha obamista, David Plouffe.
"Dessa maneira, não chegaríamos ao dia da votação dependendo de só um Estado."
É a "Jogada Obama": 16 Estados chegaram anteontem sendo considerados "campos de
batalha", entre eles dez vencidos por Bush em 2004. Isso
obrigou McCain a se defender
em lugares até o começo do ano
considerados republicanos.
Em superioridade financeira, Obama inundou as TVs do
país inteiro com anúncios políticos, que lhe custaram US$
230 milhões, outro recorde.
Enquanto isso, McCain insistia na Jogada Karl Rove de ataques negativos e tática do medo, técnicas que não têm efeito
na nova geração ou foram superadas pela crise econômica.
Claro que isso só foi possível
graças ao resultado da inovação
anterior dos obamistas, durante as primárias, em que a campanha pulverizou via internet
as arrecadações entre pequenos doadores, que mantiveram
um fluxo constante. Era o rompimento com outra prática anterior, na qual o casal Clinton
foi o expoente, de arrecadar
muito de poucos. Em 22 meses,
Obama levantou US$ 660 milhões -US$ 10 por voto.
É certo que quase metade
veio de doadores tradicionais,
mas esses só começaram a abrir
o bolso em fevereiro, após a Superterça -quando ocorreram
prévias partidárias em mais de
20 Estados-, quando ficou claro que Obama seria candidato.
A pulverização, aliada ao exército jovem de voluntários, foi
tentada em 2000 por Howard
Dean, e Kerry também bateu
recordes de arrecadação em
2004. Dessa vez, porém, o "produto" era melhor -e a crise
econômica, a pior em décadas.
Obama chegou à reta final
amparado por uma coalizão fiel
de eleitores novos, novos eleitores e minorias, para a qual se
vendia como candidato "pós-racial" e "desse milênio". O resto do eleitorado veio embalado
pelo derretimento dos mercados, sob a guarda de um presidente extremamente desgastado. Contados os votos, ampliou
a base de Kerry de 19 Estados
para 27 Estados. É o que se chama de "landslide" -uma lavada.
(SÉRGIO DÁVILA)
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