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Na contramão, Moscou faz ataques frontais aos EUA
Em seu primeiro discurso do estado da nação, líder russo não cumprimenta Obama
Dmitri Medvedev anuncia que colocará mísseis de curto alcance em encrave no mar Báltico para neutralizar sistema norte-americano
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A Rússia demonstrou ontem
que, ao contrário de boa parte
do planeta, não está interessada em uma lua-de-mel com o
novo governo americano.
Em seu primeiro discurso sobre o estado da nação desde que
assumiu, em maio, o presidente
Dmitri Medvedev fez ataques
frontais ao EUA e anunciou que
colocará mísseis de curto alcance em um encrave no mar
Báltico, perto da Polônia, país
que pertenceu à órbita soviética e hoje faz parte da Otan
(aliança militar ocidental).
O objetivo, disse Medvedev, é
"neutralizar" o sistema de defesa que os EUA pretendem estender ao Leste Europeu, com
mísseis na Polônia e radares na
República Tcheca. Embora o
governo Bush diga que a finalidade é proteger os EUA e seus
aliados de ataques de países como o Irã, a Rússia considera-se
o alvo do programa e o vê como
um ato de hostilidade aberta.
No discurso, feito poucas horas após a confirmação da vitória de Barack Obama, Medvedev não cumprimentou o presidente eleito, limitando-se a dizer que espera que o novo governo "opte por relações completas com a Rússia".
Em uma mensagem enviada
mais tarde a Obama, ele diz que
as relações entre Rússia e EUA
"historicamente" sempre foram um fator de estabilidade
para o mundo e que está aberto
a um "diálogo construtivo".
No discurso, porém, o tom foi
de confronto. Medvedev lamentou que "um evento local
extraordinário" nos EUA tenha
causado uma crise financeira
global e culpou Washington pela guerra na Geórgia, em agosto. "O conflito no Cáucaso foi
usado como um pretexto para
enviar navios de guerra da Otan
ao mar Negro", disse, atacando
a "arrogância" da Casa Branca.
Para muitos analistas, o tom
duro logo após a eleição não
chega a ser surpresa. Apenas
dão continuidade à estratégia
ditada pelo premiê Vladimir
Putin, que mesmo depois de
deixar a presidência mantém
enorme influência no Kremlin.
Antecipando-se a uma futura
negociação com o novo governo americano, Moscou busca
fortalecer sua posição e mostra
que não está disposto a ceder
terreno na Europa ao antigo
inimigo da Guerra Fria.
"É uma resposta há muito esperada à tola decisão de Bush
de estender o escudo antimísseis à Polônia e à República
Tcheca", disse à Folha Walther
Stützle, ex-secretário de Defesa alemão. Mas ele prevê que
Obama promoverá uma distensão nas relações com Moscou ao integrar os planos de defesa americanos à estrutura da
Otan. "Além disso, a tendência
é que ele busque o diálogo."
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