São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

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Acordo sobre Itaipu causa desgaste a Lugo

DA REPORTAGEM LOCAL

Três meses após fechar acordo com o Brasil que dá ao Paraguai maiores benefícios sobre a usina hidrelétrica binacional de Itaipu, o presidente Fernando Lugo ainda não tem ganhos concretos a capitalizar, porque a proposta nem sequer chegou ao Congresso brasileiro.
Após basear sua campanha na promessa de "resgatar a soberania" paraguaia sobre a usina, Lugo apresentou o acordo fechado em julho com Lula como o grande feito de sua gestão.
Mas os paraguaios tiveram que ceder ao aceitar que as mudanças -venda da energia excedente do Paraguai para o mercado livre brasileiro e a triplicação da compensação brasileira pelo uso da energia paraguaia- fossem submetidas aos Congressos dos dois países.
Enquanto o Congresso paraguaio finalizou ontem a aprovação do acordo, com aval dos deputados, o governo brasileiro ainda não enviou projeto sobre o tema ao Legislativo.
Segundo a Folha apurou, discussões internas sobre como será paga a conta dos benefícios ao Paraguai atrasam o projeto do governo. Como há decisão de Lula de não repassar às tarifas dos consumidores de eletricidade o aumento da compensação, de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões, a questão é como o contribuinte vai bancar a fatura.
São várias as formas de fazer o contribuinte pagar, como reduzir o lucro da Eletrobrás, usar subvenções do Tesouro ou isenções fiscais. Mas o governo não decidiu quem vai assumir a tarefa, e divergências atrasam o trabalho -o Ministério de Minas e Energia, por exemplo, ao qual a Eletrobrás está vinculada, foi contra o acordo.
A demora já gera repercussão negativa no Paraguai. No último dia 25, o "ABC Color", principal jornal do país, afirmou em editorial que o acordo caminha "rumo ao esquecimento" e que a Eletrobrás "burla os paraguaios".
As críticas expõem uma das debilidades de Lugo: a falta de controle sobre a agenda política do país. No caso do sequestro do fazendeiro Fidel Zavala, por exemplo, o presidente passou três dias sob críticas da oposição e até de apoiadores antes de condenar o crime.
Além do confronto com a oposição, Lugo não conta com maioria no Congresso, enfrenta brigas na base governista e até no interior da frente de esquerda que o ajudou a se eleger. Eleito com 41% dos votos, sua gestão é aprovada por 54% dos paraguaios, ante 93% no primeiro mês de governo.
Na base, a disputa é entre o Partido Liberal (centro-direita), que quer ser visto como condutor e herdeiro do governo, e as pequenas siglas de esquerda, que se dizem os legítimos representantes de Lugo.
Há ainda disputas por espaço no governo dentro da própria frente de esquerda, entre partidos com representação no Congresso e setores oriundos de movimentos sociais, sem representação legislativa. (FM e TG)


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