São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Prazo em Honduras deve terminar sem acordo ou votação

Micheletti e Zelaya divergem na fórmula para o governo de unidade; granada atinge rádio pró-golpe e deixa dois feridos

Acordo mediado pelos EUA há uma semana previa que gabinete de unidade fosse formado ontem; Congresso não marca votação de pacto


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

No último dia do prazo acordado para a instalação de um "governo de unidade e reconciliação nacional", o Congresso hondurenho não se reuniu nem fixou uma data para votar a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya.
A indefinição do Parlamento, a ocorrência de dois atentados em Tegucigalpa e o fracasso, até o final da tarde, das negociações para uma fórmula alternativa para conformar um governo de unidade voltaram a elevar a tensão política em Honduras. Para piorar, o país se preparava para a chegada de uma tormenta tropical.
Aliado de Micheletti, o presidente do Congresso hondurenho, José Angel Saavedra, disse que "não haverá [medidas] dilatórias nem evasão da responsabilidade histórica" de votar sobre a restituição de Zelaya, mas se negou falar sobre datas.
Na terça, a mesa diretora do Congresso, majoritariamente pró-Micheletti, pediu pareceres sobre a restituição à Suprema Corte, ao Ministério Público e à Procuradoria-Geral da República, o que era facultativo pelo acordo assinado na sexta. Nenhuma das instâncias respondeu até ontem.
Com a indefinição, alguns dos simpatizantes de Zelaya lotaram a pequena praça diante do Congresso para exigir a sua restituição, sob forte vigilância.
Na mesa de negociações, Zelaya rechaçou ontem contraproposta pela qual Micheletti renunciaria, e o gabinete do governo de unidade seria nomeado pelo Congresso, antes de votar a restituição do deposto.
Anteontem, Zelaya havia concordado em criar um governo de unidade com o ministro de Governo à frente, mas desde que este fosse atrelado à sua posterior restituição, proposta vetada por Micheletti.
"O Congresso tem de retroceder os Poderes para como estava em 28 de junho [dia da deposição de Zelaya] para que o presidente possa nomear esse gabinete, que terá ministros do governo de facto", disse Rasel Tomé, assessor político também abrigado na embaixada brasileira, de onde o presidente deposto não sai há 46 dias.
"Se não houver decisão até a meia-noite, tomaremos nossas decisões", disse Tomé.
Pelo acordo assinado na sexta com intermediação dos EUA, a volta de Zelaya depende da aprovação do Congresso -mas texto não fixa prazo para a votação. Já o governo de unidade teria de ser formado até ontem.
O impasse continua a pouco mais de três semanas da eleição presidencial do dia 29. Respaldado por países como Brasil, Argentina e Venezuela, Zelaya ameaça não reconhecê-la se não for restituído antes.
Em meio ao recrudescimento do impasse político, Tegucigalpa registrou dois atentados. No mais grave, uma granada explodiu anteontem à noite no teto da rádio pró-Micheletti HRN, uma das mais importantes de Honduras. A explosão abriu um rombo em cima da sala de áudio do estúdio e feriu levemente dois funcionários.
Ontem, uma bomba caseira estourou num banheiro público no centro da capital, provocando apenas danos materiais.
Além do terremoto político, Honduras terá de lidar com a tormenta tropical Ida, que deve chegar até amanhã, provocando fortes tempestades no país.


Texto Anterior: Acordo sobre Itaipu causa desgaste a Lugo
Próximo Texto: Senador dos EUA suspende veto a embaixador para o Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.