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Oposição teve "vitória de merda", afirma Chávez
Ao negar versão não confirmada de que militares o tivessem pressionado a aceitar a derrota, venezuelano sobe o tom
Presidente revelou que Exército estava preparado para tomar dois governos oposicionistas em caso de "plano desestabilizador"
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Ao lado do alto comando militar da Venezuela, o presidente
do país, Hugo Chávez, tachou
ontem de "vitória de merda" o
triunfo da oposição no domingo e disse que sua proposta de
reforma constitucional deverá
passar por um novo referendo.
"Deixem quieto a quem está
quieto. Saibam administrar sua
vitória, mas já a estão enchendo
de merda, é uma vitória de merda. E a nossa -chamem-na de
derrota, chamem-na- é de valor, é de dignidade. O império
golpeia. Não movemos um milímetro. Bom, não moveremos,
vamos para a frente", disse
Chávez, que apareceu de surpresa numa entrevista coletiva
do ministro da Defesa, Gustavo
Rangel Briceño, concedida no
Palácio Miraflores.
O presidente venezuelano
voltou a deixar claro que a reforma constitucional será reapresentada e sugeriu que será
por meio de coleta de assinaturas. Dirigindo-se à oposição, falou: "Haverá uma nova ofensiva com a proposta da reforma.
Essa ou transformada ou simplificada, mas estou seguro (...)
O povo sabe: se recolherem assinaturas, podem submeter ao
referendo de novo".
Pelo artigo 342 da Constituição, um projeto de reforma
constitucional pode ser apresentado por um mínimo de 5%
dos eleitores inscritos. As outras formas de apresentar são
por meio do Executivo -já utilizado por Chávez- ou do Legislativo. Depois, a proposta é
submetida a referendo.
Chávez levantou até a hipótese de não ter perdido a votação no domingo, apesar de o
Conselho Nacional Eleitoral
ter dito que o resultado da apuração, ainda não totalmente
concluída, é irreversível.
"Não é que não conseguimos
[a vitória], porque, se terminassem de contar (...) essa diferença poderia ser zero."
Numa metáfora do beisebol,
ele se comparou a um rebatedor que deixou a primeira bola
passar para esperar as próximas duas chances.
Plano desestabilizador
Outra revelação de Chávez
foi que, na noite do referendo,
mobilizou tropas para tomar de
assalto as sedes do governo de
Zulia (oeste) e Sucre (leste),
ambos sob comando oposicionista. Ele disse que também estava preparado para cortar o sinal da emissora oposicionista
Globovisión caso um suposto
"plano desestabilizador" fosse
colocado em marcha.
De forma parecida com o das
recentes crises diplomáticas
com a Colômbia e a Espanha, as
duras declarações de Chávez
ontem foram precedidas de um
tom mais ameno, quando reconheceu a derrota na madrugada de segunda.
Chávez interrompeu uma
confusa entrevista coletiva do
general Rangel Briceño, convocada para desmentir versões
não confirmadas de que o presidente venezuelano foi obrigado a aceitar a derrota (veja texto nesta página) pelo comando
das Forças Armadas.
Ao elogiar a atuação das Forças Armadas, o substituto do
general dissidente Raúl Isaías
Baduel disse "os felicito, os
quero, sou e me sinto parte de
vocês, sou capaz de sentar-me
na calçada para comer uma
manga com um soldado".
A reforma constitucional de
Chávez, que prevê a reeleição
indefinida para presidente, foi
derrotada por 50,7% dos votos
válidos, contra 49,3% dos que a
apoiaram. A votação, marcada
pela alta abstenção entre os
chavistas, foi a primeira derrota nas urnas do presidente venezuelano em nove anos.
Chávez anunciou também
ações legais para ver a sua filha
mais nova, Rosinés, de nove
anos. No domingo, a menina
apareceu ao lado da ex-mulher
María Isabel Rodríguez, que fez
campanha pelo "não" e diz que
está sendo ameaçada por setores ligados ao governo.
"Colocam a minha filha agora no centro do furacão, e isso
me dói muito. Já quase não
posso ver a Rosinés (...) vou ter
de recorrer ao direito, ela tem
um pai, um pai", afirmou.
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