São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2007

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Oposição teve "vitória de merda", afirma Chávez

Ao negar versão não confirmada de que militares o tivessem pressionado a aceitar a derrota, venezuelano sobe o tom

Presidente revelou que Exército estava preparado para tomar dois governos oposicionistas em caso de "plano desestabilizador"

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Ao lado do alto comando militar da Venezuela, o presidente do país, Hugo Chávez, tachou ontem de "vitória de merda" o triunfo da oposição no domingo e disse que sua proposta de reforma constitucional deverá passar por um novo referendo.
"Deixem quieto a quem está quieto. Saibam administrar sua vitória, mas já a estão enchendo de merda, é uma vitória de merda. E a nossa -chamem-na de derrota, chamem-na- é de valor, é de dignidade. O império golpeia. Não movemos um milímetro. Bom, não moveremos, vamos para a frente", disse Chávez, que apareceu de surpresa numa entrevista coletiva do ministro da Defesa, Gustavo Rangel Briceño, concedida no Palácio Miraflores.
O presidente venezuelano voltou a deixar claro que a reforma constitucional será reapresentada e sugeriu que será por meio de coleta de assinaturas. Dirigindo-se à oposição, falou: "Haverá uma nova ofensiva com a proposta da reforma. Essa ou transformada ou simplificada, mas estou seguro (...) O povo sabe: se recolherem assinaturas, podem submeter ao referendo de novo".
Pelo artigo 342 da Constituição, um projeto de reforma constitucional pode ser apresentado por um mínimo de 5% dos eleitores inscritos. As outras formas de apresentar são por meio do Executivo -já utilizado por Chávez- ou do Legislativo. Depois, a proposta é submetida a referendo.
Chávez levantou até a hipótese de não ter perdido a votação no domingo, apesar de o Conselho Nacional Eleitoral ter dito que o resultado da apuração, ainda não totalmente concluída, é irreversível.
"Não é que não conseguimos [a vitória], porque, se terminassem de contar (...) essa diferença poderia ser zero."
Numa metáfora do beisebol, ele se comparou a um rebatedor que deixou a primeira bola passar para esperar as próximas duas chances.

Plano desestabilizador
Outra revelação de Chávez foi que, na noite do referendo, mobilizou tropas para tomar de assalto as sedes do governo de Zulia (oeste) e Sucre (leste), ambos sob comando oposicionista. Ele disse que também estava preparado para cortar o sinal da emissora oposicionista Globovisión caso um suposto "plano desestabilizador" fosse colocado em marcha.
De forma parecida com o das recentes crises diplomáticas com a Colômbia e a Espanha, as duras declarações de Chávez ontem foram precedidas de um tom mais ameno, quando reconheceu a derrota na madrugada de segunda.
Chávez interrompeu uma confusa entrevista coletiva do general Rangel Briceño, convocada para desmentir versões não confirmadas de que o presidente venezuelano foi obrigado a aceitar a derrota (veja texto nesta página) pelo comando das Forças Armadas.
Ao elogiar a atuação das Forças Armadas, o substituto do general dissidente Raúl Isaías Baduel disse "os felicito, os quero, sou e me sinto parte de vocês, sou capaz de sentar-me na calçada para comer uma manga com um soldado".
A reforma constitucional de Chávez, que prevê a reeleição indefinida para presidente, foi derrotada por 50,7% dos votos válidos, contra 49,3% dos que a apoiaram. A votação, marcada pela alta abstenção entre os chavistas, foi a primeira derrota nas urnas do presidente venezuelano em nove anos.
Chávez anunciou também ações legais para ver a sua filha mais nova, Rosinés, de nove anos. No domingo, a menina apareceu ao lado da ex-mulher María Isabel Rodríguez, que fez campanha pelo "não" e diz que está sendo ameaçada por setores ligados ao governo.
"Colocam a minha filha agora no centro do furacão, e isso me dói muito. Já quase não posso ver a Rosinés (...) vou ter de recorrer ao direito, ela tem um pai, um pai", afirmou.


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