São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bolivianos no exterior votarão pela 1ª vez
Com nova lei eleitoral, 18,6 mil pessoas podem ir às urnas hoje em SP, onde Evo Morales instalou comitê de campanha
A boliviana Julieta, 44, comerciante no Pari (zona leste
de São Paulo), comemora que,
pela primeira vez desde 1995
-quando se mudou ao Brasil-,
poderá votar para presidente
de seu país. Com a inclusão do
voto no exterior na nova lei
eleitoral boliviana, de abril, ela
e outros 18,6 mil imigrantes
participarão da eleição de hoje,
em cinco locais de São Paulo.
Outros 162 mil votarão nos
EUA, Argentina e Espanha.
Favorito no pleito, o presidente Evo Morales é o mais citado pelos eleitores consultados informalmente pela Folha.
"Não há outro candidato senão Evo", diz Julieta em sua loja de linhas de costura, na rua
Coimbra, via frequentada por
bolivianos e endereço do comitê de campanha de Morales.
Poucos na rua Coimbra sabem citar nomes de candidatos
da oposição, que não fizeram
campanha aqui. Duas bolivianas de Santa Cruz (bastião oposicionista) declararam voto a
Jorge Quiroga, mas, em setembro, ele desistiu de concorrer.
"Respaldo Evo pelas mudanças que ele fez. É um momento
histórico [para a Bolívia]", afirma Franklin Castro, 40, que
comanda uma rádio comunitária e faz bicos de costura e instalação de parabólicas.
Como muitos compatriotas,
Castro diz ter saudades da Bolívia, mas admite viver melhor
no Brasil -mesmo sabendo-se
que a comunidade boliviana,
dedicada principalmente à atividade têxtil no mercado informal, faz jornadas longas por remunerações baixíssimas.
"No Brasil, o boliviano trabalha quase como escravo, mas
pelo menos tem comida", explica Jorge Villegas, médico
que preside uma fundação de
bolivianos em São Paulo.
Villegas reclamou do que
chamou de "proselitismo" do
consulado boliviano por sua
"campanha absurda" em favor
de Morales. "Tenho simpatia
por Evo, mas acho que a Bolívia
tende a se isolar da comunidade internacional", opinou.
O consulado boliviano negou
a acusação, dizendo que "as
missões diplomáticas não estão autorizadas a fazer campanha", só de forma pessoal e "fora do horário de trabalho".
Outros imigrantes reclamaram que não conseguiram se
cadastrar nas eleições. Além da
alta informalidade da comunidade boliviana, isso ocorreu
porque o número de votantes
no exterior teve "cota" de 6%,
por "falta de tempo, tecnologia
e experiência", explicou Jorge
González, da Corte Eleitoral
Boliviana no Brasil.
A "cota" brasileira ficou em
23 mil votantes, mas só foi feito
o registro biométrico (outra regra da nova lei eleitoral) de 18,6
mil -todos em São Paulo, onde
se concentra a maioria da comunidade boliviana no Brasil
(estimada pelo consulado em
250 mil pessoas, mas que deve
ser muito maior se somados
imigrantes irregulares).
Ante os 5 milhões de eleitores na Bolívia, toda comunidade de votantes no exterior "que
ultrapasse 10 mil eleitores é
significativa", disse González. |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |