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Relações brasileiras com Venezuela e Irã são questionadas
DA SUCURSAL DO RIO
Os acadêmicos que participam dos estudos do Pentágono
com a Universidade Internacional da Flórida (FIU) afirmam que pretendem levar aos
militares dos EUA uma visão
mais matizada da América Latina, mas nem sempre é fácil.
Um dos autores do relatório
sobre o Brasil, Alcides Vaz, da
UnB, foi crivado de perguntas
sobre as relações do país com
Venezuela e Irã ao expor seu
trabalho no Comando Sul, na
semana retrasada.
Vaz percebeu "inquietação"
quanto às posições brasileiras
sobre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o programa
nuclear iraniano -o Brasil tem
defendido o direito do Irã de
enriquecer urânio para fins pacíficos. "No caso de Chávez, há
expectativa de uma relação
mais assertiva, de maior dureza", disse o professor da UnB.
Segundo Vaz, a inquietação
em parte é fruto da perspectiva
dos americanos de "compartilhar responsabilidades com o
Brasil", visto como ator global e
não apenas regional.
Para os militares dos EUA, é
difícil entender a lógica brasileira, pela qual "é mais interessante atrair [a Venezuela] para
o marco de organismos e instâncias regionais do que confrontá-la diretamente".
O relatório sobre o Brasil
descreve uma "ambiguidade"
tradicional da política externa
do país, que cultiva a autonomia e a autossuficiência, mas
entende que o multilateralismo
é o meio mais eficiente de tentar moldar a ordem internacional em seu benefício.
Fala da ausência de guerras
com vizinhos no século 20 e da
habilidade brasileira para definir suas fronteiras de forma negociada como parte do seu "soft
power". Descreve a "vocação
atlântica" do país e de como foi
"empurrado" pelas circunstâncias a assumir liderança na
América do Sul.
O estudo cita o crescimento
econômico recente e as reservas de petróleo no pré-sal como
fatores que pressionam por
"capacidades de defesa proporcionais à vulnerabilidade dos
novos espaços estratégicos"
brasileiros.
Ao questionarem posições do
Brasil, os militares americanos
também apontaram, segundo
Vaz, o que consideram "percepções equivocadas" sobre eles.
Mostraram dificuldade de
assimilar a reação regional à
Quarta Frota e ao acordo que
permite o uso, por militares
americanos, de bases na Colômbia.
"Tive oportunidade de discutir a preocupação brasileira
com o aumento da presença
militar extrarregional na América do Sul e a militarização do
entorno sul-americano", disse
o professor.
"Mas eles olham essas iniciativas não sob o prisma das preocupações nacionais, mas da sua
estratégia global."
Os militares do Comando Sul
também acompanham a importância da Amazônia na doutrina militar brasileira e identificam convergência entre a política externa do governo Lula
para a região e o pensamento
das Forças Armadas.
"[Eles percebem que] há uma
sintonia grande entre o pensamento dos militares e as preocupações de política externa tal
como refletidas na Estratégia
Nacional de Defesa", relatou o
professor Vaz.
(CA)
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