São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relações brasileiras com Venezuela e Irã são questionadas

DA SUCURSAL DO RIO

Os acadêmicos que participam dos estudos do Pentágono com a Universidade Internacional da Flórida (FIU) afirmam que pretendem levar aos militares dos EUA uma visão mais matizada da América Latina, mas nem sempre é fácil.
Um dos autores do relatório sobre o Brasil, Alcides Vaz, da UnB, foi crivado de perguntas sobre as relações do país com Venezuela e Irã ao expor seu trabalho no Comando Sul, na semana retrasada.
Vaz percebeu "inquietação" quanto às posições brasileiras sobre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o programa nuclear iraniano -o Brasil tem defendido o direito do Irã de enriquecer urânio para fins pacíficos. "No caso de Chávez, há expectativa de uma relação mais assertiva, de maior dureza", disse o professor da UnB.
Segundo Vaz, a inquietação em parte é fruto da perspectiva dos americanos de "compartilhar responsabilidades com o Brasil", visto como ator global e não apenas regional.
Para os militares dos EUA, é difícil entender a lógica brasileira, pela qual "é mais interessante atrair [a Venezuela] para o marco de organismos e instâncias regionais do que confrontá-la diretamente".
O relatório sobre o Brasil descreve uma "ambiguidade" tradicional da política externa do país, que cultiva a autonomia e a autossuficiência, mas entende que o multilateralismo é o meio mais eficiente de tentar moldar a ordem internacional em seu benefício.
Fala da ausência de guerras com vizinhos no século 20 e da habilidade brasileira para definir suas fronteiras de forma negociada como parte do seu "soft power". Descreve a "vocação atlântica" do país e de como foi "empurrado" pelas circunstâncias a assumir liderança na América do Sul.
O estudo cita o crescimento econômico recente e as reservas de petróleo no pré-sal como fatores que pressionam por "capacidades de defesa proporcionais à vulnerabilidade dos novos espaços estratégicos" brasileiros.
Ao questionarem posições do Brasil, os militares americanos também apontaram, segundo Vaz, o que consideram "percepções equivocadas" sobre eles.
Mostraram dificuldade de assimilar a reação regional à Quarta Frota e ao acordo que permite o uso, por militares americanos, de bases na Colômbia.
"Tive oportunidade de discutir a preocupação brasileira com o aumento da presença militar extrarregional na América do Sul e a militarização do entorno sul-americano", disse o professor.
"Mas eles olham essas iniciativas não sob o prisma das preocupações nacionais, mas da sua estratégia global."
Os militares do Comando Sul também acompanham a importância da Amazônia na doutrina militar brasileira e identificam convergência entre a política externa do governo Lula para a região e o pensamento das Forças Armadas.
"[Eles percebem que] há uma sintonia grande entre o pensamento dos militares e as preocupações de política externa tal como refletidas na Estratégia Nacional de Defesa", relatou o professor Vaz. (CA)


Texto Anterior: Trechos
Próximo Texto: Foco: Tom da pele de Obama varia conforme ideologia de quem a vê, diz estudo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.