São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Tom da pele de Obama varia conforme ideologia de quem a vê, diz estudo

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

Liberais e conservadores discordam de quase tudo quando o assunto é a política do presidente Barack Obama. Uma pesquisa conduzida pelas universidades de Chicago, Nova York e Tilburg (na Holanda) mostra que divergem até mesmo quando o assunto é a cor da pele do presidente.
O estudo mostra que a visão política do eleitor pode mudar a percepção visual do tom da pele do candidato. A maneira como o eleitor enxerga o candidato está diretamente ligada à intenção de voto. Na prática, a pesquisa indica que as pessoas identificam um tom de pele mais claro como mais representativo de um candidato com quem têm afinidades.
A pesquisa foi conduzida no ano passado, quando Obama ainda era candidato. Com base em imagens reais e alteradas digitalmente, pesquisadores pediram a mais de cem universitários que apontassem a foto que melhor representava Obama. Foi solicitado também que explicassem sua própria orientação política.
Os resultados mostraram que os estudantes liberais eram cinco vezes mais propensos a indicar imagens de Obama clareadas digitalmente. Os conservadores eram duas vezes mais propensos a escolher imagens escurecidas.
Em uma etapa posterior, os pesquisadores verificaram em qual candidato os estudantes haviam votado. Mais uma vez, os que apontaram a fotografia artificialmente mais clara estavam mais inclinados a votar em Obama. A lógica só é válida para candidatos que são filhos de brancos e negros. A mesma experiência com imagens do candidato republicano à época John McCain não mostraram diferença de percepção.
"Diferenças sutis no tom da pele de uma pessoa podem afetar decisões como quem contratar para um emprego", diz Eugene Caruso, professor de Ciência Comportamental da Universidade de Chicago e um dos autores do estudo.
Os próprios pesquisadores levantaram a hipótese de que a diferença de percepção fosse resultado de racismo e preconceito. Eles realizaram testes e questionários junto aos participantes para isolar o efeito e viram que mesmo assim o resultado era consistente. Uma das hipóteses é que culturalmente os americanos estão mais inclinados a associar luminosidade a algo bom.
"Apesar de, como sociedade, termos alcançado um progresso real em relação à redução da discriminação e do racismo, existem outras formas mais sutis de preconceito que ainda podem ter consequências muito significativas" disse Emily Balcetis, outra autora do estudo, a um jornal de Nova York.
Os pesquisadores afirmam que já houve tentativas de capitalizar com a manipulação de imagens nos EUA. Eles citam como exemplo a polêmica em torno de um anúncio na TV veiculado na época das prévias pela campanha da atual secretária de Estado, Hillary Clinton, em que Obama aparecia em tons mais escuros do que o real. Eles citam ainda a imagem da capa da revista "Time" com a foto do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson escurecida logo depois que ele foi acusado de assassinato.


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