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Ministro cobra desarme de países atômicos
"Não desarmamento de potências nucleares é que leva à proliferação", diz o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
Ideia de "desenvolvimento sustentável" é assimétrica, argumenta diplomata, que defende visita de Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil
DA SUCURSAL DO RIO
O ministro de Assuntos Estratégicos, embaixador Samuel
Pinheiro Guimarães, elogiou e
aprofundou a declaração feita
na quinta-feira, na Alemanha,
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que as potências
atômicas precisam se desarmar
para ter "autoridade moral" para cobrar o desarme de países
como o Irã.
"O controle da situação militar [no mundo] exige o desarmamento dos países nucleares,
não o desarmamento dos desarmados, que não colocam nenhum país em risco. O não desarmamento dos países nucleares é que leva à proliferação,
porque os países que se sentem
ameaçados sabem que eventualmente não serão atacados
se estiverem armados", afirmou o ex-secretário-geral do
Itamaraty.
"Fico feliz porque escrevi isso antes das declarações do
presidente Lula", disse, antes
de comentar: "A Coreia do Norte não tem o destino do Iraque
porque tem a bomba".
Guimarães encerrou na noite
de anteontem, no Rio, conferência do Instituto de Pesquisa
de Relações Internacionais do
Itamaraty -entidade de cuja
direção foi afastado em 2001,
no governo de Fernando Henrique Cardoso, por atacar eventual ingresso do Brasil na Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas).
Conhecido pela oposição ao
sistema internacional criado
sob a hegemonia dos EUA, o
ministro fez afirmações que
qualificou de "heterodoxas" ao
analisar as "três crises internacionais" -econômica, ambiental e de governança- e sua relação com "quatro tendências":
globalização, multipolarização,
normatização e transformações tecnológicas.
Ele descreveu esforços das
potências ocidentais para aprofundar, no pós-Guerra Fria, as
normas pelas quais concentram poder. Disse que os acordos de não proliferação "garantiram privilégios a certos Estados", que tentam ampliá-los.
"Também não querem que os
países não armados tenham armas convencionais. Facilita
muito, não é?"
Citou as visitas recentes dos
presidentes do Irã, de Israel e
da Autoridade Nacional Palestina e ironizou os que criticaram a vinda de Mahmoud Ahmadinejad. "Alguns queriam
que nós pedíssemos licença,
mas não pediram para o presidente de Israel, aí não precisava, não é?"
Guimarães defendeu a reforma do Conselho de Segurança
das Nações Unidas, com a inclusão de Brasil, Índia, africanos e as potências do Eixo nazifascista derrotadas na Segunda
Guerra, Alemanha e Japão,
"depois de tantos anos de purgatório, de punição, por terem
desafiado a liderança anglo-saxônica do mundo".
Segundo ele, o Brasil está em
boa posição nas negociações
sobre mudança climática por
sua matriz energética limpa e
pela decisão de adotar metas
voluntárias de redução das
emissões.
O aquecimento global, afirmou, decorre da visão de que "o
indivíduo pode consumir o que
bem entende, e o produtor produzir o que bem entende", num
mundo de recursos naturais
que "seriam inesgotáveis", o
que levou ao uso intensivo de
combustíveis fósseis pelos países desenvolvidos.
A mesma visão pressupunha
que os demais Estados "não poderiam chegar ao mesmo nível
de consumo". A pregação do
desenvolvimento sustentável,
disse, surgiu nesse contexto:
"Nunca [...] defenderam o crescimento sustentável para os
países desenvolvidos, sempre
para os subdesenvolvidos. Fica
até de mau gosto dizer isso.
Mas é a verdade."
Para Guimarães, países como
Brasil, Índia e Rússia não são
"absorvíveis" pelos três polos
em torno de Estados Unidos,
União Europeia e China. "Temos a sorte", disse, de poder
formar um polo na América do
Sul, "base central da política externa brasileira".
O ministro avaliou que o Brasil está em geral bem posicionado diante dos desafios internacionais, com uma exceção importante: inovação tecnológica.
Comparou o investimento
anual dos EUA em pesquisa, de
US$ 300 bilhões, com o brasileiro, de US$ 15 bilhões.
"Se não fizermos avanços, estaremos num patamar inferior
de competitividade em termos
econômicos, políticos e militares."
(CLAUDIA ANTUNES)
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