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ÁSIA
Países anunciam retomada de negociações abrangentes sobre a Caxemira em fevereiro, um dia depois de encontro de cúpula
Índia e Paquistão retomam diálogo de paz
DA REDAÇÃO
Índia e Paquistão concordaram
ontem em iniciar negociações de
paz históricas em fevereiro, dois
anos depois que os vizinhos hostis
levaram o mundo à beira de uma
possível guerra nuclear.
As negociações, definidas em
reuniões realizadas sob severa
proteção na capital paquistanesa,
Islamabad, durante uma conferência de cúpula regional nesta
semana, não terão limites definidos e incluirão todos os tópicos,
incluindo a questão da Caxemira,
no cerne dos 56 anos de desconfiança e ódio entre os dois países.
"Não há vencedores ou perdedores... Acredito que seja uma vitória para o mundo", declarou o
ditador paquistanês, Pervez Musharraf. "Os povos de ambos os
países querem a paz e a harmonia... As lideranças de ambos os
países têm de estar à altura das aspirações de seus povos".
De acordo com uma declaração
conjunta, Musharraf prometeu
não permitir que seu país seja
usado como refúgio para o terrorismo, e o premiê indiano, Atal
Bihari Vajpayee, prometeu buscar uma solução para a Caxemira.
Não se ouviram ontem as usuais
negativas do Paquistão de que dá
apoio aos militantes islâmicos
que combatem o domínio indiano no território em disputa, no
Himalaia, nem as exigências indianas de que a infiltração de terroristas islâmicos fosse detida antes do início de um diálogo.
Já houve tentativas de pôr fim às
disputas entre o Paquistão e a Índia, a mais recente das quais em
negociações em julho de 2001 entre Vajpayee e Musharraf. Um
ataque de terroristas islâmicos
contra o Parlamento indiano, em
dezembro daquele ano, torpedeou as esperanças de paz e levou
os dois países à beira de uma
quarta e devastadora guerra aberta, agora com armas nucleares
disponíveis nos dois lados.
Aliado dos EUA
Mas observadores de ambas as
partes dizem que hoje a atmosfera
é muito diferente. Musharraf, 60,
se tornou um dos mais firmes
aliados americanos, desde os ataques terroristas de 11 de setembro
de 2001, e agiu firmemente contra
grupos extremistas islâmicos em
seu país. Seu governo proibiu
mais de dez organizações e deteve
mais de 500 suspeitos de integrar
a rede terrorista Al Qaeda, a
maior parte entregue aos EUA.
Washington pressionava os
dois países a retomarem o processo de paz.
A despeito do cinismo inicial
quanto à motivação de Musharraf, seu compromisso com o diálogo parece genuíno. Ele agora é
claramente visto como inimigo
mortal pelos militantes islâmicos
que lutam pelo fim do domínio da
Índia (país de maioria hindu) na
Caxemira (majoritariamente muçulmana, como o Paquistão).
Musharraf já sobreviveu a três
tentativas de assassinato por supostos grupos islâmicos, as duas
mais recentes em dezembro. O último ataque, uma dupla bomba
detonada por terroristas suicidas,
que matou 16 pessoas, teria sido
responsabilidade do Jaish-e-Mohammed, um grupo extremista
da Caxemira, acredita o governo
paquistanês.
Os rebeldes da Caxemira classificaram como entreguismo as notícias de ontem, um presságio dos
desafios que terão de ser superados para que as negociações gerem uma paz duradoura.
"O acordo fechado pela Índia e
pelo Paquistão é um massacre da
causa de Caxemira", disse Amanullah Khan, presidente da Frente
de Libertação da Caxemira, que
favorece a independência da região. "Não é só uma reviravolta na
posição paquistanesa, é uma
completa traição."
E Syed Salahuddin, comandante do Hezb-ul Mujahedeen, o
principal grupo que combate as
tropas indianas, advertiu que as
operações continuarão até que a
Índia liberte ativistas encarcerados e prove sua sinceridade.
"A Índia deveria declarar que a
Caxemira é um território sob disputa, libertar os líderes detidos
em suas câmaras de tortura e recolher seus soldados aos quartéis", disse Salahuddin. "A menos
que isso aconteça, os guerrilheiros
continuarão com suas ações".
O acordo sobre o diálogo de paz
foi selado em um telefonema feito
por Vajpayee, 79, na manhã de
ontem, um dia depois de seu encontro privado de uma hora com
Musharraf na residência presidencial de Islamabad. Musharraf
disse que ambos estavam exultantes e agradeceram um ao outro
pela coragem demonstrada.
"Eu lhe desejei ótima saúde, e
ele me desejou proteção", brincou
Musharraf, em referência à idade
de Vajpayee e às experiências do
general paquistanês com ataques
contra a sua vida.
O chanceler indiano, Yashwant
Sinha, disse que os detalhes do
acordo, como o local das negociações e o nível das autoridades envolvidas, ainda não haviam sido
definidos, mas que as discussões
já haviam começado e seriam
abrangentes.
Um importante funcionário do
governo indiano disse que as negociações girariam em torno de
oito pontos, entre os quais a Caxemira e duas outras disputas territoriais, o combate ao terrorismo,
o comércio e medidas de promoção da confiança.
Estima-se que mais de 30 mil
pessoas morreram no conflito entre os dois países desde 1989.
Com o "New York Times"
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