São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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Regime no Irã mantém a cautela apesar de protestos

DO "FINANCIAL TIMES", EM TEERÃ E LONDRES

Desde que Israel lançou sua ofensiva contra o Hamas na faixa de Gaza, o Irã vem adotando um discurso desafiador e ruidoso contra o Estado judaico.
Manifestações esporádicas de "estudantes" ocorrem diante de embaixadas ocidentais e árabes, e 70 mil se inscreveram para lançar ataques suicidas contra Israel. A cobertura da TV estatal do conflito é tão extensa que a sensação é que o ataque foi contra solo iraniano.
Publicamente, no entanto, o regime iraniano tem agido com cautela. Embora Israel o acuse de subsidiar o Hamas -e autoridades árabes o acusem de incentivar o grupo palestino-, a estratégia iraniana é dar a impressão de não estar interferindo diretamente no conflito.
O esforço diplomático iraniano também é moderado.
Como muitos Estados árabes, o país pede o fim da ofensiva israelense. Mas suas ações diplomáticas se limitam a ligações a líderes árabes e uma visita do secretário do Conselho Nacional Supremo de Segurança, Saeed Jalili, à Síria e ao Líbano para transmitir a disposição de agir pelo fim do conflito.
A meta é lustrar as credenciais do Irã diante da campanha anti-Israel no mundo islâmico.
"Esse nível de propaganda envia aos povos árabes a mensagem de que o Irã é o único país que se importa com os palestinos", disse um diplomata ocidental de alto nível em Teerã.
Embora o apoio ao Hamas seja um pilar declarado da política externa do Irã, a relação de Teerã com o grupo não é tão forte quanto a mantida com o Hizbollah, crucial para a política externa iraniana. "O Irã não dispõe dos canais certos para contrabandear armas ao Hamas, mesmo que quisesse fazê-lo", diz um diplomata árabe.
Observadores na região dizem que Teerã ficaria profundamente constrangido se o Hamas sofresse um golpe duro.
Mas incentivar o Hizbollah a abrir uma segunda frente na guerra envolve o risco de deflagrar um conflito regional.
Com um novo governo prestes a assumir nos EUA e, possivelmente, iniciar um diálogo, o regime iraniano tem interesse em manter a discrição.
De qualquer maneira, a visão que se tem no Irã é que o Hamas não será destruído pela ofensiva israelense. Enquanto isso, a guerra em Gaza vale como desculpa útil para reprimir os críticos no próprio Irã.


Tradução de CLARA ALLAIN


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