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Cidade-alvo do Hamas vive sob tensão
Desde 2001, 7.000 foguetes deixaram oito mortos em Sderot, mas população vive sob estresse permanente
Moradores perdem poder de concentração, desenvolvem distúrbios alimentares e até problemas cardíacos ante o trauma, diz assistente social
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT
A delegacia de polícia de Sderot, cidade israelense a pouco
mais de um quilômetro da faixa
de Gaza, mantém um macabro
museu logo na sua entrada. São
centenas de foguetes de variados alcances disparados por extremistas palestinos do outro
lado da fronteira. Segundo o
porta-voz da polícia israelense,
Micky Rosenfeld, eles formam
apenas uma fração dos mais de
7.000 que atingiram essa cidade desde 2001, aterrorizando
seus quase 20 mil habitantes.
A maioria dos projéteis é do
tipo Qassam, um foguete rudimentar de pouco mais de um
metro de comprimento que em
sete anos deixou oito mortos,
centenas de feridos e milhares
em permanente estado de alerta. Esses foguetes são o motivo
da devastadora reação israelense contra os fundamentalistas
que controlam Gaza.
"A comparação entre o número de mortos em Gaza e em
Israel não faz sentido", diz Rosenfeld, reagindo à crítica de
que a reação israelense é desproporcional. "Esses foguetes
têm o objetivo de matar civis,
enquanto a ofensiva de Israel se
preocupa em atingir somente
os terroristas do Hamas".
Como se fora uma manobra
orquestrada para ilustrar os argumentos do policial, no meio
da explicação de Rosenfeld a
um grupo de jornalistas estrangeiros o alarme é acionado, e
todos são obrigados a correr
para o abrigo antiaéreo da polícia. Em Sderot, que está no raio
mais estreito dos ataques, é
preciso ser rápido: entre o alarme e o impacto do foguete, o
tempo é de 15 segundos.
Se o número de mortos não
se compara ao de Gaza, o impacto psicológico não pode ser
desprezado, diz a assistente social Judith Bar-hor, que coordena a ajuda às vítimas do que
chama de SPT, Síndrome Pós-Trauma. "São crianças e adultos que perdem a capacidade de
concentração, que desenvolvem distúrbios alimentares e
até problemas cardíacos", diz.
Messuda Dayan, 76, entrou
para a estatística do SPT há
dois dias, quando um Qasam
invadiu a sala de sua casa em
Sderot. "Por milagre ela decidiu dormir num outro quarto
nesse dia", diz a filha Flora, enquanto mostra a parede destruída. "Desde o ataque ela mal
consegue falar, e a cada alarme
começa a tremer."
Ao observar a conversa de
Flora com a Folha, a vizinha da
casa ao lado começa a gritar.
"Estão vendo? Quero ver alguém dizer que essa guerra não
é justa!", diz Bruria Waizman,
55, que conta ter sido lançada a
dois metros da cama em que
dormia pelo impacto do foguete na casa da vizinha.
Para ela, depois de sete anos
de ataques constantes, que arruinaram a economia da cidade
e afugentaram um quinto de
sua população, Israel não tinha
alternativa. "Só espero que o
Exército vá até o fim. Desta vez,
qualquer trégua que não acabe
com o Hamas será uma humilhação para Israel."
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