São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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Nigeriano é formalmente acusado nos EUA

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

O nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab foi acusado formalmente ontem de seis crimes após tentar se explodir dentro de um voo americano rumo a Detroit no Natal. As acusações incluem tentativa de assassinato dos 279 passageiros e 11 tripulantes e tentativa de uso de arma de destruição em massa. Ele disse ter recebido treinamento e explosivos da Al Qaeda da península Arábica, grupo que reivindicou autoria da tentativa de ataque.
O episódio colocou o presidente dos EUA, Barack Obama, na mira da oposição, que acusa o governo de não saber lidar com terrorismo e de ser incapaz de consertar as falhas no sistema de segurança americano após o 11 de Setembro.
A oposição busca ainda marcar pontos em um ano de eleições legislativas com a disputa pelo controle das duas Casas.
Pressionado e sob acusações de ter demorado a comentar publicamente o ataque, Obama faz hoje um novo discurso em que comentará o relatório sobre o que não funcionou no sistema de segurança e permitiu o embarque de Abdulmutallab rumo aos EUA.
Mesmo após Obama apontar falhas e criticar o sistema de inteligência, a oposição cobra que o governo anuncie demissões.
O representante (deputado) republicano Peter King, da Comissão de Segurança Doméstica da Câmara, disse ontem que há "uma diferença entre a intensidade da retórica do presidente e o que ele propõe". Para ele, se a situação é tão ruim como o governo diz, alguém deveria perder o emprego.
Já Denis McDonough, do Conselho de Segurança Nacional, foi questionado sobre demissões e disse: "O presidente já falou repetidas vezes que haverá prestação de contas em todos os níveis, mas não vamos prejulgar o resultado final e tirar conclusões precipitadas".
O chefe do Estado-Maior conjunto, almirante Mike Mullen, reiterou ontem que Obama quer mudanças imediatas na segurança em aeroportos.
A principal resposta do governo foi adotar regras mais rígidas de revista corporal e de bagagens para passageiros de 14 países, a maioria deles, islâmicos. A medida é criticada por governos e especialistas.
Segundo Nawar Shora, diretor jurídico do Comitê Antidiscriminação de Americanos-Árabes, a entidade estuda maneiras de evitar que a medida continue em vigor. "Isso é muito preocupante porque abre um precedente ao restante da sociedade de que está certo tratar estas pessoas com ações discriminatórias. No front internacional, isso apenas ajuda a alimentar o extremismo."
Shora disse à Folha que a medida é um revés na decisão anunciada por Obama de buscar um novo começo com o mundo islâmico. "No campo diplomático, o governo deveria buscar engajamento com esses países, e não o afastamento."
Já o porta-voz do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, Corey Saylor, disse à Folha que a medida tem semelhança com ações adotadas após o 11 de Setembro. "É como colocar a Guarda Nacional em aeroportos, mas sem munição. Faz com que as coisas pareçam estar mais seguras, mas não causa efeito prático", criticou.


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