São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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depoimento

Revista para entrar no voo é mais severa, e só

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Na noite de anteontem, peguei um velho conhecido para me trazer de volta à casa, em Washington: o voo 860 da United, que sai do aeroporto internacional de Guarulhos às 23h57 e chega à capital norte-americana às 6h25 locais (9h25 de Brasília) do dia seguinte.
Foi meu primeiro voo com destino aos Estados Unidos pós-"terrorista da cueca", como já está sendo chamado o nigeriano Umar Abdulmutallab. O da ida, na noite de 28 de dezembro, ocorrera sem sobressaltos, já que voos internacionais que saem dos EUA não são o alvo das novas medidas de segurança, mas os de trajeto oposto.
Embalados pela desinformação proposital da TSA, a agência federal de segurança de transportes dos EUA, que até hoje não anunciou oficialmente quais são tais medidas como maneira de surpreender os aspirantes a terroristas, e por relatos pontuais de alguns amigos e colegas, fomos ao embarque preparados para o pior.
O pior era a ameaça de novos procedimentos mais invasivos e mais desconfortáveis, um ambiente mais hostil por parte tanto dos comissários de voo como da imigração e alfândega americanas, um clima de tensão na aterrissagem.
É que, segundo os relatos e de acordo com informações colocadas nos sites de algumas empresas aéreas e logo retiradas, passou a ser proibido levantar-se, ir ao banheiro, manter objetos pessoais e cobertores no colo e mesmo tentar pegar algo na bagagem de mão uma hora antes de aterrissar.
Pois nada disso aconteceu.
Sim, a segunda revista, já no corredor de entrada do voo, em São Paulo, foi mais rigorosa; e 45 minutos antes de o avião descer em solo americano os filmes de bordo e o mapinha com o trajeto da viagem deixaram de ser exibidos. E só.
Na entrada, homens e mulheres foram separados em filas diferentes para ser revistados por pessoas do mesmo sexo. Fomos submetidos àqueles pequenos detectores de metal portáteis. Fui liberado logo; o tamanco com pinos de metal de minha mulher fez o aparelho dela apitar, o que levou a um exame adicional do calçado.
Ela brigou ainda pelo não confisco de uma pinça. Seu argumento foi impecável e bem-sucedido: "Depois que sequestrarem um avião com uma dessas, eu aceito abrir mão da minha". Não vimos ninguém sendo apalpado pelos seguranças nem ser retirado da fila.
No voo, mesmo depois do aviso de que faltavam 45 minutos para a aterrissagem e que o serviço de vídeo e mapa seria interrompido -aparentemente, a ideia é que o terrorista potencial não saiba a localização exata da aeronave caso esteja planejando se explodir-, pessoas se levantavam para ir ao banheiro sem problemas.
A normalidade pode vir do fato de o Brasil não fazer parte da lista dos 14 "Estados patrocinadores de terrorismo ou outros países de interesse", segundo anunciado pelo governo americano no dia 3.
Os passageiros que saírem de ou passarem por esses países antes de chegar aos EUA serão alvo de "triagem intensificada".
No voo 860 da madrugada de ontem, muitos continuaram com objetos no colo, como eu; outros usavam cobertores e não foram incomodados, como sempre. Outra coisa não mudou: decolamos mais de uma hora atrasados e chegamos a Washington 1h30 depois do previsto; no taxiamento, o capitão culpou as chuvas que lavaram São Paulo na terça...


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