|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
depoimento
Revista para entrar no voo é mais severa, e só
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na noite de anteontem,
peguei um velho conhecido
para me trazer de volta à casa, em Washington: o voo
860 da United, que sai do aeroporto internacional de
Guarulhos às 23h57 e chega à
capital norte-americana às
6h25 locais (9h25 de Brasília) do dia seguinte.
Foi meu primeiro voo com
destino aos Estados Unidos
pós-"terrorista da cueca",
como já está sendo chamado
o nigeriano Umar Abdulmutallab. O da ida, na noite de
28 de dezembro, ocorrera
sem sobressaltos, já que voos
internacionais que saem dos
EUA não são o alvo das novas
medidas de segurança, mas
os de trajeto oposto.
Embalados pela desinformação proposital da TSA, a
agência federal de segurança
de transportes dos EUA, que
até hoje não anunciou oficialmente quais são tais medidas como maneira de surpreender os aspirantes a terroristas, e por relatos pontuais de alguns amigos e colegas, fomos ao embarque
preparados para o pior.
O pior era a ameaça de novos procedimentos mais invasivos e mais desconfortáveis, um ambiente mais hostil por parte tanto dos comissários de voo como da imigração e alfândega americanas, um clima de tensão na
aterrissagem.
É que, segundo os relatos e
de acordo com informações
colocadas nos sites de algumas empresas aéreas e logo
retiradas, passou a ser proibido levantar-se, ir ao banheiro, manter objetos pessoais e cobertores no colo e
mesmo tentar pegar algo na
bagagem de mão uma hora
antes de aterrissar.
Pois nada disso aconteceu.
Sim, a segunda revista, já
no corredor de entrada do
voo, em São Paulo, foi mais
rigorosa; e 45 minutos antes
de o avião descer em solo
americano os filmes de bordo e o mapinha com o trajeto
da viagem deixaram de ser
exibidos. E só.
Na entrada, homens e mulheres foram separados em
filas diferentes para ser revistados por pessoas do mesmo sexo. Fomos submetidos
àqueles pequenos detectores
de metal portáteis. Fui liberado logo; o tamanco com pinos de metal de minha mulher fez o aparelho dela apitar, o que levou a um exame
adicional do calçado.
Ela brigou ainda pelo não
confisco de uma pinça. Seu
argumento foi impecável e
bem-sucedido: "Depois que
sequestrarem um avião com
uma dessas, eu aceito abrir
mão da minha". Não vimos
ninguém sendo apalpado pelos seguranças nem ser retirado da fila.
No voo, mesmo depois do
aviso de que faltavam 45 minutos para a aterrissagem e
que o serviço de vídeo e mapa
seria interrompido -aparentemente, a ideia é que o
terrorista potencial não saiba a localização exata da aeronave caso esteja planejando se explodir-, pessoas se
levantavam para ir ao banheiro sem problemas.
A normalidade pode vir do
fato de o Brasil não fazer parte da lista dos 14 "Estados patrocinadores de terrorismo
ou outros países de interesse", segundo anunciado pelo
governo americano no dia 3.
Os passageiros que saírem
de ou passarem por esses
países antes de chegar aos
EUA serão alvo de "triagem
intensificada".
No voo 860 da madrugada
de ontem, muitos continuaram com objetos no colo, como eu; outros usavam cobertores e não foram incomodados, como sempre. Outra coisa não mudou: decolamos
mais de uma hora atrasados
e chegamos a Washington
1h30 depois do previsto; no
taxiamento, o capitão culpou
as chuvas que lavaram São
Paulo na terça...
Texto Anterior: França eleva "países de risco" de 7 para 30 Próximo Texto: Nigeriano é formalmente acusado nos EUA Índice
|