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Argentina ordena abertura de documentos da ditadura
Governo Cristina diz que sigilo é "contrário à política de memória, verdade e justiça"
Objetivo da medida é facilitar julgamentos de militares retomados após a revogação de leis de anistia no governo Néstor Kirchner
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A presidente da Argentina,
Cristina Kirchner, determinou
ontem o desbloqueio dos arquivos confidenciais referentes à
atuação das Forças Armadas
durante a última ditadura militar no país (1976-1983).
A documentação fica disponível à Justiça para subsidiar a
apuração de violações aos direitos humanos pelo regime.
O decreto que dispõe a medida observa que a reativação das
causas por crimes contra a humanidade, após a revogação, na
gestão do marido e antecessor
de Cristina, Néstor Kirchner,
das leis de anistia promulgadas
no governo Raúl Alfonsín
(1983-1989), gerou "grande
quantidade de requerimentos
judiciais de informação com
classificação de segurança confidencial". Por isso, "qualquer
limitação ao acesso da informação e documentação poderia
obstruir uma investigação
completa e, por extensão, impedir o esclarecimento dos fatos, o julgamento e a punição
dos responsáveis".
Teve início no mês passado o
julgamento de 19 acusados de
crimes contra a humanidade
cometidos na Esma (Escola de
Mecânica da Marinha), o principal centro de detenção e tortura do regime.
A Argentina contabiliza 30
mil desaparições forçadas pela
ditadura e a apropriação de 500
bebês nascidos em cativeiro.
O decreto firmado por Cristina diz que "a atuação das Forças Armadas durante a vigência
do terrorismo de Estado demonstra que a informação e documentação classificada com
caráter confidencial não esteve
destinada à proteção dos interesses legítimos próprios de
um Estado democrático, mas,
ao contrário, serviu para ocultar a ação ilegal do governo".
Segundo o texto, manter o sigilo sobre os documentos seria
"contrário à política de memória, verdade e justiça que o Estado vem adotando desde o ano
de 2003 [início da Presidência
de Néstor Kirchner]".
Os Kirchner fizeram da aproximação com entidades de defesa dos direitos humanos e do
atendimento a parte de suas
demandas um dos eixos principais de sua gestão, mas são criticados pela oposição por supostamente usarem o enfrentamento com a ditadura como
cortina de fumaça para desviar
a atenção dos problemas reais
enfrentados pela Argentina.
Cristina atribuiu "aos dinossauros que ainda estão por aí" a
ameaça que sofreu, em dezembro passado, durante um voo de
helicóptero da residência de
Olivos até a Casa Rosada.
Uma interferência fez soar a
marcha militar das Camélias,
espécie de hino da ditadura, e a
expressão "Matem a égua!".
A ameaça ocorreu no dia do
início do julgamento da "causa
Esma". Ontem, foi anunciada a
detenção de um radioamador
suspeito de praticar a interferência. Ele se recusou a depor.
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