São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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Movimento manipula raiva das pessoas

Para Joe Bageant, autointitulado porta-voz do seio da América conservadora, "Tea Party" é difamatório e não é popular

"Acho que o "Tea Party" vai capturar muitos votos republicanos, tirando-os dos moderados e dando para radicais direitistas"

DA ENVIADA A NASHVILLE

O movimento popular conservador "Tea Party" fala para o que considera a "América real", associada a gente simples, não necessariamente educada e que vive longe das costas progressistas dos EUA. Mas não conquistou todos os "rednecks" (apelido pejorativo da classe média baixa conservadora e interiorana): seu autointitulado porta-voz, Joe Bageant, afirma que o grupo não passa de um engodo.
Em entrevista à Folha, Bageant, 62, autor de "Deer Hunting with Jesus: Dispatches from America's class War" (Caçando Veados com Jesus: Relatos da Guerra de Classes na América, 2007), diz que a raiva das pessoas está sendo manipulada pelos partidos -que são todos iguais, mas oferecem "bichos papões" diferentes. (ANDREA MURTA)

 


MANIPULAÇÃO
Não tenho nada contra gente raivosa e frustrada. Meu problema é com forças conservadoras tradicionais, como o republicano Dick Armey [ex-líder da maioria republicana na Câmara e fundador do grupo FreedomWorks], que estão envolvidas até o pescoço no movimento e manipulam a raiva das pessoas para seus próprios objetivos. Outro problema é que a raiva expressada aqui é incoerente e inarticulada. Conservadores e progressistas estão irritados com a mesma coisa, mas atribuem culpas diferentes, porque cada partido lhes mostra um bicho papão diferente. É óbvio que o modo de vida americano está em declínio. Não podemos gastar tantos recursos e não podemos pagar por eles. Mas as pessoas não entendem que o mundo mudou, como não entendem que estivemos vivendo com dinheiro emprestado pelos últimos 15 anos.

TEATRO IDEOLÓGICO
Não acredito que o "Tea Party" seja realmente popular. É uma campanha difamatória. Temos uma campanha em curso de desinformação por todos os partidos e corporações. E a raiva é um fator importante na política americana. Os EUA se tornaram um teatro ideológico. Não se pode acreditar em nada à primeira vista. Nada tem significado. São só imagens.

GUERRA CULTURAL
Há uma guerra cultural real. Mas o que acontece agora é uma luta pela consciência do povo americano, essencialmente entre um sistema corporativo e um ponto de vista progressista. Eu de modo algum prefiro a visão progressista, até porque acho que os partidos são todos iguais, duas faces da moeda dos negócios. Quanto a classes, americanos não entendem que tudo é sobre classes -a autoridade das classes sobre suas vidas versus a autoridade do governo e das corporações. E as pessoas só veem o governo como inimigo.

IMPACTO POLÍTICO
Tento não prever, mas acho que o "Tea Party" vai capturar muitos votos republicanos, tirando-os dos moderados e dando a radicais direitistas. É exatamente o que as pessoas que estão orquestrando tudo isso querem, pois perderam muito terreno depois do fracasso de [George W.] Bush. Os democratas vão perder algumas vagas, mas por outro lado o discurso radical da direita pode mobilizar esquerdistas a ir às urnas -por puro medo.


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