São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011

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Quadrinista reflete insatisfação árabe

Falta de oportunidades fez com que Gihèn Ben Mahmoud deixasse a Tunísia; país detonou onda de protestos

"Não havia perseguição a artistas, mas também não tinha alternativas", diz a artista, que vive já há cinco anos na Itália

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

A falta de oportunidades, uma das razões que deram início aos protestos no mundo árabe, é também fator de repulsão a artistas na região.
Insatisfeita, a quadrinista Gihèn Ben Mahmoud, 29, desistiu do país há cinco anos e mudou-se para a Itália.
Um jovem camelô, por sua vez, ateou fogo ao próprio corpo em dezembro, deflagrando as manifestações que puseram fim à ditadura de Zine el Abdine Ben Ali.
A imolação do rapaz é vista como gatilho para um possível efeito dominó, que já ameaça o status quo no Egito de Hosni Mubarak e em outros países da região.
Mahmoud (gihenbenmahmoud.blogspot.com) desenhou a situação política do mundo árabe especialmente para a Folha. Em entrevista, falou das perspectivas de trabalho na região.
"Não havia perseguição a artistas", diz. "Mas também não tinha muitas possibilidades. A mídia era manipulada pelo governo, especialmente pela família do presidente."
A situação, afirma, é pior em nações vizinhas, como o Egito. "Nesses países, "meritocracia" não significa nada."
O traço realista de Mahmoud se tornou referência na Tunísia, sobretudo após o lançamento de "Passion Rouge", em 2008. Há previsão de um segundo volume neste ano. A HQ conta a história de uma criminosa e tem atmosfera de espionagem.
Mahmoud, que trabalha com tradução de textos em francês, italiano e árabe -com mestrado na área-, é desenhista autodidata.
"Gostam muito do meu trabalho na Tunísia", diz. "Mas isso não significa que comprem meus gibis. As "pessoas comuns" não estão interessadas em gastar dinheiro com HQs no país."
A falta de leitores, diz, leva outros artistas tunisianos a atravessar o Mediterrâneo.
Por enquanto, a quadrinista tem publicado em coletâneas, na Itália. A meta, agora, é chegar ao mercado franco-belga, o de maior prestígio no mundo dos gibis."Estou negociando com algumaseditoras",diz.
Mahmoud varia as técnicas de produção de suas HQs.
Uma possibilidade é o uso de fotografias para basear as cenas e a criação de storyboards bem definidos antes do início dos desenhos com tinta, a exemplo do que fez na história para a Folha.


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