São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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VENEZUELA

Protesto contra o presidente é o maior deste ano; estimativas apontam entre 200 mil e 500 mil manifestantes

Oposição faz marcha gigante contra Chávez

DA REDAÇÃO

Os opositores do presidente Hugo Chávez reuniram ontem uma imensa multidão em passeata pelo centro de Caracas. Segundo estimativas variadas dos responsáveis pela segurança do protesto, entre 200 mil e 500 mil venezuelanos saíram às ruas.
A manifestação, a maior realizada neste ano, foi convocada para defender a realização do referendo sobre a permanência ou não de Chávez na Presidência e para condenar as violações aos direitos humanos supostamente cometidas pelas forças de segurança durante protestos realizados em várias cidades na semana passada.
Os choques resultaram na morte de oito pessoas e em dezenas de feridos a bala. Organizações internacionais de defesa dos direitos humanos exigiram a apuração das denúncias de que soldados atiraram para matar, espancaram manifestantes e torturaram os que foram detidos. Anteontem, o procurador-geral da Venezuela, Isaias Rodríguez, ordenou a investigação "imediata" das denúncias de excessos cometidos contra os manifestantes.

"Não estou armado"
No meio da multidão que partiu de seis diferentes pontos de concentração e se reuniu em uma das principais avenidas da capital do país, um manifestante vestia camisa com a inscrição "Não estou armado, não atire! Eu sou venezuelano". Os opositores de Chávez fizeram um minuto de silêncio para homenagear os mortos nos conflitos.
"Isso [a passeata] reflete a contundente reprovação do povo venezuelano às violações dos direitos humanos cometidas pelo governo nos protestos, bem como o apoio ao referendo revocatório", disse o dirigente oposicionista Juan Fernández.
"Este é um governo criminoso e o mais corrupto da história", acusou o oposicionista Andrés Velásquez. "Vamos manter as mobilizações. Vamos seguir em frente até concretizarmos o referendo", afirmou Enrique Mendoza, o líder da oposição aglutinada na organização Coordenadoria Democrática (CD). Estimulada por Mendoza, a multidão lançou gritos de "assassino, assassino" contra Chávez.
A demonstração aconteceu enquanto ainda continuam as negociações de setores da CD com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para criar mecanismos de verificação das cerca de um milhão de assinaturas impugnadas que constavam do pedido de referendo -elas foram colocadas sob suspeita por terem aparentemente sido feitas com caligrafias idênticas nas planilhas. Os integrantes da CD que ainda não desistiram da realização do referendo querem definir logo com o CNE o número de locais para a confirmação das assinaturas e os horários e dias para a realização do processo.
Há, no entanto, entre os oposicionistas uma linha que defende o rompimento com o órgão eleitoral superior da Venezuela. "Não vamos fazer parte de uma fraude. Não vamos negociar com o CNE porque ele faz parte da grande mentira de Chávez contra a vontade de milhões", afirmou Antonio Ledezma, líder do partido Aliança Povo Destemido.
A oposição precisa confirmar a autenticidade de 600 mil assinaturas para atingir o total de 2,4 milhões necessário para a convocação do referendo.
Anteontem, em encontro com embaixadores em Caracas, o presidente Chávez disse não se opor ao plebiscito caso a oposição consiga validar as assinaturas. "Se os 600 mil ratificarem suas assinaturas haverá o referendo, como determina a Constituição", afirmou Chávez.
O presidente George W. Bush, durante uma entrevista coletiva concedida em seu rancho no Texas, disse que os EUA trabalharão em conjunto com a OEA (Organização dos Estados Americanos) "para ajudar a garantir a integridade" do processo do referendo. Bush não deu mais detalhes sobre as ações dos EUA e sua fala foi feita um dia depois de o Departamento de Estado alertar os americanos que viajarem para a Venezuela a ter "extrema cautela".
Já em Washington, Otto Reich, assessor especial para a América Latina do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca e ex-embaixador americano na Venezuela, questionou a adesão de Chávez aos princípios democráticos e o acusou de prejudicar o país. "A pessoa que está causando danos ao povo venezuelano não é Otto Reich, é o atual presidente da Venezuela, que infelizmente está aparentemente tratando de suprimir as liberdades do povo de seu país", disse.
A passeata, que não teve incidentes de violência, foi acompanhada por cerca de 3.000 policiais, bombeiros e paramédicos, enviados por prefeitos da Grande Caracas que se opõem a Chávez. O palácio presidencial e a sede do CNE foram protegidos por soldados e veículos blindados.


Com agências internacionais


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