São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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Kirchner é a grande esperança da população, afirma especialista

DE BUENOS AIRES

Apesar de reconhecer que os problemas criados pela crise econômica ainda não foram resolvidos, o argentino decidiu depositar sua esperança recém-recuperada - e sua raiva pela situação do país- nas mãos do presidente Néstor Kirchner. A avaliação é do analista político Ricardo Rouvier. A seguir, trechos da entrevista que cedeu à Folha. (CVN)

 

Folha - Analistas dizem que a crise causou uma queda na auto-estima dos argentinos, que se sentiram desmoralizados ao perceberem que não viviam num país desenvolvido. Como o sr. vê o estado de espírito da população hoje?
Ricardo Rouvier -
Está se recuperando, sobretudo sob o eixo principal que é a esperança. A esperança está baseada fundamentalmente na necessidade da ação, ou seja, que os argentinos se ponham em ação para conseguir reconstituir e reconstruir o país. Isso é o que está vivendo a Argentina hoje, mas não se pode assegurar que vá continuar assim, porque o argentino é bastante ciclotímico.
Por outro lado, o argentino sabe que os problemas do país ainda não foram resolvidos, mas, ao mesmo tempo, deposita sua esperança no presidente.
Um estudo nosso mostra a maneira como as pessoas decodificam ou reinterpretam a comunicação que o presidente faz nos discursos. Quando o presidente diz que ainda estamos no fundo do poço, as pessoas apagam essa parte e retêm o gesto empreendedor do presidente. Querem entender que o que ele está dizendo é que vamos sair da crise.

Folha - As pesquisas mostram que cresceu o sentimento de esperança entre os argentinos. Por outro lado, as pessoas falam muito de frustração e de raiva pelo que aconteceu com elas e com o país.
Rouvier -
Hoje já não há tanta raiva, há mais expectativa, esperança e preocupação com os problemas. As pessoas não estão mobilizadas para sair em manifestações porque entendem que o presidente de algum modo se encarrega dessa raiva das pessoas.

Folha - Logo depois da queda de Fernando de la Rúa (1999-2001), o sr. avaliou que a ira dos argentinos apenas descansava e que medidas urgentes seriam necessárias para evitar atos de violência. O que fez Kirchner para conter essa ira?
Rouvier -
Houve um ciclo, uma transição ordenada, a economia começou a crescer um pouco, o desemprego vem caindo lentamente, e esses são elementos que fazem mudar o humor das pessoas. Kirchner de alguma maneira expressa seu repúdio à corrupção. E as pessoas se sentem mais aliviadas com isso.



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