São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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ELEIÇÕES NOS EUA
O COMEÇO DA CAMPANHA


Bush e Kerry iniciam corrida à Casa Branca

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O republicano George W. Bush e o democrata John Kerry devem protagonizar em 2004 uma das campanhas mais longas, caras e disputadas da história dos EUA.
Na prática, a corrida pela Casa Branca começou na quarta-feira passada com a definição do Partido Democrata em torno de Kerry e a veiculação, no dia seguinte, dos primeiros anúncios de campanha de Bush. Algo incomum para o início de março.
Assim como em 2000, os EUA devem chegar rachados ao meio às urnas no dia 2 de novembro, quando será eleito o 44º presidente norte-americano.
Para o presidente candidato à reeleição, será um veredicto sobre o modo como ele vem conduzindo os EUA nos últimos três anos, com forte inclinação conservadora e uma política unilateralista em relação ao resto do mundo.
Para o senador por Massachusetts Kerry, além do desafio de resgatar visões mais liberais (termo ligado ao centro-esquerda nos EUA), há uma questão de sobrevivência para o partido.
Os republicanos controlam hoje a Presidência, o Senado, a Câmara e a maioria dos Estados. Mas o país segue dividido em questões fundamentais, que serão exploradas a fundo na atual campanha.
Será uma eleição entre o ""conservador texano" Bush e o ""liberal da Nova Inglaterra" Kerry -tão disputada quanto em 2000, quando os republicanos levaram o prêmio da Casa Branca por algumas centenas de votos -contestados- na Flórida.
Assim como há três anos, a presença do candidato independente Ralph Nader deve dificultar as coisas para os democratas.
Bush larga com imensa vantagem financeira, com mais de US$ 100 milhões em caixa, e uma máquina partidária que trabalha unida há mais de quatro anos.
Kerry conta com um partido disciplinado e unido pelo trauma da derrota de Al Gore há três anos e que fez de tudo para definir seu candidato o mais cedo possível.
Segundo Fabiola Rodriguez-Ciampoli, porta-voz do Comitê Nacional Democrata em Washington, todo o calendário de prévias este ano foi antecipado e comprimido para que o candidato do partido estivesse definido, no máximo, até 10 de março.
Foi o que ocorreu. A estratégia seguinte é manter Kerry em um nível máximo de exposição, com ataques diários a Bush que sublinhem as dúvidas em relação à confiabilidade do presidente e sobre suas posições relativas a direitos sociais e civis.
Bush já apareceu na TV na semana passada apoiado na imagem de líder pós-atentados de 11 de setembro de 2001, o que gerou controvérsia entre as famílias das vítimas dos ataques.
Em uma fase seguinte, os republicanos começarão a definir Kerry como um esquerdista que só pensa em aumentar impostos para gastar mais e em corroer o ""caráter" americano.
Por trás das duas campanhas, que certamente serão as mais caras da história, devem prevalecer os mesmos interesses da ""América corporativa" que os democratas acusam estar por trás da Presidência hoje.
Bush e Kerry abriram mão do financiamento público de campanha em 2004, o que os deixou livres para arrecadar o quanto puderem no período eleitoral.
É Bush o acusado de representar os interesses corporativos de empresas como a Enron e a Halliburton, ligada a seu vice-presidente, Dick Cheney.
Mas, por trás da carreira de Kerry, têm figurado nos últimos anos alguns dos mais rentáveis setores da economia americana.
Em quatro mandatos como senador, Kerry sempre retribuiu com emendas e projetos as maiores empresas de tecnologia e bancos do país que ajudaram a financiar sua carreira -de 19 anos- no Congresso.
Advogados e lobistas da AOL Time Warner, da AT&T e da Comcast estão entre os maiores doadores das campanhas de Kerry. No setor financeiro, as maiores contribuições vieram do gigante FleetBoston, com sede no Estado natal do senador.
Em 2004, o banco planeja ceder o seu imenso centro de convenções, o FleetCenter, em Boston, para a Convenção Nacional Democrata que oficializará o nome de Kerry em julho e ajudará a organização com US$ 1,25 milhão.
No Senado, Kerry é membro permanente tanto da Subcomissão de Comércio e Comunicações, que fiscaliza as atividades da FCC (Federal Communications Commission), quanto da Comissão de Finanças, que ajuda a regulamentar atividades bancárias.
""Durante sua carreira como senador, Kerry nunca demonstrou aversão em tomar dinheiro de empresas que tinham interesse direto em seu trabalho", afirma Charles Lewis, do Centro por Integridade Pública, um respeitado instituto de Washington que fiscaliza partidos e contribuições.
Desta vez, a novidade será ver a dimensão dos apoios que o democrata receberá em sua estréia na arena nacional.



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