|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES NOS EUA
O COMEÇO DA CAMPANHA
Bush e Kerry iniciam corrida à Casa Branca
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O republicano George W. Bush
e o democrata John Kerry devem
protagonizar em 2004 uma das
campanhas mais longas, caras e
disputadas da história dos EUA.
Na prática, a corrida pela Casa
Branca começou na quarta-feira
passada com a definição do Partido Democrata em torno de Kerry
e a veiculação, no dia seguinte,
dos primeiros anúncios de campanha de Bush. Algo incomum
para o início de março.
Assim como em 2000, os EUA
devem chegar rachados ao meio
às urnas no dia 2 de novembro,
quando será eleito o 44º presidente norte-americano.
Para o presidente candidato à
reeleição, será um veredicto sobre
o modo como ele vem conduzindo os EUA nos últimos três anos,
com forte inclinação conservadora e uma política unilateralista em
relação ao resto do mundo.
Para o senador por Massachusetts Kerry, além do desafio de
resgatar visões mais liberais (termo ligado ao centro-esquerda nos
EUA), há uma questão de sobrevivência para o partido.
Os republicanos controlam hoje
a Presidência, o Senado, a Câmara
e a maioria dos Estados. Mas o
país segue dividido em questões
fundamentais, que serão exploradas a fundo na atual campanha.
Será uma eleição entre o ""conservador texano" Bush e o ""liberal
da Nova Inglaterra" Kerry -tão
disputada quanto em 2000, quando os republicanos levaram o prêmio da Casa Branca por algumas
centenas de votos -contestados- na Flórida.
Assim como há três anos, a presença do candidato independente
Ralph Nader deve dificultar as
coisas para os democratas.
Bush larga com imensa vantagem financeira, com mais de US$
100 milhões em caixa, e uma máquina partidária que trabalha unida há mais de quatro anos.
Kerry conta com um partido
disciplinado e unido pelo trauma
da derrota de Al Gore há três anos
e que fez de tudo para definir seu
candidato o mais cedo possível.
Segundo Fabiola Rodriguez-Ciampoli, porta-voz do Comitê
Nacional Democrata em Washington, todo o calendário de prévias este ano foi antecipado e
comprimido para que o candidato do partido estivesse definido,
no máximo, até 10 de março.
Foi o que ocorreu. A estratégia
seguinte é manter Kerry em um
nível máximo de exposição, com
ataques diários a Bush que sublinhem as dúvidas em relação à
confiabilidade do presidente e sobre suas posições relativas a direitos sociais e civis.
Bush já apareceu na TV na semana passada apoiado na imagem de líder pós-atentados de 11
de setembro de 2001, o que gerou
controvérsia entre as famílias das
vítimas dos ataques.
Em uma fase seguinte, os republicanos começarão a definir
Kerry como um esquerdista que
só pensa em aumentar impostos
para gastar mais e em corroer o
""caráter" americano.
Por trás das duas campanhas,
que certamente serão as mais caras da história, devem prevalecer
os mesmos interesses da ""América corporativa" que os democratas acusam estar por trás da Presidência hoje.
Bush e Kerry abriram mão do financiamento público de campanha em 2004, o que os deixou livres para arrecadar o quanto puderem no período eleitoral.
É Bush o acusado de representar os interesses corporativos de
empresas como a Enron e a Halliburton, ligada a seu vice-presidente, Dick Cheney.
Mas, por trás da carreira de
Kerry, têm figurado nos últimos
anos alguns dos mais rentáveis setores da economia americana.
Em quatro mandatos como senador, Kerry sempre retribuiu
com emendas e projetos as maiores empresas de tecnologia e bancos do país que ajudaram a financiar sua carreira -de 19 anos-
no Congresso.
Advogados e lobistas da AOL
Time Warner, da AT&T e da
Comcast estão entre os maiores
doadores das campanhas de
Kerry. No setor financeiro, as
maiores contribuições vieram do
gigante FleetBoston, com sede no
Estado natal do senador.
Em 2004, o banco planeja ceder
o seu imenso centro de convenções, o FleetCenter, em Boston,
para a Convenção Nacional Democrata que oficializará o nome
de Kerry em julho e ajudará a organização com US$ 1,25 milhão.
No Senado, Kerry é membro
permanente tanto da Subcomissão de Comércio e Comunicações, que fiscaliza as atividades da
FCC (Federal Communications
Commission), quanto da Comissão de Finanças, que ajuda a regulamentar atividades bancárias.
""Durante sua carreira como senador, Kerry nunca demonstrou
aversão em tomar dinheiro de
empresas que tinham interesse
direto em seu trabalho", afirma
Charles Lewis, do Centro por Integridade Pública, um respeitado
instituto de Washington que fiscaliza partidos e contribuições.
Desta vez, a novidade será ver a
dimensão dos apoios que o democrata receberá em sua estréia
na arena nacional.
Texto Anterior: ONG diz que há 27 milhões de escravos Próximo Texto: Política entrou cedo na vida do pré-candidato Índice
|