São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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ESPANHA

Campanha tem clima calmo, mas com fantasma de 2004

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Pablo Ordaz é uma espécie de âncora do noticiário eleitoral para o jornal "El País", o de maior circulação na Espanha, e faz um texto entre noticioso e analítico que acaba sendo o resumo do dia da campanha eleitoral.
Ontem, o título era hermético para não-iniciados em Espanha: "Que hoje seja apenas quinta-feira".
Refere-se a um fantasma: na quinta-feira antes das eleições anteriores, houve o mais grave atentado terrorista jamais praticado em solo europeu (contra aviões, já houve mais grave). Bombas em diferentes trens mataram 192 pessoas em 11 de março de 2004.
Agora, é março de novo, ontem foi uma quinta-feira de novo e, no domingo, haverá de novo uma eleição.
Mais: como lembra Ordaz, há quatro anos, o jornal "El País" da quinta 11 de março publicava entrevista com um candidato à Presidência do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, que acabou pelo PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol).
Nesta quinta-feira, o entrevistado foi Mariano Rajoy, candidato derrotado por Zapatero em 2004 e que tenta de novo no domingo, sempre pelo conservador Partido Popular. Para uma sociedade à qual se atribui o ditado "no creo en brujas, pero que las hay, las hay", é coincidência demais.
Mas a quinta-feira prévia à eleição passou sem bombas e sem emoções mais fortes (pelo menos até a hora do fechamento desta Folha).
A campanha eleitoral, aliás, correu mansa, quase monótona. Mas os trens do 11 de março de 2004 ficaram no debate dos candidatos por uma razão simples: os atentados acabaram sendo decisivos para dar a vitória a Zapatero, não tanto por terem sido praticados, mas pela manipulação da informação dada a respeito deles pelo governo do PP.
O foco foi, até a véspera da votação, atribuir o atentado ao grupo terrorista basco ETA. Quando ficou evidente que o ataque na verdade foi praticado por radicais islâmicos, o eleitorado preferiu dar o voto ao PSOE, quando todas as pesquisas até então apontavam a vitória do PP.
Quatro anos depois, a oposição insiste em acusar Zapatero de ter dado "legitimidade política" ao ETA.
Por isso mesmo, o fantasma ficou flutuando sobre a campanha. Uma enquete no site de "El País" é clara, embora não tenha caráter científico: à pergunta quem perde mais se houvesse um atentado, 57% responderam "PSOE , e só 11%, PP.


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