São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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Hillary e Lavrov "reiniciam" relação entre EUA e Rússia

Prioridade será renovação de tratado de desarmamento que vence no fim do ano

Apesar do clima amistoso do encontro, dois chanceleres deixam claro que persistem divergências, em especial sobre projeto nuclear do Irã

Fabrice Coffrine/Reuters
Lavrov e Hillary apertam o botão de "reiniciar", presente da secretária de Estado americana ao colega russo

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Estados Unidos e Rússia concordaram ontem em abrir uma nova página nas relações entre os dois países, desgastadas por anos de atritos durante o governo de George W. Bush. A prioridade será a renovação do acordo de desarmamento nuclear assinado entre Washington e Moscou no fim da Guerra Fria, que expira em dezembro.
Em um primeiro encontro marcado por sorrisos e anedotas, mas que não ocultaram as divergências que persistem, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, transmitiu ao ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, a mensagem que a Casa Branca vem repetindo nos últimos dias: é hora de recomeçar.
O esforço chegou a produzir uma gafe, quando Hillary deu de presente ao ministro russo um botão vermelho e a palavra "reset" (recomeço, em inglês), traduzida erroneamente para o russo como "peregruzka" (sobrecarga; leia texto ao lado).
Na entrevista após o encontro, em um hotel de Genebra, Hillary e Lavrov aproveitaram o erro de tradução para dizer que a agenda entre os dois países é pesada, mas há muitos pontos de interesse comum.
"Nada ficou fora da mesa", disse Hillary. Olhando para o ministro russo, a quem se referiu o tempo todo pelo primeiro nome, ela deixou claro que promover a distensão com Moscou é uma opção estratégica do governo de Barack Obama.
Essa será também a mensagem de Obama em seu primeiro encontro com o presidente russo, Dmitri Medvedev, na reunião do G20 em Londres, no começo de abril. "Este é um novo começo, não apenas para melhorar a nossa relação bilateral, mas para liderar o mundo em importantes áreas, em particular com respeito a armas nucleares e segurança nuclear."
Hillary e Lavrov reiteraram que a prioridade da agenda bilateral é chegar a um novo acordo nuclear para substituir o Start 2 (Tratado de Redução de Armas Estratégicas), assinado em 1991. O acordo, que Lavrov disse estar "ultrapassado", impõe limites aos arsenais nucleares dos dois países.

Irã
As relações entre Moscou e Washington azedaram durante o governo Bush, atingindo seu pior momento desde o fim da Guerra Fria. Um dos principais fatores de tensão foi o escudo antimísseis que os EUA querem estender à República Tcheca e à Polônia.
Ontem esse tema praticamente não foi mencionado na entrevista coletiva, mas o Irã, que o governo Bush afirmava ser um dos alvos do escudo, ocupou boa parte dela.
Embora o governo Obama tenha manifestado disposição de dialogar com o Irã, Hillary disse que os EUA ainda não consideram a suspensão das sanções contra o regime dos aiatolás -"uma das maiores ameaças à humanidade", disse, é o risco de armas atômicas caírem em "mãos erradas".
"Conversamos longamente sobre o Irã", disse Hillary. "Explicamos nossa ampla revisão dos passos que podem servir para dissuadir o Irã de adquirir armas nucleares." Nesta semana, o governo americano vazou que Obama mandou uma carta a Medvedev, propondo rever o escudo em troca de ajuda contra o projeto nuclear iraniano.
O chanceler russo, por sua vez, defendeu as vendas de armas ao Irã, afirmando que elas não violam nenhuma lei internacional. Lavrov disse ainda que os laços entre Teerã e Moscou não devem enfraquecer a ação diplomática russa pela estabilidade do Oriente Médio.
Antes de Genebra, Hillary fez em Bruxelas sua estreia europeia como secretária de Estado. Em uma sessão de perguntas, foi ovacionada durante 50 minutos em uma reunião informal com cidadãos.


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