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PÓS-GUERRA
Casa Branca diz querer dar poder a iraquianos o quanto antes e indica que ONU não controlará o país
EUA ficarão mais de 6 meses no Iraque
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
A administração americana no
Iraque durará mais de seis meses,
indicou ontem o subsecretário da
Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz.
Ao lembrar que os curdos levaram seis meses para formar um
governo no norte do Iraque após
a primeira Guerra do Golfo, ele
afirmou: "Essa é uma situação
mais complicada. Provavelmente
durará mais tempo que isso".
Wolfowitz, um dos mais proeminentes falcões da administração Bush e arquiteto da guerra ao
Iraque, foi o homem escalado ontem pelo governo para aparecer
nas entrevistas da TV americana
-usualmente, um único nome
do primeiro escalão vai a todos os
estúdios a cada domingo.
Ele ressaltou que a intenção dos
EUA é entregar o poder aos iraquianos o quanto antes. "Uma
administração internacional permanente não é um modelo que
queremos seguir", afirmou.
Com isso, Wolfowitz voltou a
enviar sinais de que o governo
Bush não dará à ONU o controle
do país após a guerra -a ela ficaria reservado o apoio na ajuda humanitária e na reconstrução.
Ontem, o secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, convocou
uma reunião do Conselho de Segurança para discutir a situação
do Iraque -o encontro está marcado para a manhã de hoje.
Também ontem, dois dos principais jornais americanos, o
"Washington Post" e o "Los Angeles Times", pediram ao governo
que considere o papel da ONU no
Iraque. "Se [os iraquianos" acharem que a ONU está isolada na
ocupação e reconstrução do Iraque, será mais difícil sustentar as
boas intenções da missão", opinou o "Post".
Enquanto a ONU e os jornais
debatem, os EUA já se preparam
para oficializar uma administração provisória no Iraque, mesmo
sem ter ainda vencido a guerra.
O maior obstáculo a isso, porém, são as divisões internas do
próprio governo. De um lado, o
secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, defende que o país instale uma nova administração
imediatamente. Segundo a revista
"US News", ele até enviou dois
memorandos ao presidente George W. Bush com a sugestão.
Mas o Departamento de Estado,
comandado por Colin Powell,
opõe-se à idéia, sob o argumento
de que os EUA devem antes identificar os líderes iraquianos que
emergiriam com Saddam fora para então instalar um governo.
Um nome no meio da queda-de-braço é o do exilado iraquiano
Ahmed Chalabi, 58. Ele é apoiado
pelo Pentágono para protagonizar a nova administração. Mas o
Departamento de Estado não o vê
com legitimidade para tanto, já
que deixou o Iraque em 1958.
De olho na disputa pelo poder
no Iraque, o Congresso americano direcionou a Powell um fundo
de US$ 2,5 bilhões para reconstrução do país, uma manobra para evitar que a tarefa seja abraçada
apenas por Rumsfeld.
Embora não se saiba ao certo
quem responderá pela missão em
Washington, já se conhece o nome do americano responsável por
ela no Iraque: Jay Garner, oficial
aposentado do Exército, que
aguarda no Kuwait para agir.
Subordinados a ele haveria três
outros nomes, segundo o jornal
inglês "The Observer": o general
aposentado Buck Walters cuidaria do sul do Iraque, o general
Bruce Moore ficaria com o norte,
e Barbara Bodine, ex-embaixadora no Iêmen, teria base em Bagdá.
O jornal disse ainda que a instalação desse governo provisório
começaria já nesta semana, mesmo que os combates continuem
em Bagdá. Segundo oficiais dos
EUA, que falaram ao "Observer"
sob a condição de anonimato, cidades do sul do país, como Umm
Qasr, seriam as primeiras a receber a estrutura do pós-guerra.
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