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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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PÓS-GUERRA

Casa Branca diz querer dar poder a iraquianos o quanto antes e indica que ONU não controlará o país

EUA ficarão mais de 6 meses no Iraque

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

A administração americana no Iraque durará mais de seis meses, indicou ontem o subsecretário da Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz.
Ao lembrar que os curdos levaram seis meses para formar um governo no norte do Iraque após a primeira Guerra do Golfo, ele afirmou: "Essa é uma situação mais complicada. Provavelmente durará mais tempo que isso".
Wolfowitz, um dos mais proeminentes falcões da administração Bush e arquiteto da guerra ao Iraque, foi o homem escalado ontem pelo governo para aparecer nas entrevistas da TV americana -usualmente, um único nome do primeiro escalão vai a todos os estúdios a cada domingo.
Ele ressaltou que a intenção dos EUA é entregar o poder aos iraquianos o quanto antes. "Uma administração internacional permanente não é um modelo que queremos seguir", afirmou.
Com isso, Wolfowitz voltou a enviar sinais de que o governo Bush não dará à ONU o controle do país após a guerra -a ela ficaria reservado o apoio na ajuda humanitária e na reconstrução.
Ontem, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, convocou uma reunião do Conselho de Segurança para discutir a situação do Iraque -o encontro está marcado para a manhã de hoje.
Também ontem, dois dos principais jornais americanos, o "Washington Post" e o "Los Angeles Times", pediram ao governo que considere o papel da ONU no Iraque. "Se [os iraquianos" acharem que a ONU está isolada na ocupação e reconstrução do Iraque, será mais difícil sustentar as boas intenções da missão", opinou o "Post".
Enquanto a ONU e os jornais debatem, os EUA já se preparam para oficializar uma administração provisória no Iraque, mesmo sem ter ainda vencido a guerra.
O maior obstáculo a isso, porém, são as divisões internas do próprio governo. De um lado, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, defende que o país instale uma nova administração imediatamente. Segundo a revista "US News", ele até enviou dois memorandos ao presidente George W. Bush com a sugestão.
Mas o Departamento de Estado, comandado por Colin Powell, opõe-se à idéia, sob o argumento de que os EUA devem antes identificar os líderes iraquianos que emergiriam com Saddam fora para então instalar um governo.
Um nome no meio da queda-de-braço é o do exilado iraquiano Ahmed Chalabi, 58. Ele é apoiado pelo Pentágono para protagonizar a nova administração. Mas o Departamento de Estado não o vê com legitimidade para tanto, já que deixou o Iraque em 1958.
De olho na disputa pelo poder no Iraque, o Congresso americano direcionou a Powell um fundo de US$ 2,5 bilhões para reconstrução do país, uma manobra para evitar que a tarefa seja abraçada apenas por Rumsfeld.
Embora não se saiba ao certo quem responderá pela missão em Washington, já se conhece o nome do americano responsável por ela no Iraque: Jay Garner, oficial aposentado do Exército, que aguarda no Kuwait para agir.
Subordinados a ele haveria três outros nomes, segundo o jornal inglês "The Observer": o general aposentado Buck Walters cuidaria do sul do Iraque, o general Bruce Moore ficaria com o norte, e Barbara Bodine, ex-embaixadora no Iêmen, teria base em Bagdá.
O jornal disse ainda que a instalação desse governo provisório começaria já nesta semana, mesmo que os combates continuem em Bagdá. Segundo oficiais dos EUA, que falaram ao "Observer" sob a condição de anonimato, cidades do sul do país, como Umm Qasr, seriam as primeiras a receber a estrutura do pós-guerra.


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