São Paulo, terça-feira, 07 de abril de 2009

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Terremoto mata ao menos 150 na Itália

Sismo na região de Abruzzo foi o mais letal no país desde 1980; 1.500 pessoas ficaram feridas, e 250 estão desaparecidas

Desabrigados são ao menos 50 mil; governo decretou estado de emergência e anunciou 30 milhões para auxílio às vítimas do tremor

Livio Antico/Reuters
Vista aérea de Áquila, capital da região de Abruzzo e cidade mais afetada pelo terremoto, que destruiu 10 mil prédios; ao lado, uma moradora desabrigada, outra ferida e bombeiro durante resgate

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ÁQUILA (ITÁLIA)

O pior terremoto em três décadas na Itália deixou pelo menos 150 mortos, 1.500 feridos e 50 mil desabrigados na região de Abruzzo, cerca de 100 km ao leste de Roma.
O tremor, de 5,8 na escala Richter, segundo medição italiana, ou de 6,3, segundo o Serviço Geológico dos EUA, foi sentido em 26 cidades, mas atingiu com mais intensidade a capital regional, Áquila, onde 21 horas depois do sismo, por volta das 3h30 de ontem na Itália (22h30 de domingo no Brasil), ainda seguiam as tentativas de resgatar as vítimas.
A Folha assistiu às operações em um prédio desabado de quatro andares, de onde uma sobrevivente já havia sido retirada, mas onde ainda havia outros quatro soterrados. No total, os bombeiros haviam resgatado até a noite de ontem 60 pessoas com vida dos escombros, mas os desaparecidos eram estimados em 250. Calcula-se que ao menos 10 mil prédios tenham sido total ou parcialmente destruídos.
"É uma tragédia sem precedentes nos anos recentes", afirmou o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que cancelou viagem que faria à Rússia para visitar a área atingida pelo terremoto. O premiê, que decretou estado de emergência, anunciou ainda que destinaria 30 milhões para auxílio às vítimas e disse esperar que a União Europeia tomasse medida semelhante.
A cidade de Áquila, de cerca de 70 mil habitantes, lembrava um campo de batalha depois da guerra. A escuridão só não era total por causa dos holofotes nos pontos de resgate. Todos os prédios que não ruíram foram desocupados, e vários corriam risco de desabamento. As ruas estavam repletas de ladrilho e tijolos dos prédios destruídos. As pessoas acampavam nas praças, outras dormiam em carros, em meio à chuva e a uma temperatura de 7C.
As autoridades instaram todos a deixar a cidade, inclusive os jornalistas, orientados em ficar em hotéis em cidades próximas, por temor dos efeitos de tremores menores que costumam suceder grandes sismos.

Apocalipse
Domenico Zia, 32, era proprietário de uma hospedaria completamente destruída pelo terremoto. Ele contou à Folha que houve três temores. O primeiro o acordou, o segundo foi um pouco mais forte, e o terceiro foi o mais devastador.
"Ajudei um rapaz a tirar a mãe dos escombros, mas era tarde demais. Ela morreu na frente dele", ele contou enquanto observava o resgate em um outro prédio, onde um amigo seu estaria soterrado.
"Vivi 20 segundos no inferno. Minha casa desabou, não dá para recuperar nada. Há três meses que vínhamos sentindo tremores, cada vez mais fortes, mas ontem foi o apocalipse", disse Maria Francesco à agência France Presse.
Além dos mortos, feridos e desabrigados, o terremoto também infligiu sérios danos a várias construções históricas da região, como um castelo do século 15 (leia texto à pág. A10).
O último terremoto com vítimas na Itália ocorrera em abril de 2003, quando 30 pessoas morreram na região de San Giuliano di Puglia. O tremor de ontem é o mais letal desde 23 de novembro de 1980, quando 2.735 pessoas perderam as vidas na região de Nápoles.
"Nós temos terremotos, mas depois nos esquecemos deles e não fazemos nada. Não faz parte da nossa cultura tomar precauções ou fazer construções apropriadas em áreas onde poderia haver fortes terremotos", disse ontem Enzo Boschi, diretor do Instituto Nacional de Geofísica italiano.
Maria D'Andrea, 82, moradora de Áquila, parecia confirmar a tese de Boschi. "Não saio por nada neste mundo do meu apartamento, que está intacto, porque foi construído pelo meu irmão, que é arquiteto, com materiais antissísmicos. Mas é lógico que vou passar a noite em claro", afirmou.

Sem brasileiros
Consultada pela Folha, a Embaixada do Brasil na Itália disse que não havia nenhuma informação sobre a presença de brasileiros entre os mortos ou desaparecidos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou notas de pesar a Berlusconi e ao presidente italiano, Giorgio Napolitano, dizendo-se "muito entristecido com as dolorosas perdas humanas" e expressando " a solidariedade do governo e do povo brasileiros".


Com agências internacionais

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