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Africâneres sonham com um país exclusivo
DO ENVIADO A VENTERSDORP
Símbolos e ideias mais facilmente encontrados nos museus da África do Sul ganharam
ontem as ruas de Ventersdorp.
Cerca de 200 manifestantes
africâneres, a maioria fazendeiros, fizeram uma vigília junto
ao fórum com indisfarçável
nostalgia do apartheid.
"Não havia tantos assassinatos naquela época. E mesmo os
negros não eram tão pobres",
disse Sarie Visser, 73, fundadora do AWB, o grupo que era liderado por Eugene Terreblanche. A seu lado, o neto Juan, 13,
usava um broche com a antiga
bandeira sul-africana, símbolo
do regime segregacionista.
O assassinato ressuscitou
uma causa antiga dos radicais
brancos, a criação de uma "pátria" só para eles. "Queremos
um pedaço de terra na costa.
Queremos viver de acordo com
nossa cultura e iremos à ONU
pedir o reconhecimento desse
direito", afirmou o porta-voz
do grupo, Pieter Steyn.
Segundo ele, a "nação arco-íris", slogan usado pelo governo
para representar a harmonia
entre as diferentes raças, é uma
ficção. "Não existe a cor negra
no arco-íris", afirmou.
O AWB afirma que desde a
morte de Terreblanche, no último sábado, mais de 3.000 pedidos de filiação ao grupo chegaram. Parte dos que estavam
reunidos ontem não são ligados
ao grupo, mas aproveitaram o
crime para se manifestar. Um
deles, Koos van der Merwe, 37,
dirigiu 1.400 km para protestar
contra a "inaceitável matança"
de fazendeiros -3.000 desde o
fim do apartheid, em 1994.
"Caça aos fazendeiros. Licenças grátis emitidas pelo CNA
[partido do governo]", dizia o
cartaz de Pieter Marx, 41.
Muitos manifestantes usavam roupas com estampas militares, num recado claro de
que estão preparados para reagir. O AWB, embora afirme que
está em processo de "desmilitarização", ainda tem muitos
membros com armas.
A presença ostensiva de tantos africâneres não intimidou
negros que foram dar apoio aos
dois acusados. "Terreblanche
era um cara bruto. Não estou
triste", disse Johannes Boikany, 35, segurança.
A seu lado, pessoas que
acompanhavam sua conversa
com a Folha fizeram eco. "Estamos felizes como nunca",
disse uma garota. "Ele teve o
que mereceu", disse outra.
(FZ)
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