São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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Africâneres sonham com um país exclusivo

DO ENVIADO A VENTERSDORP

Símbolos e ideias mais facilmente encontrados nos museus da África do Sul ganharam ontem as ruas de Ventersdorp. Cerca de 200 manifestantes africâneres, a maioria fazendeiros, fizeram uma vigília junto ao fórum com indisfarçável nostalgia do apartheid.
"Não havia tantos assassinatos naquela época. E mesmo os negros não eram tão pobres", disse Sarie Visser, 73, fundadora do AWB, o grupo que era liderado por Eugene Terreblanche. A seu lado, o neto Juan, 13, usava um broche com a antiga bandeira sul-africana, símbolo do regime segregacionista.
O assassinato ressuscitou uma causa antiga dos radicais brancos, a criação de uma "pátria" só para eles. "Queremos um pedaço de terra na costa. Queremos viver de acordo com nossa cultura e iremos à ONU pedir o reconhecimento desse direito", afirmou o porta-voz do grupo, Pieter Steyn.
Segundo ele, a "nação arco-íris", slogan usado pelo governo para representar a harmonia entre as diferentes raças, é uma ficção. "Não existe a cor negra no arco-íris", afirmou.
O AWB afirma que desde a morte de Terreblanche, no último sábado, mais de 3.000 pedidos de filiação ao grupo chegaram. Parte dos que estavam reunidos ontem não são ligados ao grupo, mas aproveitaram o crime para se manifestar. Um deles, Koos van der Merwe, 37, dirigiu 1.400 km para protestar contra a "inaceitável matança" de fazendeiros -3.000 desde o fim do apartheid, em 1994.
"Caça aos fazendeiros. Licenças grátis emitidas pelo CNA [partido do governo]", dizia o cartaz de Pieter Marx, 41.
Muitos manifestantes usavam roupas com estampas militares, num recado claro de que estão preparados para reagir. O AWB, embora afirme que está em processo de "desmilitarização", ainda tem muitos membros com armas.
A presença ostensiva de tantos africâneres não intimidou negros que foram dar apoio aos dois acusados. "Terreblanche era um cara bruto. Não estou triste", disse Johannes Boikany, 35, segurança.
A seu lado, pessoas que acompanhavam sua conversa com a Folha fizeram eco. "Estamos felizes como nunca", disse uma garota. "Ele teve o que mereceu", disse outra. (FZ)


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