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RELATÓRIO
Piores formas incluem escravidão, prostituição e recrutamento forçado de crianças para uso em conflito armado
Trabalho infantil atinge 246 milhões no mundo
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Cerca de 246 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 17
anos -uma em cada seis- são
submetidas a trabalho infantil, segundo relatório divulgado ontem
pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT). Dessas, 179
milhões (72,7%) correm perigo
no trabalho, sobretudo em obras,
e 8,4 milhões desenvolvem as
"piores e intoleráveis formas de
trabalho", que incluem escravidão, prostituição e recrutamento
forçado de crianças para uso em
conflito armado (veja quadro).
No relatório mais detalhado divulgado sobre o assunto, a agência da ONU diz que o problema se
concentra na Ásia e na região do
Pacífico, onde 127,3 milhões de
crianças entre cinco e 14 anos trabalham. Esse número corresponde a 16% da população infantil na
região. Já na África, apesar de o
número absoluto ser menor (48
milhões), a porcentagem é bem
superior (41%).
Acredita-se que ao menos 120
mil crianças e adolescentes tenham sido forçadas a pegar em
armas como soldados, carregadores militares ou escravos sexuais
na África. Na Tanzânia, crianças
com até oito anos fazem escavações a 30 metros abaixo do solo
em minas, durante oito horas por
dia, sem iluminação e sem ventilação adequadas -expostas ao
perigo de ferimento ou morte devido a desabamentos.
Na Turquia, 1,4 milhão de crianças -ou 87% de todas as crianças
que vivem nas zonas rurais-
eram trabalhadoras familiares
sem salário em 1994. Esse número
caiu para 0,9 milhão em 1999.
Em 1995, cerca de 250 milhões
de crianças entre cinco e 14 anos
trabalhavam de forma prejudicial. O relatório divulgado ontem
registrou 206 milhões de crianças,
uma redução de quase 20%, mas
segundo Caroline O'Reilly, editora do relatório, "é preciso ter cautela, pois tanto as fontes quanto os
métodos utilizados foram diferentes. Parte dessa redução se deve à melhora na apuração e no
processamento dos dados".
O'Reilly disse à Folha, por telefone, que "a maior parte do trabalho infantil ocorre na economia
informal, o que dificulta a obtenção de um número mais preciso.
A boa nova é que cada vez mais os
países se mostram cientes da gravidade do problema e se dispõem
ao menos a ratificar as convenções que combatem essa prática".
Em menos de três anos, mais de
cem países, incluindo o Brasil, ratificaram a Convenção 182 da OIT
(de 1999), que defende uma ação
imediata para banir as piores formas de trabalho infantil.
A ratificação, porém, não garante o fim da prática. Diversos
países, sobretudo na África, desrespeitam convenções internacionais relativas ao trabalho infantil
que se comprometeram em adotar. A prática, embora mais acentuada, não se restringe a países em
desenvolvimento. Cerca de 2,5
milhões de crianças trabalham
em países desenvolvidos e outras
2,4 milhões, em economias de
transição no Leste Europeu.
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