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Político controvertido seduziu eleitor com idéias simples
DO ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Nicolas Sarkozy de Nagy-Bocsa, 52, filho de judeus húngaros batizado como católico, é
o homens mais controvertido
da história republicana francesa. Político hiperativo, capaz de
transmitir a idéia de alguém
que tudo pode e tudo faz, o presidente eleito francês seduziu o
eleitorado com algumas idéias
simples. Opõem-se à idéia de
elite para valorizar a do mérito
num país em que uma casta financeira ou saída das grandes
escolas mantêm o comando do
Estado, 208 anos depois da Revolução Francesa.
Por meio de um hábil controle de seu próprio marketing,
Sarkozy também defende o trabalho como valor absoluto, acenando para aqueles que procuram subir na vida independentemente das políticas protetoras do Estado. A mídia britânica e alemã vê nele alguém que
reconciliará os franceses com o
liberalismo e a globalização.
Ao lado dessas modernidades, no entanto, Nicolas Sarkozy é um produto menos confiável por sua ascensão fulgurante, ainda desprovida de um
currículo histórico pessoal ou
de uma confiabilidade só dada
pela longa experiência.
Seus biógrafos notam que
aos 28 anos, quando se elegeu
prefeito do subúrbio parisiense
de Neuilly-sur-Seine, Sarkozy
já se comportava de acordo
com o diapasão presidencial.
A ambição é na França algo
que se esconde. Mas Sarkozy
nunca escondeu nos últimos
cinco anos -desde que se tornou pela segunda vez ministro
do Interior e passou a ter um
comportamento presidenciável- ser esse seu objetivo. Sua
ascensão no bloco de centro direita se deu por força da imagem da autoridade, capaz de intervir em defesa da ordem pública, ou, caso ela não estivesse
verdadeiramente ameaçada,
apontar para os perigos implícitos da criminalidade ou da
minoria de imigrantes.
Os franceses, de certo modo,
elegeram um "protetor" do emprego, da cultura secular e do
trabalho, blindando-os para
que a França, mesmo com um
Estado enfraquecido pelo liberalismo, relacione-se em posição econômica favorável com
os demais países da União Européia e de todo o mundo.
Não será fácil segurar esse
conjunto carregado de expectativas. Mas Sarkozy acabou por
encarnar a imagem que ele próprio fabricou.
Ele nasceu em Paris, em
1955. Teve dois irmãos, um empresário no setor têxtil, outro,
pediatra. O pai se divorciou de
sua mãe quando ele estava com
quatro anos. Os costumes familiares de castelões húngaros
contrastam com a ausência de
patrimônio, com uma vida
apertada.
Sarkozy forma-se em direito.
Faz um mestrado na área e não
chega a concluir o doutorado
em ciências políticas. Casa-se
aos 28 anos com Marie-Dominique Culioli, filha de um farmacêutico da Córsega, com
quem terá dois filhos. Seu segundo casamento, em 1996, será com Cécilia Ciganer Albeniz,
que lhe dará um terceiro filho.
Ligado a Jacques Chirac, elege-se deputado aos 33 anos e se
torna, aos 38, ministro do Orçamento. Foi ministro da Economia e ocupou por duas vezes o
Ministério do Interior.
Com Chirac ele mantém uma
relação de amor e ódio. Zarkozy
o "apunhala pelas costas" (expressão de Bernadette Chirac,
ainda primeira-dama) quando
em 1995 dá as costas ao atual
presidente para apoiar a candidatura presidencial de Edouard
Balladur. Mas as relações pessoais dentro do bloco se refazem. Bernadette presenciou o
último comício de Sarkozy na
semana passada.
Seu estilo "deixa que eu chuto" o leva a atritos com o Judiciário, por pedir abertamente a
punição de um juiz por uma
sentença com a qual não concordava, e com as entidades de
direitos humanos, pela truculência que a polícia utiliza contra manifestantes muçulmanos
ou contra jovens da classe média que protestam contra a Lei
do Primeiro Emprego.
A esquerda julgava precipitadamente que Sarkozy é um homem, por isso tudo, desgastado. Mas ele sabia estar acumulando forças para chegar habilmente aonde ontem chegou.
(JBN)
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