São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Político controvertido seduziu eleitor com idéias simples

DO ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Nicolas Sarkozy de Nagy-Bocsa, 52, filho de judeus húngaros batizado como católico, é o homens mais controvertido da história republicana francesa. Político hiperativo, capaz de transmitir a idéia de alguém que tudo pode e tudo faz, o presidente eleito francês seduziu o eleitorado com algumas idéias simples. Opõem-se à idéia de elite para valorizar a do mérito num país em que uma casta financeira ou saída das grandes escolas mantêm o comando do Estado, 208 anos depois da Revolução Francesa.
Por meio de um hábil controle de seu próprio marketing, Sarkozy também defende o trabalho como valor absoluto, acenando para aqueles que procuram subir na vida independentemente das políticas protetoras do Estado. A mídia britânica e alemã vê nele alguém que reconciliará os franceses com o liberalismo e a globalização.
Ao lado dessas modernidades, no entanto, Nicolas Sarkozy é um produto menos confiável por sua ascensão fulgurante, ainda desprovida de um currículo histórico pessoal ou de uma confiabilidade só dada pela longa experiência.
Seus biógrafos notam que aos 28 anos, quando se elegeu prefeito do subúrbio parisiense de Neuilly-sur-Seine, Sarkozy já se comportava de acordo com o diapasão presidencial.
A ambição é na França algo que se esconde. Mas Sarkozy nunca escondeu nos últimos cinco anos -desde que se tornou pela segunda vez ministro do Interior e passou a ter um comportamento presidenciável- ser esse seu objetivo. Sua ascensão no bloco de centro direita se deu por força da imagem da autoridade, capaz de intervir em defesa da ordem pública, ou, caso ela não estivesse verdadeiramente ameaçada, apontar para os perigos implícitos da criminalidade ou da minoria de imigrantes.
Os franceses, de certo modo, elegeram um "protetor" do emprego, da cultura secular e do trabalho, blindando-os para que a França, mesmo com um Estado enfraquecido pelo liberalismo, relacione-se em posição econômica favorável com os demais países da União Européia e de todo o mundo.
Não será fácil segurar esse conjunto carregado de expectativas. Mas Sarkozy acabou por encarnar a imagem que ele próprio fabricou.
Ele nasceu em Paris, em 1955. Teve dois irmãos, um empresário no setor têxtil, outro, pediatra. O pai se divorciou de sua mãe quando ele estava com quatro anos. Os costumes familiares de castelões húngaros contrastam com a ausência de patrimônio, com uma vida apertada.
Sarkozy forma-se em direito. Faz um mestrado na área e não chega a concluir o doutorado em ciências políticas. Casa-se aos 28 anos com Marie-Dominique Culioli, filha de um farmacêutico da Córsega, com quem terá dois filhos. Seu segundo casamento, em 1996, será com Cécilia Ciganer Albeniz, que lhe dará um terceiro filho.
Ligado a Jacques Chirac, elege-se deputado aos 33 anos e se torna, aos 38, ministro do Orçamento. Foi ministro da Economia e ocupou por duas vezes o Ministério do Interior.
Com Chirac ele mantém uma relação de amor e ódio. Zarkozy o "apunhala pelas costas" (expressão de Bernadette Chirac, ainda primeira-dama) quando em 1995 dá as costas ao atual presidente para apoiar a candidatura presidencial de Edouard Balladur. Mas as relações pessoais dentro do bloco se refazem. Bernadette presenciou o último comício de Sarkozy na semana passada.
Seu estilo "deixa que eu chuto" o leva a atritos com o Judiciário, por pedir abertamente a punição de um juiz por uma sentença com a qual não concordava, e com as entidades de direitos humanos, pela truculência que a polícia utiliza contra manifestantes muçulmanos ou contra jovens da classe média que protestam contra a Lei do Primeiro Emprego.
A esquerda julgava precipitadamente que Sarkozy é um homem, por isso tudo, desgastado. Mas ele sabia estar acumulando forças para chegar habilmente aonde ontem chegou.
(JBN)


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