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Separatismo é inviável na Bolívia, diz Garcia
Para assessor de Lula, nem militares bolivianos permitiriam nem vizinhos reconheceriam uma secessão
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia
disse ontem que o Brasil não
acredita que a vitória da oposição no referendo sobre a autonomia do departamento (Estado) de Santa Cruz venha a evoluir para um movimento realmente separatista na Bolívia,
até porque "as Forças Armadas
[do país] não iriam permitir".
Em conversa com a Folha,
Garcia disse: "Não acredito que
haja um movimento consistente de separatismo, senão as
Forças Armadas agiriam. Elas
não iriam permitir o desmembramento do território".
Na sua opinião, que traduz o
pensamento também do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e do Itamaraty, os líderes do
movimento que gerou o referendo "não têm a intenção real
de promover uma independência territorial, inclusive porque
sabem que não terão aval de
nenhuma espécie". Num tom
quase de advertência, especificou: "Não terão apoio nem interno nem externo, o que inclui
Brasil e OEA [Organização dos
Estados Americanos]".
Garcia e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dizem crer que, a partir do
resultado do referendo estarão
abertas as negociações entre o
governo de Evo Morales e o governo de Santa Cruz.
A possibilidade de diálogo foi
aberta, na avaliação brasileira,
porque, de um lado, os defensores da autonomia ganharam,
mas, de outro, a abstenção foi
bem maior do que no referendo nacional sobre autonomias
departamentais, em 2006. Segundo Garcia, os Estados rebelados vão querer "maior autonomia em relação a La Paz e maiores compromissos de Morales com suas reivindicações".
Apesar do otimismo, a oposição já avisou que só abrirá o
diálogo com Morales depois
que outros três departamentos
governador pela oposição (Beni, Pando e Tarija) realizarem
seus referendos, em junho.
O Brasil mantém contatos
com o governo Morales, com
setores do movimento da autonomia e também com a Argentina, a fim de criar ambiente
propício ao diálogo, com base
na certeza de que o separatismo seria danoso à Bolívia e à
região. Uma das ameaças veladas que Brasil e Argentina fazem é de haver obstáculos práticos no Mercosul para um movimento separatista.
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