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Lugo escolhe ortodoxo para Fazenda no Paraguai
Eleito sofre pressão de aliados ao formar gabinete
DA REDAÇÃO
Numa mensagem de que não
haverá surpresas na economia,
o presidente eleito do Paraguai,
o esquerdista Fernando Lugo,
confirmou Dionisio Borda, economista com fama de austero
em matéria fiscal e de "pai" da
recuperação paraguaia, como
futuro ministro da Fazenda.
Borda, que já ocupou o mesmo posto na primeira metade
do atual governo, de Nicanor
Duarte, ao qual Lugo faz oposição, vai anunciar hoje a equipe
que trabalhará com ele no período de transição, informou
ontem o presidente eleito.
Considerado de perfil mais
técnico que político, o economista é o único nome confirmado do gabinete que toma
posse em 15 de agosto, em meio
a pressões por cargos do maior
partido da coalizão de Lugo, o
tradicional Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA).
O futuro ministro da Fazenda, diretor do Centro de Análises e Difusão da Economia Paraguaia, um dos principais do
país, já era tido como titular do
posto mesmo antes da eleição.
Borda assumiu o cargo pela
primeira vez em 2003, quando
o país estava à beira do calote.
Com crescimento e caixa mais
gordo, deixou o governo em
2005, por divergências com a
direção do Banco Central, sem
conseguir emplacar sua reforma tributária, derrubada no
Congresso.
Lugo equilibrista
"A escolha de Borda era uma
pedra já cantada e uma mensagem muito clara ao empresariado e aos setores conservadores. Só quem não conhece o histórico de equilibrista de Lugo
poderia imaginar uma linha radical", diz o analista Alfredo
Boccia, colunista do jornal paraguaio "Ultima Hora".
Na montagem do gabinete, a
imagem de habilidade política
de Lugo será testada: ele terá de
acomodar os integrantes de sua
coalizão heterogênea. Os partidos "luguistas" só elegeram
três senadores e dois deputados, enquanto os liberais obtiveram a segunda maior bancada na Câmara e no Senado, atrás dos seus tradicionais adversários colorados. Além disso, o novo presidente terá de
negociar com o partido de Lino
Oviedo, seu adversário na campanha, para ter maioria.
Vozes liberais já reclamaram
da escolha de Borda, que, segundo Lugo, terá liberdade para escolher sua equipe, e o criticam dizendo que não trará a
"mudança" prometida. Já os
próximos ao eleito falam de
"mudança sem sobressalto".
Para Boccia, o cenário do futuro governo guarda semelhanças com o do governo Lula, mas
a situação de Lugo é mais complicada. "Ele não tem um PT
por trás. Aqui não há tradição
de esquerda. Mas aqui também
há troca de partidos no Congresso. Vamos ver como fica."
A imprensa paraguaia cita
que Lugo planeja deixar, além
da Fazenda, Indústria, Relações Exteriores e Interior fora
da partilha com o PLRA.
De todo modo, para o analista paraguaio, a liderança liberal
está "se comportando bem até
agora", mas, a julgar pelo histórico, é de se esperar que alas
mais ambiciosas travem luta
por cargos. "A vantagem de Lugo é o enorme capital social que
a vitória lhe trouxe. Há otimismo na rua, cobrança por honestidade. Isso não é comum."
(FLÁVIA MARREIRO)
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