São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

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Lugo escolhe ortodoxo para Fazenda no Paraguai

Eleito sofre pressão de aliados ao formar gabinete

DA REDAÇÃO

Numa mensagem de que não haverá surpresas na economia, o presidente eleito do Paraguai, o esquerdista Fernando Lugo, confirmou Dionisio Borda, economista com fama de austero em matéria fiscal e de "pai" da recuperação paraguaia, como futuro ministro da Fazenda.
Borda, que já ocupou o mesmo posto na primeira metade do atual governo, de Nicanor Duarte, ao qual Lugo faz oposição, vai anunciar hoje a equipe que trabalhará com ele no período de transição, informou ontem o presidente eleito.
Considerado de perfil mais técnico que político, o economista é o único nome confirmado do gabinete que toma posse em 15 de agosto, em meio a pressões por cargos do maior partido da coalizão de Lugo, o tradicional Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA).
O futuro ministro da Fazenda, diretor do Centro de Análises e Difusão da Economia Paraguaia, um dos principais do país, já era tido como titular do posto mesmo antes da eleição.
Borda assumiu o cargo pela primeira vez em 2003, quando o país estava à beira do calote. Com crescimento e caixa mais gordo, deixou o governo em 2005, por divergências com a direção do Banco Central, sem conseguir emplacar sua reforma tributária, derrubada no Congresso.

Lugo equilibrista
"A escolha de Borda era uma pedra já cantada e uma mensagem muito clara ao empresariado e aos setores conservadores. Só quem não conhece o histórico de equilibrista de Lugo poderia imaginar uma linha radical", diz o analista Alfredo Boccia, colunista do jornal paraguaio "Ultima Hora".
Na montagem do gabinete, a imagem de habilidade política de Lugo será testada: ele terá de acomodar os integrantes de sua coalizão heterogênea. Os partidos "luguistas" só elegeram três senadores e dois deputados, enquanto os liberais obtiveram a segunda maior bancada na Câmara e no Senado, atrás dos seus tradicionais adversários colorados. Além disso, o novo presidente terá de negociar com o partido de Lino Oviedo, seu adversário na campanha, para ter maioria.
Vozes liberais já reclamaram da escolha de Borda, que, segundo Lugo, terá liberdade para escolher sua equipe, e o criticam dizendo que não trará a "mudança" prometida. Já os próximos ao eleito falam de "mudança sem sobressalto".
Para Boccia, o cenário do futuro governo guarda semelhanças com o do governo Lula, mas a situação de Lugo é mais complicada. "Ele não tem um PT por trás. Aqui não há tradição de esquerda. Mas aqui também há troca de partidos no Congresso. Vamos ver como fica."
A imprensa paraguaia cita que Lugo planeja deixar, além da Fazenda, Indústria, Relações Exteriores e Interior fora da partilha com o PLRA.
De todo modo, para o analista paraguaio, a liderança liberal está "se comportando bem até agora", mas, a julgar pelo histórico, é de se esperar que alas mais ambiciosas travem luta por cargos. "A vantagem de Lugo é o enorme capital social que a vitória lhe trouxe. Há otimismo na rua, cobrança por honestidade. Isso não é comum."
(FLÁVIA MARREIRO)


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