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Ação dos EUA mata dezenas de civis afegãos
Mortos podem passar de uma centena, o que representaria o ataque mais mortífero desde o início da guerra no país, em 2001
Apoio aéreo foi pedido por forças de segurança afegãs, que temiam emboscada
por parte de militantes do Taleban, dizem americanos
DA REDAÇÃO
Dezenas de civis foram mortos no mais devastador ataque
aéreo no Afeganistão desde a
posse do presidente americano
Barack Obama. O total de vítimas, ainda incerto, pode passar
de cem, segundo autoridades
afegãs -o que tornaria o bombardeio de Granai, vilarejo no
oeste do país, o mais letal desde
a invasão ocidental que derrubou o regime radical do Taleban, em 2001.
O bombardeio, realizado em
ação de apoio a tropas afegãs,
aumenta a pressão interna sobre o presidente Hamid Karzai,
em viagem aos EUA, onde participou ontem de encontro com
Obama e o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari.
A morte de civis, seja por
mercenários a serviço de empresas terceirizadas, seja por
ações do Exército americano,
foi a principal causa de divergências entre a Casa Branca e o
governo aliado de Cabul.
Karzai chegou a ameaçar, em
agosto, rever os termos da presença militar estrangeira, após
a morte de 90 civis, incluindo
60 crianças, no ataque a Azizabad, aldeia no oeste afegão.
O ataque aéreo desta vez, porém, foi solicitado pelas próprias tropas afegãs, segundo os
EUA. Temendo emboscada, as
forças de segurança locais pediram reforços para entrar na região, após decapitações atribuídas ao Taleban, no último final
de semana.
"O contato aumentou, a polícia pediu reforços ao Exército
afegão, e finalmente a situação
chegou a um ponto tal que o governador solicitou apoio americano para esse contato", afirmou o general David McKiernan, principal comandante ocidental no Afeganistão. Segundo
McKiernan, há indícios conflitantes sobre a causa das mortes, que será investigada.
Aliança preservada
Obama afirmou, após encontro com Karzai, que os países
trabalharão juntos para reduzir
as baixas civis no combate ao
terrorismo. Os 21 mil soldados
americanos adicionais, que
chegarão ao país até o fim do semestre, devem permitir a expansão das ações em solo, restringindo a estratégia de bombardeios, mais letais.
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, lamentou "a perda de vidas inocentes" imediatamente após a divulgação das mortes. A solidariedade não implica admissão
de responsabilidade pelas mortes, segundo a Chancelaria.
Apesar da ressalva, feita mais
tarde por um porta-voz, a declaração de Hillary bastou para
que Karzai se dissesse satisfeito
com "a preocupação e o arrependimento" dos EUA, evitando que um potencial incidente
diplomático desviasse o foco do
encontro com Obama.
Revolta local
O apoio ocidental é a principal fonte de poder de Karzai,
satisfeito com a nova estratégia
da Casa Branca para o país, que
prevê aumento das tropas, locais e estrangeiras, e de recursos não militares.
As mortes respingam sobre o
impopular governo de Karzai.
Furiosos, sobreviventes do
bombardeio de Granai, no distrito de Bala Baluk, levaram ontem cerca de 25 corpos até a capital da Província em protesto.
Os bombardeios, ocorridos
entre segunda-feira e anteontem, deixaram pelo menos cem
mortos, segundo o chefe da polícia provincial de Farah, Abdul
Ghafar Watandar, que acusou o
Taleban de usar civis como escudos humanos.
A contagem de vítimas feita
pelos EUA costuma divergir da
divulgada por autoridades afegãs. O relatório inicial sobre o
bombardeio de Azizabad, que
teve 90 vítimas confirmadas
pela ONU, admitia apenas cinco baixas civis. Mais tarde, o
Exército americano reviu o número e reconheceu 30 mortes.
Representantes do Comitê
Internacional da Cruz Vermelha (CICV) confirmaram ter
presenciado dezenas de funerais na aldeia de Granai.
"Há mulheres e crianças
mortas, parece que eles estavam tentando se abrigar em casas quando foram atingidos",
afirmou Jessica Barry, porta-voz do CICV. Uma das vítimas
era voluntária do Crescente
Vermelho, designação do organismo em países islâmicos.
Com agências internacionais
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