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análise
EUA renovam aposta em líderes controversos
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Peça fundamental da "nova estratégia" do presidente
Barack Obama para a guerra
no Afeganistão, o Paquistão é
visto por especialistas como
um barco em naufrágio.
O International Crisis
Group concluiu que constituiria "sério risco" apostar
no Paquistão como uma das
principais estacas da ambição de "desestruturar, desmantelar e derrotar a Al Qaeda" não só no Afeganistão,
mas também em seus "santuários" no país vizinho.
O autor do texto, Paul
Quinn-Judge, citou o que poderia ser "o pior dos cenários": o colapso do Estado, a
desintegração da infraestrutura, disputas pelo poder e
uma insurreição islâmica.
Considerações desse gênero caíram como raios em
Washington, sobretudo porque a elas se juntavam fatos.
O presidente do Paquistão,
Asif Ali Zardari, sancionou a
adoção de leis islâmicas no
vale do Swat, controlado pelo
Taleban, onde abriga combatentes, recruta e treina milicianos que cruzam a fronteira com o Afeganistão.
Numa rara entrevista a um
jornal europeu um comandante do Taleban declarou
que os afegãos não querem
saber de democracia "porque
ela não lhes deu nada".
O responsável pelo "desencanto" é outro aliado da
linha de frente, o presidente
Hamid Karzai, alvo de duras
críticas de observadores internacionais. Ele teria feito
dobradinha com "senhores
da guerra" que controlam o
tráfico de drogas. Além disso,
sancionou lei endossando a
sharia, retrocesso talvez
maior do que o de Zardari.
A obsessão de Obama com
o Afeganistão e o Paquistão
provocou rumores que não
se ajustam a sua imagem.
Primeiro declarou, ainda
candidato, que bombardearia os "santuários" do Taleban no Swat mesmo sem a
autorização de Islamabad.
Falou-se subterraneamente
que Obama estaria disposto a
buscar um aliado mais confiável no Afeganistão, o que
significaria derrubar Karzai.
Mas a decisão é, afinal,
apostar em Zardari e Karzai.
A visita do paquistanês a
Washington foi precedida da
convicção de que os militares
não pensam em derrubá-lo e
está sob boa guarda o arsenal
nuclear paquistanês.
E os rumos da guerra? Um
analista internacional baseado no Tadjiquistão, vizinho
ao Afeganistão, Pariz Mullajanov, tem a seguinte opinião: "O governo Obama sabe muito bem que uma vitória é inconcebível. O objetivo
é forçar o Taleban a fazer
concessões, negociar com ele
a partir de posições de um
maior potencial militar".
O jornalista NEWTON CARLOS é especialista em questões internacionais
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