São Paulo, quinta-feira, 07 de maio de 2009

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Prefeitura anula decreto pró-fumo na China

Pressionado, município de Gong'an revoga determinação para todos os funcionários públicos fumarem

Andy Wong -16.fev.09/Associated Press
Homens fumam em estação de trem em Pequim; na China, exploração do cigarro é monopólio estatal

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Uma prefeitura chinesa precisou anular ontem um decreto que obrigava seus funcionários públicos a fumarem mais para ajudar a reanimar a combalida economia local.
Por um mês, a Prefeitura de Gong'an, na Província de Hubei, na região central da China, determinou que todos os empregados locais, incluídos professores, fumassem um total de 230 mil maços da marca de cigarro local até o fim do ano.
A força-tarefa visava "aumentar a arrecadação de impostos e estimular nossa economia", reconheceu um funcionário do Departamento Municipal de Cigarros da Prefeitura, Chen Nianzu, a um jornal oficial de Hubei.
A excentricidade era maior porque previa um gasto mínimo por repartição em cigarros, com orçamento municipal. O excesso tabagista seria pago com dinheiro público.
Quem fumasse cigarros produzidos em outras Províncias poderia ser multado. Em uma inspeção no mês passado, fiscais descobriram no lixo de uma escola secundária maços de cigarros de outra região. A escola foi advertida e pode receber até multa -perder 1.000 yuans (o equivalente a R$ 340) de seu orçamento.
A lei municipal causou escândalo na internet chinesa e a prefeitura colocou em seu site um comunicado sucinto dizendo que o decreto fica sem efeito, sem dar mais detalhes.
O movimento contra o fumo ainda passa longe da China, onde 6 entre cada 10 homens adultos fumam. Há 350 milhões de fumantes (26,3% da população). No Brasil, são 14 milhões de fumantes (cerca de 7% da população).
A quantidade de fumantes na China é maior que todos os habitantes de Brasil, México e Argentina juntos.
São raríssimos os fumódromos ou os espaços para os não fumantes em restaurantes ou bares. Karaokês e lanchonetes vivem enfumaçados.
Talvez o principal motivo para a fortaleza do fumo no país e a ausência de políticas antitabagistas seja a importância para os cofres do governo -o cigarro é monopólio estatal.
A arrecadação com impostos sobre cigarros chegou a US$ 45 bilhões no ano passado -3,5 vezes o orçamento da Prefeitura de São Paulo ou quase cinco vezes o lucro da Vale.
Parte da indústria do cigarro está nas mãos das Forças Armadas chinesas, o Exército de Libertação do Povo.
Quem também ganha com o vício chinês é o Brasil, de onde sai parte da matéria-prima: 53% das importações chinesas de tabaco são do Brasil, seu maior fornecedor.
As vendas brasileiras superam os US$ 250 milhões.
No ano passado, meses antes da realização da Olimpíada, a Prefeitura de Pequim aprovou lei obrigando a criação de espaços a não fumantes e proibindo o fumo em pistas de danças e em bares fechados.
Exceção feita a instalações fechadas onde houve competições, a lei jamais pegou.


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