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França teme que Irã "engane" Lula em visita
Chanceler francês se mostra cético sobre mediação brasileira; "achamos que o presidente está errado", diz
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
O governo francês teme que
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva seja "enganado" durante sua visita neste mês ao Irã.
Essa foi a avaliação expressa
à imprensa pelo ministro das
Relações Exteriores da França,
Bernard Kouchner, após jantar
de gala na Câmara de Comércio
do Brasil na França, em Paris.
"Tenho medo que digam a
Lula coisas que não correspondem à verdade [sobre o programa nuclear iraniano]", disse.
Na avaliação do chanceler,
apesar da "sinceridade" do presidente brasileiro, avaliou
Kouchner, os esforços diplomáticos brasileiros tendem a
ser infrutíferos, já que há anos a
comunidade internacional tenta convencer o Irã a atender as
exigências da ONU sobre o seu
programa.
"Achamos que o presidente
Lula está errado, mas acreditamos na sua sinceridade. Esperamos que ele nos diga o que vai
acontecer [durante a visita]."
Questionado se o presidente
Lula teria um olhar "ingênuo"
sobre a questão nuclear e sobre
as intenções do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, Kouchner reiterou que
acredita que o presidente brasileiro não é "ingênuo ", mas, sim,
"sincero".
A França, que é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, pressiona por novas sanções contra
o Irã. A convicção é partilhada
pelos EUA e pelo Reino Unido
e, em menor grau, pela Rússia.
A China, que vinha sendo o
maior entrave para a aprovação
da nova rodada de sanções,
aceitou recentemente discuti-las, deixando o Brasil, ao lado
da Turquia, na linha de frente
da resistência às punições.
Os dois países ocupam atualmente assentos temporários
no Conselho de Segurança e
conduzem gestões para a retomada de um acordo proposto
pela AIEA (agência atômica da
ONU) ao Irã no ano passado.
Pela proposta, o Irã trocaria
seu urânio pouco enriquecido
pelo combustível enriquecido
em nível adequado para fins
médicos, mas não usos militares. Mas divergências quanto
ao local e o volume da troca impediram um acordo até aqui.
"Espero que a iniciativa pacífica do presidente Lula dê resultados", afirmou Kouchner.
Mas o chanceler francês tem
uma visão cética das negociações com o Irã. "Penso que, infelizmente, Lula vai ouvir as
mesmas histórias que ouvimos
há tantos anos."
Kouchner afirmou ainda
que, ao ir ao Irã, a reputação do
presidente Lula corre risco.
"Espero que ele [Lula] não cometa muitos erros pelo bem do
seu próprio personagem e da
sua importância no mundo.
Mas sei que os iranianos vão
embromá-lo", argumentou.
Apesar do ceticismo, Kouchner diz aguardar "afetuosamente" os resultados da visita
de Lula ao Irã. Segundo o chefe
da diplomacia francesa, de fato
Brasil e França discordam
"profundamente" da abordagem da questão iraniana, mas a
relação franco-brasileira continua a ser "excepcional ".
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