São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

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análise

Teerã pode estar novamente ganhando tempo

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O fato de o Irã ter encontrado "pontos positivos", apesar das "ambigüidades", na proposta ocidental ontem apresentada não significa, necessariamente, que se desencadeou um processo produtivo de negociações.
Há um precedente que sinaliza em sentido contrário. Em 26 de janeiro último, o negociador nuclear iraniano, Ali Larijani, qualificou de "útil", embora "carente de mais discussões" uma proposta russa que o país islâmico desde o início pretendia rejeitar.
Segundo esse plano, o Irã cessaria o enriquecimento de urânio em suas instalações e transferiria o procedimento a uma empresa binacional que funcionaria em território russo -plenamente acessível, portanto, aos inspetores da AIEA (agência atômica da ONU).
Se não a rejeitou de imediato foi para ganhar tempo, sabendo que, com o passar das semanas, os dois parceiros menos hostis no Conselho de Segurança, a própria Rússia e a China, bloqueariam o processo que, no médio prazo, levaria a sanções.
Nada indica que dessa vez possa ser diferente. Ainda ontem, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Manouchehr Mottaki, disse esperar que um possível compromisso "reconheça os direitos do Irã", o que, na linguagem cifrada de seu governo, significa a aceitação, pela comunidade internacional, de seu direito de enriquecer urânio.
A única saída está na reformulação da exigência das seis potências. Ela de início se referia à cessação definitiva da produção de combustível. Agora, no entanto, exige apenas a sua "interrupção", embora com o óbvio pressuposto de que o processo não seja mais retomado.
O fato é que, isolado internacionalmente e com uma retórica cada vez mais agressiva, o Irã acabou de transformar o enriquecimento de urânio numa causa nacional. Ela parece mobilizar e unir os iranianos quase tanto quanto a Copa do Mundo entre os brasileiros.
Em se tratando de um tema de confronto, é sempre fácil dar um novo passo e radicalizar as posições. O difícil é recuar.
Até agora, por exemplo, o porta-voz de todos os radicalismos locais, o presidente Mahmoud Ahmadinejad, não deu um passo atrás. É a receita de seu sucesso entre os iranianos de pouca instrução e de menor renda, que têm uma relação antagônica com o mundo não-islâmico.


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