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análise
Teerã pode estar novamente ganhando tempo
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O fato de o Irã ter encontrado "pontos positivos",
apesar das "ambigüidades",
na proposta ocidental ontem
apresentada não significa,
necessariamente, que se desencadeou um processo produtivo de negociações.
Há um precedente que sinaliza em sentido contrário.
Em 26 de janeiro último, o
negociador nuclear iraniano,
Ali Larijani, qualificou de
"útil", embora "carente de
mais discussões" uma proposta russa que o país islâmico desde o início pretendia
rejeitar.
Segundo esse plano, o Irã
cessaria o enriquecimento
de urânio em suas instalações e transferiria o procedimento a uma empresa binacional que funcionaria em
território russo -plenamente acessível, portanto, aos
inspetores da AIEA (agência
atômica da ONU).
Se não a rejeitou de imediato foi para ganhar tempo,
sabendo que, com o passar
das semanas, os dois parceiros menos hostis no Conselho de Segurança, a própria
Rússia e a China, bloqueariam o processo que, no médio prazo, levaria a sanções.
Nada indica que dessa vez
possa ser diferente. Ainda
ontem, o ministro iraniano
das Relações Exteriores, Manouchehr Mottaki, disse esperar que um possível compromisso "reconheça os direitos do Irã", o que, na linguagem cifrada de seu governo, significa a aceitação, pela
comunidade internacional,
de seu direito de enriquecer
urânio.
A única saída está na reformulação da exigência das
seis potências. Ela de início
se referia à cessação definitiva da produção de combustível. Agora, no entanto, exige
apenas a sua "interrupção",
embora com o óbvio pressuposto de que o processo não
seja mais retomado.
O fato é que, isolado internacionalmente e com uma
retórica cada vez mais agressiva, o Irã acabou de transformar o enriquecimento de
urânio numa causa nacional.
Ela parece mobilizar e unir
os iranianos quase tanto
quanto a Copa do Mundo entre os brasileiros.
Em se tratando de um tema de confronto, é sempre
fácil dar um novo passo e radicalizar as posições. O difícil
é recuar.
Até agora, por exemplo, o
porta-voz de todos os radicalismos locais, o presidente
Mahmoud Ahmadinejad,
não deu um passo atrás. É a
receita de seu sucesso entre
os iranianos de pouca instrução e de menor renda, que
têm uma relação antagônica
com o mundo não-islâmico.
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