São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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CÚPULA GLOBAL

Protesto bloqueia sede da reunião do G8

Ativistas burlam policiais, ocupam estradas e ferrovia e chegam ao muro construído pela Alemanha, anfitriã do encontro

Líderes de países mais ricos e Rússia são transportados de helicóptero para abertura da cúpula; ponte naval é improvisada para 2º escalão

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA

O governo alemão colocou 16 mil policiais e ergueu um muro de quase 12 quilômetros de extensão e 2,5 metros de altura para proteger a cúpula do G8, o clubão dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia.
Não adiantou: cerca de 8.000 manifestantes, a grande maioria jovens imberbes armados apenas de uma fenomenal disposição, conseguiram burlar todos os controles e chegar às portas do muro, desafiando a proibição de manifestações a menos de seis quilômetros do hotel Kempinsky, no balneário de Heiligendamm, transformado em "campo de prisioneiros de luxo" para os governantes, no dizer do escritor alemão Hans Magnus Enzensberger.
Os manifestantes cortaram também a linha de trem que leva até Heiligendamm e as pequenas estradas arborizadas que serpenteiam até o mar Báltico. O governo alemão teve que improvisar uma ponte naval para levar pessoal de apoio, jornalistas e autoridades de segundo escalão até o hotel. Os governantes e o primeiro escalão foram de helicóptero.
Os jovens driblaram o esquema de segurança cortando caminho no meio do mato e derrubando as cercas de arame farpado antes de serem detectados. Só o foram quando já estavam perto da cerca principal, por volta de meio-dia (7h em Brasília). Aí começou a repressão, com o uso de cassetetes e canhões de água, o que levou a um pequeno recuo dos manifestantes e, em conseqüência, a uma moderação policial, de acordo com a política de "desescalação" dos conflitos determinada após os violentos incidentes de sábado em Rostock, provocados por um grupo de anarquistas, minoritários entre os manifestantes.
Desta vez, a polícia só voltou a reagir quando foguetes caíram perto da tropa de choque, que lançou gás lacrimogêneo e deteve 15 jovens, depois que oito policiais ficaram feridos.
Ferida ficou também a organização da cúpula, de que dá prova o cálculo feito pela jornalista ucraniana Nathalia para um colega italiano: "Quatro horas de percurso para meia hora de entrevista coletiva não era bem a relação custo/benefício que tínhamos em mente quando aderimos ao capitalismo".

Quatro horas
Nathalia, como a Folha e pelo menos 60 outros jornalistas, levou as citadas quatro horas para ir e voltar de Kühlungsborn, onde fica o centro internacional de mídia, até Heiligendamm, oito quilômetros distante, para uma entrevista de José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Européia.
Eram 12h30 quando me apresentei no centro de imprensa, embora a entrevista estivesse marcada para 14h. A organização alemã perdeu o rumo, colhida de surpresa pela ocupação da linha de trem que levaria os jornalistas (um percurso de apenas dez minutos). Mesmo devidamente credenciados, todos os jornalistas tiveram que preencher listas improvisadas à porta da tenda que serve de centro de controle.
Tudo pronto, então? Nada. Havia um segundo controle de segurança para ter acesso ao embarque. Checagem de segurança feita, restava esperar o ônibus que nos levaria a Heiligendamm. Mas acabaram nos encaminhando a um atracadouro onde três barcos da Marinha alemã esperavam balançando nas águas do Báltico.
A travessia durou uns 40 minutos, e o último barco chegou ao atracadouro de Heiligendamm às 14h30 para uma entrevista que deveria começar às 14h. O segurança de plantão ainda queria exigir uma credencial azul de que ninguém tinha ouvido falar até então. Foi convencido por um colega a deixar os jornalistas marcharem em conjunto sob seu comando até o "briefing point".
Quando entrei na sala, Barroso já estava falando, embora a entrevista tivesse sido adiada para 14h30, justamente para esperar os jornalistas.
Na volta, foi preciso esperar meia hora de absoluto blecaute de informações sobre o que faríamos para voltar a Kühlungsborn. Repetiu-se o percurso até o atracadouro, em tempo de ver três limusines com placa da Rússia e cortinas fechadas estacionadas ao longo do caminho -Putin pode estar brigando com o Ocidente, mas jamais com os símbolos mais lustrosos do capitalismo.
Foi então que a ucraniana Nathalia fez seu comentário sobre a relação custo/benefício. Ela ainda não sabia que, desta vez, não havia ônibus para nos conduzir de volta ao centro de mídia, quatro quilômetros distante. Depois de ônibus e barco, ainda havia um percurso a pé.


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