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CÚPULA GLOBAL
Protesto bloqueia sede da reunião do G8
Ativistas burlam
policiais, ocupam
estradas e ferrovia
e chegam ao muro
construído pela
Alemanha, anfitriã
do encontro
Líderes de países mais ricos e
Rússia são transportados de
helicóptero para abertura
da cúpula; ponte naval é
improvisada para 2º escalão
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA
O governo alemão colocou 16
mil policiais e ergueu um muro
de quase 12 quilômetros de extensão e 2,5 metros de altura
para proteger a cúpula do G8, o
clubão dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia.
Não adiantou: cerca de 8.000
manifestantes, a grande maioria jovens imberbes armados
apenas de uma fenomenal disposição, conseguiram burlar
todos os controles e chegar às
portas do muro, desafiando a
proibição de manifestações a
menos de seis quilômetros do
hotel Kempinsky, no balneário
de Heiligendamm, transformado em "campo de prisioneiros
de luxo" para os governantes,
no dizer do escritor alemão
Hans Magnus Enzensberger.
Os manifestantes cortaram
também a linha de trem que leva até Heiligendamm e as pequenas estradas arborizadas
que serpenteiam até o mar Báltico. O governo alemão teve que
improvisar uma ponte naval
para levar pessoal de apoio, jornalistas e autoridades de segundo escalão até o hotel. Os
governantes e o primeiro escalão foram de helicóptero.
Os jovens driblaram o esquema de segurança cortando caminho no meio do mato e derrubando as cercas de arame farpado antes de serem detectados. Só o foram quando já estavam perto da cerca principal,
por volta de meio-dia (7h em
Brasília). Aí começou a repressão, com o uso de cassetetes e
canhões de água, o que levou a
um pequeno recuo dos manifestantes e, em conseqüência, a
uma moderação policial, de
acordo com a política de "desescalação" dos conflitos determinada após os violentos incidentes de sábado em Rostock,
provocados por um grupo de
anarquistas, minoritários entre
os manifestantes.
Desta vez, a polícia só voltou
a reagir quando foguetes caíram perto da tropa de choque,
que lançou gás lacrimogêneo e
deteve 15 jovens, depois que oito policiais ficaram feridos.
Ferida ficou também a organização da cúpula, de que dá
prova o cálculo feito pela jornalista ucraniana Nathalia para
um colega italiano: "Quatro horas de percurso para meia hora
de entrevista coletiva não era
bem a relação custo/benefício
que tínhamos em mente quando aderimos ao capitalismo".
Quatro horas
Nathalia, como a Folha e pelo menos 60 outros jornalistas,
levou as citadas quatro horas
para ir e voltar de Kühlungsborn, onde fica o centro internacional de mídia, até Heiligendamm, oito quilômetros
distante, para uma entrevista
de José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Européia.
Eram 12h30 quando me
apresentei no centro de imprensa, embora a entrevista estivesse marcada para 14h. A organização alemã perdeu o rumo, colhida de surpresa pela
ocupação da linha de trem que
levaria os jornalistas (um percurso de apenas dez minutos).
Mesmo devidamente credenciados, todos os jornalistas tiveram que preencher listas improvisadas à porta da tenda que
serve de centro de controle.
Tudo pronto, então? Nada.
Havia um segundo controle de
segurança para ter acesso ao
embarque. Checagem de segurança feita, restava esperar o
ônibus que nos levaria a Heiligendamm. Mas acabaram nos
encaminhando a um atracadouro onde três barcos da Marinha alemã esperavam balançando nas águas do Báltico.
A travessia durou uns 40 minutos, e o último barco chegou
ao atracadouro de Heiligendamm às 14h30 para uma entrevista que deveria começar às
14h. O segurança de plantão
ainda queria exigir uma credencial azul de que ninguém tinha ouvido falar até então. Foi
convencido por um colega a
deixar os jornalistas marcharem em conjunto sob seu comando até o "briefing point".
Quando entrei na sala, Barroso já estava falando, embora
a entrevista tivesse sido adiada
para 14h30, justamente para
esperar os jornalistas.
Na volta, foi preciso esperar
meia hora de absoluto blecaute
de informações sobre o que faríamos para voltar a Kühlungsborn. Repetiu-se o percurso até
o atracadouro, em tempo de
ver três limusines com placa da
Rússia e cortinas fechadas estacionadas ao longo do caminho -Putin pode estar brigando com o Ocidente, mas jamais
com os símbolos mais lustrosos do capitalismo.
Foi então que a ucraniana
Nathalia fez seu comentário
sobre a relação custo/benefício. Ela ainda não sabia que,
desta vez, não havia ônibus para nos conduzir de volta ao centro de mídia, quatro quilômetros distante. Depois de ônibus
e barco, ainda havia um percurso a pé.
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