São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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Bush veta metas para redução de poluentes

DO ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA

O projeto alemão de obter do G8, o clube dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia, metas numéricas para a redução dos gases que causam o aquecimento global ruiu antes mesmo de começar formalmente o encontro de cúpula do grupo, o que se daria em um jantar na noite de ontem.
O torpedo definitivo na linha de flutuação do projeto foi disparado pela manhã por James Connaughton, principal assessor da Casa Branca para o ambiente, ao dizer que não existe "uma solução tamanho único para todos" e acrescentar que os EUA se opõem à meta dos 2C como teto admissível para o aumento médio da temperatura até o fim deste século, em relação à era pré-industrial.
Para que esse teto fosse alcançado, o projeto alemão determinava que a emissão de gases do efeito estufa (que causam o aquecimento global) deveria ser reduzida à metade, sobre os níveis de 1990, até 2050. Sem o teto de 2C tampouco há a meta decorrente.
Connaughton disse também que três outros países do G8 (Japão, Canadá e Rússia) têm posição idêntica à dos EUA. Depois do torpedo, Angela Merkel, a chanceler alemã e, como tal, anfitriã da cúpula, reuniu-se com o presidente George Walker Bush, no que era encarado como a última tentativa para um acordo que permitisse um desfecho ambicioso da cúpula, na questão ambiental.
Não funcionou. Merkel deixou a reunião dizendo que os dois haviam encontrado "pontos comuns em temas como o combate à pobreza e à doenças infecciosas na África", mas que, em "áreas aqui e ali", haveria necessidade de discussões adicionais.

Europa x EUA
Bush, por sua vez, expressou "o forte desejo" de trabalhar "com os países do G8 na elaboração de um novo acordo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e para reduzir a dependência do fornecimento de petróleo de fontes externas".
Mas não mencionou nem de passagem as metas defendidas por Merkel. De todo modo, os EUA podem admitir outro ponto-chave para os europeus: o de que as futuras negociações para o tratado que vai substituir o Protocolo de Kyoto sejam conduzidas no âmbito da ONU.
O protocolo, do qual os EUA se retiraram, vence em 2012 e, por isso, é urgente iniciar negociações para o seu substituto. Mas os europeus temiam que os norte-americanos quisessem conduzir um processo paralelo, a partir do convite feito na semana passada por Bush para uma reunião dos 15 países mais poluentes (Brasil inclusive) no último trimestre do ano.
Ontem mesmo, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, que fala em nome do conglomerado de 27 países, dizia que espera que os EUA se integrem ao processo global, sob o argumento de que, "se há um problema que é global por natureza, é esse".
Durão Barroso defendeu o estabelecimento de metas "obrigatórias e mensuráveis" para conter o aquecimento. Mas admitiu que elas não sairão da cúpula de Heiligendamm, pelo menos não nesse formato. O que pode, sim, sair é o reconhecimento da necessidade de estabelecer metas em algum momento futuro.
O presidente da Comissão Européia queixou-se da falta de liderança no processo, em alusão indireta aos EUA, depois de citar dados comparativos sobre o desempenho europeu e norte-americano no quesito emissão de gases do efeito estufa. Segundo ele, os 27 países da União Européia reduziram 5% as emissões, desde 1990, ao passo que os EUA aumentaram-nas 15,8%. (CR)


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