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Cidade em rincão dos EUA quer receber presos de Guantánamo
Para impulsionar sua combalida economia, Hardin, em Montana, oferece ao governo federal presídio novo e fora de uso, a contragosto de seus representantes
PAULA ADAMO IDOETA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Enquanto a maior parte dos
EUA se preocupa com a possibilidade de ter de acolher os
presos de Guantánamo, a pequena cidade de Hardin, no Estado de Montana, está em plena campanha para recebê-los.
A prisão na base americana
em Cuba -que hoje abriga 240
presos, suspeitos de terrorismo, mas não acusados formalmente- deve ser fechada até
janeiro, segundo promessa do
presidente Barack Obama.
Um dos maiores entraves
tem sido o que fazer com os detentos. Muitos não podem voltar a seus países de origem, onde correriam risco de morte.
E há ainda a grande oposição
em Washington a que eles sejam levados a julgamento em
solo americano -onde podem
acabar sendo libertados.
Na última semana, o Congresso aprovou norma impedindo a transferência dos detentos aos EUA até que Obama
-que também tenta convencer
a Europa a recebê-los- tenha
um plano de ação mais claro.
Mas Hardin, cidade de 3.500
habitantes de Big Horn, o condado mais pobre do Estado de
Montana (noroeste dos EUA),
enxerga no impasse uma oportunidade para seu próprio desenvolvimento econômico.
Há dois anos, a cidade construiu um presídio ultrasseguro
de 8.500 m2, que custou US$ 27
milhões, financiados com a
emissão de títulos no mercado.
A meta era gerar negócios e
empregos. Só que, após uma
troca de comando no governo
estadual, o presídio nunca foi
usado. Ao menos até agora.
"Temos algo a oferecer num
momento em que ninguém está oferecendo nada. Os presos
terão de ir para algum lugar.
Por que não para cá?", disse à
Folha Greg Smith, diretor-executivo de Desenvolvimento
Econômico de Hardin e promotor da iniciativa.
O projeto foi aprovado pelo
Conselho Municipal local, mas
Hardin ainda não recebeu nenhuma resposta formal da Casa Branca. Não ajudou o fato de
os representantes de Montana
no Congresso não apoiarem o
projeto -o senador democrata
Max Baucus, por exemplo, declarou que não permitiria que
mandassem "membros da Al
Qaeda" para seu Estado.
Dificuldade econômica
A prefeitura de Hardin quer
oferecer apenas a estrutura prisional, deixando ao governo federal sua administração. Smith
estima que a iniciativa promova no mínimo 105 postos de
trabalho para a cidade -número significativo em um condado
que tem taxas de desemprego
ao redor de 10% (contra estimados 9,4% em todos os EUA).
"Nossa economia já andava mal
antes da crise", disse Smith.
O diretor econômico diz que
nenhuma pesquisa de opinião
formal foi feita em Hardin sobre o tema, mas que ele tem escutado reações diversas entre
os moradores. "A maioria das
pessoas entende por que tomamos essa iniciativa", afirmou.
Os aposentados Bill e Clara
Eshleman, moradores de Hardin, declararam à agência Associated Press (AP) que querem
que o presídio local seja colocado em uso, mas não com detentos de Guantánamo. "São os
piores dos piores", opinou Clara.
Mas há quem veja nisso um
trunfo. "A quantidade de soldados e advogados que [a iniciativa] traria para cá seria incrível",
disse à AP Clint Carleton, dono
de um restaurante -geralmente vazio- em Hardin.
"Estaria mais preocupado
com um criminoso sexual andando pelas minhas ruas do
que com um cara que seja um
terrorista internacional. Esse
não iria fugir, entrar num supermercado, roubar umas cervejas e sentar no parque."
Com agências internacionais
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