São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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Cidade em rincão dos EUA quer receber presos de Guantánamo

Para impulsionar sua combalida economia, Hardin, em Montana, oferece ao governo federal presídio novo e fora de uso, a contragosto de seus representantes

PAULA ADAMO IDOETA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Enquanto a maior parte dos EUA se preocupa com a possibilidade de ter de acolher os presos de Guantánamo, a pequena cidade de Hardin, no Estado de Montana, está em plena campanha para recebê-los.
A prisão na base americana em Cuba -que hoje abriga 240 presos, suspeitos de terrorismo, mas não acusados formalmente- deve ser fechada até janeiro, segundo promessa do presidente Barack Obama.
Um dos maiores entraves tem sido o que fazer com os detentos. Muitos não podem voltar a seus países de origem, onde correriam risco de morte.
E há ainda a grande oposição em Washington a que eles sejam levados a julgamento em solo americano -onde podem acabar sendo libertados.
Na última semana, o Congresso aprovou norma impedindo a transferência dos detentos aos EUA até que Obama -que também tenta convencer a Europa a recebê-los- tenha um plano de ação mais claro.
Mas Hardin, cidade de 3.500 habitantes de Big Horn, o condado mais pobre do Estado de Montana (noroeste dos EUA), enxerga no impasse uma oportunidade para seu próprio desenvolvimento econômico.
Há dois anos, a cidade construiu um presídio ultrasseguro de 8.500 m2, que custou US$ 27 milhões, financiados com a emissão de títulos no mercado.
A meta era gerar negócios e empregos. Só que, após uma troca de comando no governo estadual, o presídio nunca foi usado. Ao menos até agora.
"Temos algo a oferecer num momento em que ninguém está oferecendo nada. Os presos terão de ir para algum lugar. Por que não para cá?", disse à Folha Greg Smith, diretor-executivo de Desenvolvimento Econômico de Hardin e promotor da iniciativa.
O projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal local, mas Hardin ainda não recebeu nenhuma resposta formal da Casa Branca. Não ajudou o fato de os representantes de Montana no Congresso não apoiarem o projeto -o senador democrata Max Baucus, por exemplo, declarou que não permitiria que mandassem "membros da Al Qaeda" para seu Estado.

Dificuldade econômica
A prefeitura de Hardin quer oferecer apenas a estrutura prisional, deixando ao governo federal sua administração. Smith estima que a iniciativa promova no mínimo 105 postos de trabalho para a cidade -número significativo em um condado que tem taxas de desemprego ao redor de 10% (contra estimados 9,4% em todos os EUA). "Nossa economia já andava mal antes da crise", disse Smith.
O diretor econômico diz que nenhuma pesquisa de opinião formal foi feita em Hardin sobre o tema, mas que ele tem escutado reações diversas entre os moradores. "A maioria das pessoas entende por que tomamos essa iniciativa", afirmou.
Os aposentados Bill e Clara Eshleman, moradores de Hardin, declararam à agência Associated Press (AP) que querem que o presídio local seja colocado em uso, mas não com detentos de Guantánamo. "São os piores dos piores", opinou Clara.
Mas há quem veja nisso um trunfo. "A quantidade de soldados e advogados que [a iniciativa] traria para cá seria incrível", disse à AP Clint Carleton, dono de um restaurante -geralmente vazio- em Hardin.
"Estaria mais preocupado com um criminoso sexual andando pelas minhas ruas do que com um cara que seja um terrorista internacional. Esse não iria fugir, entrar num supermercado, roubar umas cervejas e sentar no parque."


Com agências internacionais


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