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Favoritos só concordam sobre Irã nuclear
Ex-premiê Mousavi, principal rival de Ahmadinejad, promete dialogar com EUA e reverter "estragos" da atual política externa
"Fiel da balança" no pleito de sexta, aiatolá dá sinais dúbios entre reformista
e ultraconservador, que disputa novo mandato
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Ao discursar no Cairo para o
mundo islâmico, o presidente
dos EUA, Barack Obama, disse
que negar o Holocausto é "ignorante e odioso" e propôs diálogo, sem negar um Irã nuclear.
Foi sua maneira de participar
na eleição presidencial do Irã,
que acontece na sexta. Os dois
candidatos favoritos recusam-se a sustar o programa nuclear
da República Islâmica, mas diferem em quase todo o resto.
O ex-premiê Mir Hossein
Mousavi, 68, promete dialogar
com os EUA e reverter "os pesados estragos infligidos ao Irã
pela sua atual política externa".
Mousavi tenta impedir a reeleição do ultraconservador presidente Mahmoud Ahmadinejad, 53, que chegou ao poder em
2005 negando o Holocausto e
atacando os EUA e Israel.
Os dois protagonizaram um
debate agressivo na última
quarta-feira, o primeiro da história do país entre candidatos.
Ahmadinejad acusou Mousavi de ser o candidato da elite e
de integrar um complô dos "poderosos", como chamou os ex-presidentes Mohammad Khatami (1997-2005) e Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997),
"todos corruptos". Citou nominalmente os filhos de Rafsanjani como gente que "enriqueceu
no poder".
Já Mousavi disse que o atual
presidente deixou o Irã "sem
um único amigo na região" e
que, ao negar o Holocausto,
"criou tensões com vários países e minou nossa dignidade".
"Sua política externa foi
"aventureira, exibicionista, extremista e instável", acusou.
"Nosso passaporte foi rebaixado ao nível do da Somália."
A agressividade de Ahmadinejad no debate foi repreendida pelo supremo líder político e
religioso, aiatolá Ali Khamenei.
"Não gosto de ver um candidato difamar os outros apenas
para se destacar", disse, em discurso na quinta pelos 20 anos
da morte do aiatolá Khomeini,
líder espiritual da Revolução.
Reaproximação
Analistas políticos iranianos
concordam que é impossível se
tornar presidente sem o beneplácito do líder supremo.
Khamenei já demonstrou
seu apreço por Ahmadinejad
diversas vezes no passado. Sua
chegada ao poder, após a morte
do aiatolá Ruhollah Khomeini
(1900-1989), coincidiu com a
saída de Mousavi da política -o
cargo de premiê foi extinto.
Mas, no início de maio, o aiatolá foi à casa de Mousavi visitar o pai do candidato, que não
se encontrava bem de saúde
-visita interpretada como sinal da reaproximação dos dois.
Para observadores, o aiatolá
pode pensar que o moderado e
discreto Mousavi é o homem
para negociar com Obama, como Ahmadinejad era o homem
para vociferar contra Bush.
A despeito de ter oposto só os
dois favoritos -há outros dois
candidatos (um reformista, outro conservador) que correm
por fora na eleição presidencial-, a audiência do debate
chegou a 45 milhões de iranianos, de um total de 68 milhões.
A última pesquisa nacional
dá vantagem de quase 20 pontos percentuais para Ahmadinejad, mas sondagens não são
muito confiáveis no país -a vitória do atual presidente não
foi prevista pelos institutos.
O debate pode ter representado a virada de Mousavi sobre
o popular presidente. Mesmo
que vença, porém, é uma incógnita se fará as reformas desejadas pela juventude urbana de
Teerã, que o apoia.
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