São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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Favoritos só concordam sobre Irã nuclear

Ex-premiê Mousavi, principal rival de Ahmadinejad, promete dialogar com EUA e reverter "estragos" da atual política externa

"Fiel da balança" no pleito de sexta, aiatolá dá sinais dúbios entre reformista e ultraconservador, que disputa novo mandato

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Ao discursar no Cairo para o mundo islâmico, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que negar o Holocausto é "ignorante e odioso" e propôs diálogo, sem negar um Irã nuclear.
Foi sua maneira de participar na eleição presidencial do Irã, que acontece na sexta. Os dois candidatos favoritos recusam-se a sustar o programa nuclear da República Islâmica, mas diferem em quase todo o resto.
O ex-premiê Mir Hossein Mousavi, 68, promete dialogar com os EUA e reverter "os pesados estragos infligidos ao Irã pela sua atual política externa".
Mousavi tenta impedir a reeleição do ultraconservador presidente Mahmoud Ahmadinejad, 53, que chegou ao poder em 2005 negando o Holocausto e atacando os EUA e Israel.
Os dois protagonizaram um debate agressivo na última quarta-feira, o primeiro da história do país entre candidatos.
Ahmadinejad acusou Mousavi de ser o candidato da elite e de integrar um complô dos "poderosos", como chamou os ex-presidentes Mohammad Khatami (1997-2005) e Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997), "todos corruptos". Citou nominalmente os filhos de Rafsanjani como gente que "enriqueceu no poder".
Já Mousavi disse que o atual presidente deixou o Irã "sem um único amigo na região" e que, ao negar o Holocausto, "criou tensões com vários países e minou nossa dignidade".
"Sua política externa foi "aventureira, exibicionista, extremista e instável", acusou. "Nosso passaporte foi rebaixado ao nível do da Somália."
A agressividade de Ahmadinejad no debate foi repreendida pelo supremo líder político e religioso, aiatolá Ali Khamenei.
"Não gosto de ver um candidato difamar os outros apenas para se destacar", disse, em discurso na quinta pelos 20 anos da morte do aiatolá Khomeini, líder espiritual da Revolução.

Reaproximação
Analistas políticos iranianos concordam que é impossível se tornar presidente sem o beneplácito do líder supremo.
Khamenei já demonstrou seu apreço por Ahmadinejad diversas vezes no passado. Sua chegada ao poder, após a morte do aiatolá Ruhollah Khomeini (1900-1989), coincidiu com a saída de Mousavi da política -o cargo de premiê foi extinto.
Mas, no início de maio, o aiatolá foi à casa de Mousavi visitar o pai do candidato, que não se encontrava bem de saúde -visita interpretada como sinal da reaproximação dos dois.
Para observadores, o aiatolá pode pensar que o moderado e discreto Mousavi é o homem para negociar com Obama, como Ahmadinejad era o homem para vociferar contra Bush.
A despeito de ter oposto só os dois favoritos -há outros dois candidatos (um reformista, outro conservador) que correm por fora na eleição presidencial-, a audiência do debate chegou a 45 milhões de iranianos, de um total de 68 milhões.
A última pesquisa nacional dá vantagem de quase 20 pontos percentuais para Ahmadinejad, mas sondagens não são muito confiáveis no país -a vitória do atual presidente não foi prevista pelos institutos.
O debate pode ter representado a virada de Mousavi sobre o popular presidente. Mesmo que vença, porém, é uma incógnita se fará as reformas desejadas pela juventude urbana de Teerã, que o apoia.


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