São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011

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ANÁLISE

Candidatura europeia mostra o G8 mais vivo do que nunca

MATIAS SPEKTOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

O G20 acumula sucessos. Diante da crise financeira iniciada há três anos, coordenou estímulos nacionais, evitou uma corrida protecionista e atualizou o sistema de votos no FMI e Banco Mundial para dar mais peso aos países emergentes.
Mas, à sombra de sua vitória, trava-se um embate entre as potências europeias do G8 e os países emergentes representados nos Brics.
Os primeiros buscam reter as rédeas do sistema financeiro internacional. Os segundos querem traduzir seu novo peso econômico em influência e capacidade de ditar as regras do jogo. Alguma tensão entre esses grupos é inevitável e será cada vez mais comum.
Por isso é tão importante que o Brasil avalie o cenário com realismo. É preciso deixar de lado a tentação real de superestimar a benevolência do que vem por aí. "O G8 está morto" faz parte dessa avaliação triunfalista que, além de estéril, está errada.
O G8 está mais vivo do que nunca.
A tropa é liderada pela Europa, que mais tem a perder com a ascensão política de novas potências do mundo em desenvolvimento.
Para isso, o G8 conta com a vantagem comparativa de possuir longa memória institucional, expertise, agilidade e acesso privilegiado a fontes de informação e influência, bancos, "hedge funds" e a Casa Branca.
A mais recente demonstração de força do G8 foi o lançamento da candidatura de Christine Lagarde à diretoria-geral do FMI, posição cerrada da Europa com anuência americana.
A ministra é habilidosa e tem amplas qualificações, mas certamente não trará nem a legitimidade nem a independência de que o FMI precisa na nova constelação econômica global.
O G8 não morrerá tão cedo nem será absorvido pelo G20 no horizonte imediato.
O Brasil precisará aprender a operar num mundo no qual é credor, mas sua capacidade de ter voz, voto e veto será limitada e, muitas vezes, contestada.
Aí reside a importância dos Brics. Ainda é cedo para saber se o grupo vingará. Mas sua estrutura é suficientemente informal e ágil para se transformar em contrapeso ao G8.
Mesmo que não consiga articular uma visão alternativa e coerente de ordem financeira global, trata-se da melhor plataforma para reformar as regras e as instituições que governam as finanças internacionais, acabando com alguns privilégios exorbitantes que são cada vez menos justificados.
E para trazer a perspectiva de quem, há menos de uma geração, era gigantesco devedor.

MATIAS SPEKTOR é coordenador do Centro de Relações Internacionais da FGV (http://cpdoc.fgv.br/ri)


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