São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Qadir era um dos três vices de Karzai e morte realça instabilidade; EUA admitem que mataram civis

Emboscada mata vice-presidente afegão

Associated Press
Policial afegão ao lado do carro emboscado do vice-presidente Abdul Qadir, no centro de Cabul


DA REDAÇÃO

Um dos três vice-presidentes afegãos, Haji Abdul Qadir, foi assassinado a tiros ontem em plena luz do dia na capital, Cabul, desferindo novo golpe contra os esforços do presidente Hamid Karzai de conduzir o explosivo país em direção a eleições pacíficas.
Veterano comandante militar e líder da etnia majoritária pashtu, como Karzai, Qadir foi morto em seu próprio carro, numa emboscada realizada dentro do terreno de seu gabinete, no centro.
O chefe de polícia de Cabul, Basir Salangi, relatou que dois pistoleiros dispararam cerca de 36 tiros contra o carro. Testemunhas contaram que o motorista também foi morto e que os assassinos fugiram de táxi. "O motivo do crime não está claro", disse Salangi.
Qadir era também ministro das Obras Públicas e figura-chave na tentativa de Karzai de obter apoio na estratégica Província oriental de Nangahar, onde o terrorista saudita Osama bin Laden montou sua base no início dos anos 1990. Ele era um dos poucos líderes pashtus a integrar a Aliança do Norte, dominada pelos tadjiques, que entrou em Cabul em novembro passado, com a ajuda dos EUA, para depor a milícia extremista Taleban, seu adversário de longa data e protetora de Bin Laden.
Seu assassinato ilustra o tipo de problema enfrentado por Karzai apenas semanas depois que a Loya Jirga, ou grande assembléia de líderes afegãos, aprovou um novo gabinete incumbido de liderar o país após 23 anos de guerra, preparando-o para as eleições marcadas para daqui a 18 meses. A assembléia teve dificuldade em encontrar um governo que fosse aceitável ao mesmo tempo para a maioria pashtu, a Aliança do Norte e os diversos comandantes locais.
"Se o governo cair, o país vai novamente descambar na guerra civil do norte contra o sul", disse à TV britânica Sky o historiador Martin McCauley.
Em fevereiro passado o ministro do Turismo, Abdul Rehman, foi morto no aeroporto, em circunstâncias ainda obscuras.
Salangi disse que dez guardas que faziam a segurança de Qadir foram detidos ontem.
Representantes da Força Internacional de Assistência em Segurança, em Cabu,l para ajudar a manter a paz, disseram que estão investigando o crime. O irmão de Qadir, o comandante Abdul Haq, foi morto pelo Taleban pouco depois do início dos ataques aéreos lançados pelos EUA no ano passado para punir o Taleban por não entregar Bin Laden.
O presidente dos EUA, George W. Bush, condenou o assassinato e ofereceu ajuda para esclarecer o crime. "O governo e o nosso país lamentam a perda de um homem que desejava a liberdade e a estabilidade", disse ele. "Existem várias hipóteses sobre quem pode ter ordenado o assassinato", acrescentou o presidente.

Investigação
Os EUA reconheceram ontem que houve baixas civis durante bombardeio na região central do Afeganistão e prometeram uma investigação formal do incidente. O inquérito preliminar não chegou a nenhuma conclusão firme. O general Dan McNeill e o ministro do Exterior afegão, Abdullah Abdullah, disseram que a investigação vai ajudar a prevenir mais mortes de civis no futuro. Mas McNeill insistiu que aviões americanos foram alvos de disparos de armas antiaéreas na região bombardeada, e Abdullah prometeu que a tragédia não vai afetar o apoio da população ou do governo à campanha militar americana para capturar Bin Laden e membros de sua rede terrorista, a Al Qaeda.
""Determinamos que houve baixas civis", disse McNeill, depois que uma equipe conjunta americana-afegã retornou da área. ""Vamos iniciar a investigação formal completa para determinar o que causou essas baixas civis e o que podemos fazer ou implementar para garantir que elas não voltem a acontecer." Ele disse que afegãos informaram que 48 pessoas morreram e 117 ficaram feridas no bombardeio a vários povoados na Província central de Uruzgan, na madrugada de 1º de julho. Ele acrescentou que a equipe de investigação americana-afegã não pôde ver os corpos, que já tinham sido enterrados, nem confirmar o número de mortos.
Moradores de povoados em Uruzgan disseram que estavam apenas disparando fuzis no ar para comemorar uma festa de casamento, como manda a tradição.

Com agências internacionais


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