São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004

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ELEIÇÕES NOS EUA

Virtual candidato democrata terá político pouco experiente, mas carismático e eloqüente, em sua chapa

Kerry escolhe senador sulista para vice

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O virtual candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry, anunciou ontem a escolha do senador John Edwards, 51, da Carolina do Norte, para ser o candidato a vice-presidente de sua chapa.
Edwards disputou as primárias do Partido Democrata e perdeu para Kerry. Ele traz equilíbrio geográfico para a chapa por ser de um Estado do sul -mais conservador-, onde George W. Bush tem se saído bem nas pesquisas. Kerry é de Massachusetts, Estado de uma das regiões mais progressistas do país -nordeste.
Mas analistas ouvidos pela Folha afirmam que a principal contribuição de Edwards está no estilo político -o sulista tem mais carisma, afirmam. Kerry classificou seu parceiro na disputa de uma pessoa "com coragem, determinação e talento político".
"Tenho o prazer de anunciar que, com a ajuda de vocês [eleitores], o próximo vice-presidente dos EUA será o senador John Edwards, da Carolina do Norte", declarou, em Pittsburgh, ao mesmo tempo em que um cartaz era levantado na platéia: "Kerry e Edwards. Uma América mais forte".
O candidato democrata disse que o advogado (ficou rico exercendo a profissão) Edwards era um defensor da classe média e "daqueles que estão lutando para fazer parte da classe média".
Edwards fez uma campanha nas primárias do Partido Democrata classificada por muitos analistas de "populista", pois concentrou suas propostas na recuperação econômica dos trabalhadores e fez referências a "duas Américas" -um país dividido entre os mais ricos e os mais pobres.
Edwards disse ter aceitado humildemente o convite e estar entusiasmado. Ele se encontraria com Kerry ontem à noite, e os dois devem ir juntos a Ohio -um dos mais importantes Estados na campanha deste ano- hoje.
Bush saudou a entrada de Edwards na campanha: "O vice-presidente [Dick Cheney] ligou para ele hoje pela manhã para dizer que era bem-vindo à campanha, e eu também digo isso. Anseio por uma boa e animada disputa".
Kerry manteve a escolha em segredo até o último minuto. Na quinta-feira passada, encontrou-se com Edwards em Washington. Só na noite de segunda-feira, ele anunciou a seus assessores mais próximos sua decisão.
Mary Beth Cahill, da cúpula do comitê de campanha democrata, disse que o número inicial de possíveis candidatos a vice chegava a 25. Às 7h30 de hoje, Kerry ligou para Edwards, em Washington, para formalizar o convite.
Kerry e Edwards votaram a favor da Guerra do Iraque, mas não tiveram uma posição comum em relação ao acordo de livre comércio com o México e o Canadá -Kerry votou a favor, e seu agora companheiro de chapa, contra. O virtual candidato democrata é contrário à pena de morte, enquanto Edwards apóia a medida.
Para Nancy Roman, chefe do escritório de Washington do Council on Foreign Relations, tradicional centro de estudos americano, Edwards tem a seu favor o dom da palavra e certo apelo popular.
"Kerry não tem nenhum carisma", diz. Mas Edwards teria "pontuação baixa" para substituir Kerry. "Ele ainda não completou nem o primeiro mandato como senador e é uma das pessoas menos qualificadas em temas de política internacional", diz Roman.
Ela e Graham Dodds, do Instituto Brookings, acham difícil que Edwards consiga fazer diferença nas eleições no sul do país. Ambos chegam a dizer que nem mesmo em seu Estado, a Carolina do Norte, Kerry deve sair vencedor -Bush venceu lá em 2000.
Mas a importância da escolha do vice para o pleito é minimizada pelos analistas. "No final das contas, as pessoas votam é no presidente", diz Roman.


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