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ÁSIA
Segundo estudo da Human Rights Watch, dezenas de responsáveis por crimes de guerra são hoje da elite política do Afeganistão
Criminosos estão no governo afegão, diz ONG
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Diversos membros da cúpula
do atual governo do Afeganistão
protagonizaram "terríveis violações aos direitos humanos e crimes de guerra" no início da década de 90, de acordo com um relatório divulgado ontem pela organização Human Rights Watch.
O texto, de 133 páginas, chamado "Blood-Stained Hands: Past
Atrocities in Kabul and Afghanistan's Legacy of Impunity" (mãos
manchadas de sangue: atrocidades passadas em Cabul e o legado
de impunidade do Afeganistão),
tem como base uma abrangente
pesquisa realizada pela HRW nos
últimos dois anos. O texto incluiu
mais de 150 entrevistas com testemunhas, sobreviventes, autoridades e combatentes afegãos.
O relatório documenta violações e crimes ocorridos "durante
um ano particularmente sangrento da guerra civil -o ano de 1371
no calendário afegão, de abril de
1992 a março de 1993, logo após o
colapso, em Cabul, do governo de
[Mohammad] Najibullah, que era
apoiado pelos soviéticos".
"Há duas razões para publicar
um texto tão detalhado. A primeira é um princípio: os criminosos
de guerra não devem ter a possibilidade de escapar à Justiça, porque cometeram ações muito graves, destruíram Cabul e mataram
indiscriminadamente dezenas de
milhares de pessoas ou ainda
mais", explicou à Folha Brad
Adams, diretor-executivo da Divisão Ásia da HRW.
"A segunda é uma questão prática: muitos dos criminosos afegãos ainda estão no poder, e desde a Convenção de Bonn, em dezembro de 2001, reina uma espécie de conspiração do silêncio,
que, direta ou indiretamente, autoriza sua permanência no poder.
E, ainda mais importante, a população afegã deseja que os criminosos respondam judicialmente por
seus atos", acrescentou Adams.
Entre as dezenas de nomes
apontados pela HRW figuram o
de Abdul Rabb al Rasul Sayyaf
-o líder da facção armada Ittihad-e Islami-, que é conselheiro
do presidente Hamid Karzai, tem
forte influência sobre o Judiciário
e conta com vários aliados no governo, e o de Abdul Rashid Dostum, senhor da guerra, chefe do
grupo Junbish-e Milli e alto funcionário do Ministério da Defesa.
Além deles, a HRW também citou Mohammad Qasim Fahim,
um dos homens mais influentes
do Afeganistão, que foi ministro
da Defesa de 2001 a 2004 e comanda as milícias Jamiat-e Islami e
Shura-e Nazar, e Karim Khalili,
comandante do grupo Hezb-e
Wahdat, que, atualmente, é um
dos dois vices de Karzai.
A organização de defesa dos direitos humanos mencionou ainda
várias outras figuras políticas afegãs, que estiveram no governo de
transição (2001-04) ou são candidatas a postos no Legislativo na
eleição marcada para setembro.
Segundo Adams, "não seria difícil levar os criminosos de guerra
à Justiça se houvesse vontade política" internacional. "A posição
americana é crucial, e a do Conselho de Segurança da ONU, relevante. Se Washington, que conta
com milhares de militares no Afeganistão, quiser prender os criminosos de guerra, isso será feito em
pouco tempo, pois o paradeiro da
maioria deles é conhecido".
"O problema é o "pragmatismo
político" americano. Assim, a
ONU deveria pressionar a comunidade internacional, sobretudo
os EUA, a tomar uma atitude clara em relação aos crimes ocorridos no Afeganistão. Senão, os afegãos se sentirão abandonados pelo mundo nas mãos de senhores da guerra", acrescentou Adams.
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