São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

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Calderón é declarado vencedor no México

Resultado precisa ser ratificado por tribunal eleitoral; López Obrador anuncia que levará questão à Justiça e massas às ruas

Recontagem das atas coloca vantagem do conservador em 236 mil votos; segundo analistas, pleito consolida país dividido como nunca

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL
À CIDADE DO MÉXICO

Após uma tensa espera, o Instituto Federal Eleitoral do México declarou na noite de ontem que o conservador Felipe Calderón venceu a eleição presidencial disputada no último domingo. Seu adversário, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, afirmou que pedirá a impugnação da eleição e a recontagem "voto por voto".
"Felipe Calderón é o vencedor. A regra de ouro da democracia estabelece que ganha o candidato que tiver o maior número de votos", declarou Luis Carlos Ugalde, conselheiro-presidente do IFE. "Em uma eleição limpa e transparente, os cidadãos manifestaram sua vontade e o fizeram por uma margem bem estreita. Foi a eleição mais competitiva da história moderna do México."
O anúncio foi feito após o fim da contagem oficial das atas das 130 mil seções eleitorais mexicanas. A diferença entre os dois candidatos ficou ainda um pouco menor que a apontada pela apuração preliminar -Calderón teve 0,57 ponto percentual a mais do que López Obrador, ou 236.006 votos em um total de 41 milhões de votos. O candidato do PAN teve 15,284 milhões de votos, enquanto López Obrador teve 14,756 milhões. Há 71 milhões de eleitores no México, mas o voto não é obrigatório e não há segundo turno.
""Sou um democrata, chegou a hora dos acordos", disse Calderón, ex-ministro da Energia do presidente Vicente Fox, comemorando a vitória antes do pronunciamento de Ugalde.
Seu adversário deve pedir a impugnação do pleito. "Pedi que fizessem a contagem com calma, e fizeram o oposto, às pressas. Em 24 horas, contaram tudo. E esta é uma eleição indefinida, não existe vantagem de ninguém", afirmou López Obrador. Ex-prefeito da Cidade do México, ele convocou uma manifestação para a tarde deste sábado no Zócalo, praça principal da Cidade do México e seu tradicional reduto.
Cada vez mais a votação mexicana se parece com a eleição americana de 2000, quando George W. Bush venceu Al Gore por decisão da Corte Suprema. No México, o vencedor só terá o status de presidente eleito quando o Tribunal Federal Eleitoral (Trife) tiver respondido ao último recurso de impugnação e declarar a eleição válida -o prazo para isso vai até 6 de setembro. O Trife é a última instância e sua decisão é inapelável, pela lei mexicana.
"Ninguém deve se alarmar com o pedido de impugnação, ele está previsto na lei", diz José Woldenberg, que dirigiu o Instituto Federal Eleitoral (IFE) nas eleições anteriores. "Mas não pode haver negociação política para o resultado".
López Obrador acusou o IFE de manipular as informações da apuração preliminar para declarar Calderón vencedor antes da hora ao não revelar que 3 milhões de votos não haviam sido contabilizados nessa primeira apuração. Só depois o IFE admitiu que 2,5 milhões não tinham sido contados. Segundo o instituto, todos os partidos políticos sabiam que as atas com irregularidades não haviam entrado na totalização. Além disso, na noite de domingo, quando se esperava que o IFE divulgasse o resultado da apuração rápida, Ugalde se negou a declarar o resultado, alegando que a diferença era menor que a margem de erro.

País dividido
"Esta é a primeira eleição mexicana em que fica clara a divisão do país entre direita e esquerda. Em 2000, a eleição foi mais plebiscitária, entre a continuidade do PRI e a alternância", diz o professor Alberto Arnaut, do Colégio do México, reputada faculdade de ciências sociais e políticas do país.
Segundo o professor, não houve irregularidades aparentes na votação, endossada por observadores internacionais, nem na apuração, mas "erros na difusão de informação".
Para o analista politico e economista Jorge Zepeda Patterson, "o Trife precisa oferecer provas que deixem tranqüilos vencedores e derrotados".
A Bolsa de Valores subiu 2,77%. Zepeda acha que os investidores vêem, a curto prazo, mais estabilidade em Calderón. "Mas, a longo prazo, se ele não tiver sensibilidade para atender os interesses dos mais pobres, este país vai explodir."


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