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Calderón é declarado vencedor no México
Resultado precisa ser ratificado por tribunal eleitoral; López Obrador anuncia que levará questão à Justiça e massas às ruas
Recontagem das atas coloca vantagem do conservador em 236 mil votos; segundo analistas, pleito consolida país dividido como nunca
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL
À CIDADE DO MÉXICO
Após uma tensa espera, o
Instituto Federal Eleitoral do
México declarou na noite de
ontem que o conservador Felipe Calderón venceu a eleição
presidencial disputada no último domingo. Seu adversário, o
esquerdista Andrés Manuel
López Obrador, afirmou que
pedirá a impugnação da eleição
e a recontagem "voto por voto".
"Felipe Calderón é o vencedor. A regra de ouro da democracia estabelece que ganha o
candidato que tiver o maior número de votos", declarou Luis
Carlos Ugalde, conselheiro-presidente do IFE. "Em uma
eleição limpa e transparente, os
cidadãos manifestaram sua
vontade e o fizeram por uma
margem bem estreita. Foi a
eleição mais competitiva da
história moderna do México."
O anúncio foi feito após o fim
da contagem oficial das atas das
130 mil seções eleitorais mexicanas. A diferença entre os dois
candidatos ficou ainda um pouco menor que a apontada pela
apuração preliminar -Calderón teve 0,57 ponto percentual
a mais do que López Obrador,
ou 236.006 votos em um total
de 41 milhões de votos. O candidato do PAN teve 15,284 milhões de votos, enquanto López
Obrador teve 14,756 milhões.
Há 71 milhões de eleitores no
México, mas o voto não é obrigatório e não há segundo turno.
""Sou um democrata, chegou
a hora dos acordos", disse Calderón, ex-ministro da Energia
do presidente Vicente Fox, comemorando a vitória antes do
pronunciamento de Ugalde.
Seu adversário deve pedir a
impugnação do pleito. "Pedi
que fizessem a contagem com
calma, e fizeram o oposto, às
pressas. Em 24 horas, contaram tudo. E esta é uma eleição
indefinida, não existe vantagem de ninguém", afirmou López Obrador. Ex-prefeito da Cidade do México, ele convocou
uma manifestação para a tarde
deste sábado no Zócalo, praça
principal da Cidade do México
e seu tradicional reduto.
Cada vez mais a votação mexicana se parece com a eleição
americana de 2000, quando
George W. Bush venceu Al Gore por decisão da Corte Suprema. No México, o vencedor só
terá o status de presidente eleito quando o Tribunal Federal
Eleitoral (Trife) tiver respondido ao último recurso de impugnação e declarar a eleição válida -o prazo para isso vai até 6
de setembro. O Trife é a última
instância e sua decisão é inapelável, pela lei mexicana.
"Ninguém deve se alarmar
com o pedido de impugnação,
ele está previsto na lei", diz José Woldenberg, que dirigiu o
Instituto Federal Eleitoral
(IFE) nas eleições anteriores.
"Mas não pode haver negociação política para o resultado".
López Obrador acusou o IFE
de manipular as informações
da apuração preliminar para
declarar Calderón vencedor
antes da hora ao não revelar
que 3 milhões de votos não haviam sido contabilizados nessa
primeira apuração. Só depois o
IFE admitiu que 2,5 milhões
não tinham sido contados. Segundo o instituto, todos os partidos políticos sabiam que as
atas com irregularidades não
haviam entrado na totalização.
Além disso, na noite de domingo, quando se esperava que o
IFE divulgasse o resultado da
apuração rápida, Ugalde se negou a declarar o resultado, alegando que a diferença era menor que a margem de erro.
País dividido
"Esta é a primeira eleição
mexicana em que fica clara a divisão do país entre direita e esquerda. Em 2000, a eleição foi
mais plebiscitária, entre a continuidade do PRI e a alternância", diz o professor Alberto Arnaut, do Colégio do México, reputada faculdade de ciências
sociais e políticas do país.
Segundo o professor, não
houve irregularidades aparentes na votação, endossada por
observadores internacionais,
nem na apuração, mas "erros
na difusão de informação".
Para o analista politico e economista Jorge Zepeda Patterson, "o Trife precisa oferecer
provas que deixem tranqüilos
vencedores e derrotados".
A Bolsa de Valores subiu
2,77%. Zepeda acha que os investidores vêem, a curto prazo,
mais estabilidade em Calderón.
"Mas, a longo prazo, se ele não
tiver sensibilidade para atender os interesses dos mais pobres, este país vai explodir."
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